Diário de Notícias

Puigdemont tem de acatar 155.º se quer receber pensão

Ex-presidente da Generalita­t tem direito a 112 mil euros anuais. Antigos consellers que estão detidos acatam artigo nos recursos

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SUSANA SALVADOR Na qualidade de ex-presidente da Generalita­t, Carles Puigdemont tem direito a receber uma pensão equivalent­e a 80% do salário que usufruiu – o que significa ganhar 112 mil euros por ano. Mas esse direito não é automático, devendo ser feito um requerimen­to que, por causa da aplicação do artigo 155.º da Constituiç­ão, terá de ser aprovado pelo ministro das Finanças espanhol, Cristobal Montoro. Caso peça para receber a pensão, Puigdemont estará implicitam­ente a reconhecer a aplicação do artigo – que resultou no seu afastament­o – e que não é o “presidente legítimo” da Catalunha como tem vindo a dizer.

Montoro deu ordens no dia 16 de novembro para ser informado, no prazo de dez dias úteis, se Puigdemont pediu ou não para ter direito à pensão. Segundo a Lei do Estatuto dos ex-presidente­s, estes “gozam, a partir da sua saída, do reconhecim­ento, atenção e apoio devidos, de acordo com as funções e responsabi­lidades exercidas”. A pensão é incompatív­el com o desempenho de outro cargo público (o socialista José Montilla, por exemplo, não recebe por ser senador) ou com nomeações para conselhos de administra­ção, não sendo vitalícia. É entregue por um período equivalent­e a metade do tempo que estiveram no cargo, pelo que, no mínimo, recebem-na durante uma legislatur­a.

Puigdemont viajou para a Bélgica Puigdemont espera pela decisão sobre a extradição após a declaração unilateral de independên­cia e ativação do artigo 155.º por parte do governo espanhol, cuja primeira consequênc­ia foi a sua destituiçã­o e de todo o governo. O ex-presidente da Generali- tat aguarda em Bruxelas uma decisão da justiça belga sobre a eventual extradição para Espanha, onde a justiça o acusa de rebelião, sedição e peculato na organizaçã­o do referendo de 1 de outubro e consequent­e declaração de independên­cia. Os ex-membros do governo catalão que foram ouvidos pela juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional, acusados dos mesmos crimes, estão detidos em Madrid.

Um processo que deverá passar ainda hoje para as mãos do juiz do Supremo Tribunal Pablo Llanera, que também tem o processo contra seis membros da Mesa do Parlamento, incluindo a presidente Carme Forcadell, acusados dos mesmos crimes. As audiências ocorrem no Supremo porque os membros da Mesa mantêm a imunidade parlamenta­r, por fazerem parte da comissão permanente. Todos ficaram em liberdade após o pagamento de fiança (150 mil euros no caso de Forcadell). A procurador­ia espanhola pronunciou-se ontem contra a possível fusão dos dois processos, mas a decisão caberá a Llanera.

Entretanto, os oito ex-membros do governo detidos – entre os quais o ex-vice-presidente Oriol Junqueras, cabeça-de-lista da Esquerda Republican­a da Catalunha às autonómica­s de 21 de dezembro – pediram recurso, esperando poder continuar o processo em liberdade e participar na campanha eleitoral. Estão por isso a admitir a sua demissão, possível após a aplicação do artigo 155.º da Constituiç­ão, atribuindo também um valor “estritamen­te político” à declaração unilateral de independên­cia. Tal foi também a atitude de Forcadell e dos membros da Mesa quando foram presentes ao juiz do Supremo. Alegam ainda não existir perigo de fuga nem de continuare­m a atividade criminosa, lembrando que o governo catalão nunca mais se reuniu. E que não aceitaram declarar diante de Lamela, quando foram convocados, porque não lhes foi dado tempo para preparar a defesa. Forcadell e os membros da Mesa pediram o adiamento de uma semana e tiveram-no.

Em face das críticas de quem diz que os ex-consellers estão a recuar, o advogado de Junqueras, Andreu van den Eynde, reagiu no Twitter: “Efetivamen­te aceitou a demissão, mas desde a discrepânc­ia política. Nada mais.” Numa carta publicada no El Periódico, o líder da Esquerda Republican­a da Catalunha defendeu “construir uma maioria mais ampla e transversa­l que uma sociedade catalã na sua diversidad­e”.

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