CGTP: “Hoje há mais contestação porque frustraram as pessoas”
Arménio Carlos, secretário-geral da maior força sindical do país, falou em entrevista telefónica sobre a força das greves no país. Por que razão há uma quebra tão grande no número de trabalhadores em greve, em 2016, no privado? O ano de 2016 foi o da mudança de governo. Logo no início houve algumas medidas de reposição de direitos, como os quatro feriados, o início da discussão sobre a suspensão dos processos de caducidade da contratação coletiva. Foram aspetos que deram expectativas diferentes aos trabalhadores e que acabaram por levar à diminuição na adesão à greve. E tivemos a reposição do pagamento do trabalho extraordinário, rompendo com a troika, a eliminação da sobretaxa do IRS e a introdução de um escalão no abono de família. Havia mais esperança? Foram criadas expectativas de que as coisas iam melhorar. Mas, pelo que sabemos do terreno, a redução na intensidade da reivindicação e das greves foi apenas temporária. Mais descontentamento porquê? Na contratação coletiva houve um primeiro sinal de abertura, mas a situação continua por resolver. Precisamos de mais contratação coletiva, de melhores salários e condições de trabalho, de menos assédio aos trabalhadores. Como é que está a correr 2017 em termos de apelos à greve? As coisas estão muito diferentes. Há mais contestação nas ruas, mais manifestações e, no primeiro semestre, os nossos dados internos indicam 308 pré-avisos de greve, dos quais 238 no setor privado, o que equivale a mais de 77% do total. Há mais contestação porque frustraram as expectativas das pessoas. Esses valores são maiores ou menores do que os de 2016? Não temos dados homólogos, mas em 2016 o número de pré-avisos (público e privado) foi de 487. Proporcionalmente, a contestação é maior. Ou seja, em metade de 2017 já foram feitos dois terços do número de pré-avisos de 2016. Fala em frustração de expectativas. Pode dar exemplos? Há uma frustração grande na contratação coletiva, ataques constantes à formação dos salários e a desregulação dos horários. A tentativa de várias empresas em introduzir a semana de seis dias de trabalho, em fazer do sábado um dia normal de trabalho. Como no caso da Autoeuropa. Sim, que é o caso mais mediático, mas há mais no país. O aumento da precariedade leva a uma menor adesão à greves? Sim, é um problema grande. Significa mais assédio do empregador sobre os empregados, um forte condicionamento na adesão dos trabalhadores, dos mais jovens, por exemplo, a lutas comuns e a greves. Hoje há menos sindicalizados? A intensidade das reivindicações está a crescer, frustradas que foram as expectativas dos trabalhadores. E há outro problema: há um atentado constante e direto aos direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores que é a barragem que se faz aos sindicatos nas empresas. São impedidos de entrar? Cada vez mais. É um problema subestimado. Os sindicatos estão a ser impedidos de entrar em empresas, há perseguição de trabalhadores ou inviabilizam-se contratações quando se sabe que são sindicalizados. Há uma pressão grande. Fala-se muito de diálogo social, mas há um défice democrático. É uma forma de secundarizar o trabalho e de limitar direitos fundamentais. O problema é grave e já o levámos ao Presidente. A reivindicação está a aumentar mais entre os precários? Estamos a ter exemplos muito interessantes de combate à precariedade em algumas das empresas onde o problema é mais evidente. Nas de trabalho temporário, como a Randstad, a Manpower.
“Estão a barrar a entrada dos sindicatos nas empresas. O problema é grave e já o levámos ao Presidente”