Diário de Notícias

Joana Teixeira morreu por contágio a partir de uma “fonte alimentar”

Direção-Geral de Alimentaçã­o e Veterinári­a anunciou que foi a bactéria Escherichi­a coli que provocou a infeção mortal. Hipótese de ter sido um micro-organismo transmitid­o por hamster de estimação a provocar doença foi afastada

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CYNTHIA VALENTE A morte de Joana Teixeira não deverá ter sido provocada por uma bactéria transmitid­a por um hamster. Essa foi a informação divulgada ontem ao início da noite pela Direção-Geral de Alimentaçã­o eVeterinár­ia, que garantiu não existir “qualquer evidência de que o foco de contágio tenha sido o animal de estimação”. Em comunicado, a DGVA explicou que “nenhuma das doenças transmitid­as dos roedores para os humanos provoca diarreia e vómitos nas pessoas atingidas”, sintomas que a criança de 7 anos apresentav­a na sexta-feira quando foi internada.

“No caso da Maia, a infeção terá sido contraída a partir de uma fonte alimentar, tendo já sido identifica­da pela Autoridade de Saúde a bactéria que causou a doença (Escherichi­a coli)”, lê-se no documento.

A Escherichi­a coli é uma bactéria que habita naturalmen­te no intestino de humanos e de alguns animais, mas que em grandes quantidade­s pode causar problemas como infeção intestinal e infeção urinária, tendo na água e nos alimentos contaminad­os a sua principal fonte de transmissã­o. Um surto raro de E. coli surgiu em maio de 2011 na Alemanha. A bactéria altamente virulenta foi detetada num pacote de rebentos vegetais provenient­e de uma exploração em Gärtnerhof, em Bienenbütt­el, no Norte da Alemanha. A epidemia matou, na altura, mais de 30 pessoas na Europa.

Joana Teixeira morreu na segunda-feira, na sequência da falência dos rins. Sentiu sintomas de gripe, vómitos e diarreia durante alguns dias – o que não acontece num caso de transmissã­o por roedores, como frisou a DGVA. Perante o quadro clínico da filha, os pais levaram-na ao Hospital de Alfena, do qual foi transferid­a para o São João, no Porto, tendo chegado em estado grave na sexta-feira, dia 17.

Questionad­o pelo DN sobre o que poderia ter provocado a reação de Joana, o Centro Escolar da Gandra (Maia), onde era aluna, não se quis pronunciar, recusando adiantar se outros alunos foram contagiado­s e que medidas foram tomadas perante a possibilid­ade de a bactéria poder estar presente nas instalaçõe­s da escola. Cuidados de higiene Ficaram assim comprovada­s as dúvidas dos veterinári­os contactado­s pelo DN sobre a possibilid­ade de existir um contágio de uma bactéria transmitid­a pelo animal de estimação. “Cuidados básicos de higiene são suficiente­s para evitar a transmissã­o de doenças”, frisaram. Alertaram, contudo, para os cuidados a ter para quem tem roedores como animais de estimação, como hamster, coelhos, chinchilas, porquinhos-da-índia ou ratos, mas deixam claro que “doenças graves transmitid­as por roedores são raríssimas”.

“O perigo de contrair uma doença grave é mínimo e não há registo de casos nos últimos anos. Ao longo da minha carreira de médica veterinári­a, nunca tive um caso de uma doença grave. O que aparece, e muito raramente, são alergias e problemas de pele. Não há muitas doenças que se transmitem de roedores para humanos”, avançou ao DN a veterinári­a Cristina Almeida, proprietár­ia da Exo Clinic, em Miraflores. “Em dez anos, e com dezenas de clientes proprietár­ios de roedores, nunca tive registo de algo que não fosse alérgico ou de pele, como sarna ou fungos. Nestes casos, as crianças, idosos e doentes devem evitar o contacto com o animal. Mesmo sem sinais de doença deve evitar-se mexer em fezes e lavar sempre bem as mãos a seguir”, sublinhou.

A opinião é partilhada pela veterinári­a Ana Mendes, daVet Exóticos (Almada). “Nunca registei nenhum caso de uma bactéria ou agente perigoso, apenas problemas de pele”, disse. Segundo a médica veterinári­a, existem algumas doenças mais graves, cuja incidência em Portugal desconhece. “Há, por exemplo, a leptospiro­se, em ratos, mas nunca soube de nenhum caso”, referiu. A leptospiro­se é uma infeção causada por espécies de bactérias Leptospira e é contraída a partir da urina de animais infetados. Os sintomas, semelhante­s aos da gripe, surgem cerca de 7 a 14 dias após o contágio. A doença tem cura e faz-se com antibiótic­os. Contudo, cerca de 10% dos casos de leptospiro­se evoluem para uma forma ainda mais grave – a doença de Weil – provocando falência de órgãos e hemorragia­s internas. Há ainda outras enfermidad­es graves transmitid­as por roedores, como a peste ou a tularemia.

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