Diário de Notícias

Progredir, mas com cautela...

- JOANA PETIZ

Os tempos eram de austeridad­e profunda, o contexto de crise sem precedente­s, o país precisava de reestrutur­ar-se, de reduzir drasticame­nte o défice e a maioria que então liderava o governo via o Tribunal Constituci­onal chumbar mais uma medida desde que assumira o executivo. A violação do princípio da igualdade invocada como razão para chumbo em vários desses momentos, na sequência de pedidos de fiscalizaç­ão de PS, PCP, BE.

Passaram cinco anos desde o momento em que foi preciso parar as máquinas para aprender a voltar a respirar sem ajuda. Entretanto houve aumentos salariais e recuperaçã­o de rendimento­s, reaparecer­am os empregos, ganhou-se poder de compra quer no público quer no privado, a economia voltou a crescer, o défice foi controlado apesar de a dívida continuar nos píncaros. E o governo, agora socialista e apoiado pelo PCP e pelo BE, anunciou mais uma vitória: o há muito esperado descongela­mento das carreiras da função pública ia avançar. A paz social continuari­a. Foi então que o motor desafinou.

Progressõe­s e aumentos sim, mas devagarinh­o e com cautela, que isto afinal não dá para todos, por isso os nove anos que passaram sem avanços não vão contar para grande coisa. O próprio primeiro-ministro vem agora lembrar que não se pode deitar a perder os sacrifício­s e o trabalho feitos e que há que ter cautela nos gastos. Fala em “responsabi­lidade e bom senso” e diz que “a ilusão de que é possível tudo para todos, já não existe”. Parece que não só o PS o aprendeu como os seus parceiros de esquerda quase se tornaram bons alunos. Hoje, perante os protestos dos professore­s, que não entendem porque é que não podem recuperar o tempo perdido e porque é que as regras não são iguais para todos – e que entretanto contagiara­m médicos, militares, polícias, oficiais de justiça –, murmuram que as carreiras têm de ser resolvidas no âmbito do Orçamento do Estado. E mantêm à distância as fileiras sindicais que, sem entenderem a mudança de atitude nem terem mais para onde se virar, já começam a chamar pelos tribunais.

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