Diário de Notícias

O que se pode ler numa dança de cadeiras?

-

Éatípica a situação de uma grande empresa que persiste em promover uma constante dança de cadeiras. Dançar exige perceber o ritmo dos passos e das notas musicais, o ambiente da sala e a leveza dos corpos. Numa dança, os dois elementos que compõem um par são igualmente decisivos. Na Altice, estarão os acionistas e a administra­ção a ouvir melodias tão distintas que fazem que o cargo de uma CEO dure apenas quatro meses?

Cláudia Goya chegou à função de CEO da Altice há apenas quatro meses. Isso mesmo: cerca de 120 dias. Nesta segunda -feira, os jornais avançaram que terá sido demitida, mas a empresa desmentiu. E no dia seguinte (ontem), numa comunicaçã­o oficial, a gestora foi promovida à função de chair woman.

O seu antecessor , Paulo Neves, também tinha saído de CEO da Altice para chairman (e ontem acabou por deixar a Altice). A mudança, na época , foi justificad­a com a reorganiza­ção do grupo francês no mercado nacional, depois de ter avançado com uma proposta de aquisição do grupo Media Capital, negócio que está ainda a ser avaliado pela Autoridade da Concorrênc­ia e sobre o qual muita tinta e muita polémica têm corrido nos jornais.

Agora, estas segundas mudanças terão surgido pela necessidad­e de uma nova reorganiza­ção, na sequência da saída de Michel Combes da presidênci­a executiva da Altice. As alterações foram justificad­as pela empresa com a necessidad­e de “fazer evoluir a gestão da Altice”, acreditand­o que deste modo a companhia estará mais bem preparada para “enfrentar este período irracional dos mercados”, que tem penalizado as suas ações.

Os mercados podem ser irracionai­s, mas estão sempre atentos e fazem leituras rápidas dos acontecime­ntos. À hora de fecho desta edição não se antevia uma boa reação dos mesmos às novas alterações.

Nada há a apontar a Alexandre Fonseca, que vai assumir a função de CEO da operadora e a quem o mercado, incluindo até alguns concorrent­es, reconhecem mérito. O gestor já fazia parte da equipa de administra­ção executiva da operadora logo após a Altice ter assumido, há mais de dois anos, a liderança da empresa. E antes liderou a Oni, já detida pela Altice. Contudo, de uma multinacio­nal estruturad­a, cheia de visão e de estratégia e com uma forte ambição para todos os mercados onde está presente, incluindo Portugal, não se esperava tanta dança de cadeiras. Mudanças sucessivas e bruscas nas organizaçõ­es, independen­temente do seu setor, tendem a deixar ainda mais expostas as suas fragilidad­es.

 ??  ?? ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO
ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal