Diário de Notícias

OUTRO LADO DA BANDA NUM DISCO QUE VAI DO ACÚSTICO AO ELETRÓNICO

Sai sexta-feira o novo disco da banda lisboeta, que neste Lado a Lado se reinventa por completo. “Um passo em frente”, segundo os próprios, que é também um sinal da maturidade

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MIGUEL JUDAS de 40 mil álbuns vendidos, diversos discos de platina, concertos esgotados nas maiores salas do país e presença regular nos maiores festivais, assim se pode resumir em poucas palavras a carreira dos D.A.M.A. Apesar de surgidos em 2006, apenas três anos bastaram para tornar o trio composto por Francisco Pereira, Miguel Coimbra e Miguel Cristovinh­o num dos maiores fenómenos da pop nacional, como se comprova pelo décimo lugar do disco de estreia Uma Questão de Princípio, editado em 2014, na lista dos álbuns mais vendidos de sempre em Portugal. Logo no ano seguinte, lançaram o segundo registo Dá-me Um Segundo, com os dois trabalhos a ombrearem, lado a lado, durante algum tempo nas tabelas de vendas e dos temas mais ouvidos. Seria portanto fácil manter a fórmula deste sucesso, apostando em canções pop perfeitas, como Às Vezes ou Não Dá que são já a imagem de marca dos D.A.M.A., mas o grupo decidiu agora arriscar, com um “álbum concetual”, como os próprios definem o novo trabalho Lado a Lado, que sexta-feira chega aos escaparate­s. “O sucesso é um conceito muito ilusório. É necessário jogar bem com isso, para a nossa música poder chegar ao maior número de pessoas, mas não podemos ficar reféns do êxito. O nosso objetivo, enquanto artistas, não é ter o maior sucesso possível, mas sim que quem nos ouve goste daquilo que nós somos e este é um álbum muito verdadeiro”, diz Francisco Pereira, mais conhecido por Kasha.

De facto, se algo se pode dizer dos D.A.M.A. é que não têm propriamen­te um estilo próprio, pois na sua música tanto convivem o hip-hop,o rock ou a pop, como os próprios assumem. “Quando estamos a compor funcionamo­s muito música a música, sem estarmos propriamen­te a pensar em como irá soar o álbum”, revela Miguel Coimbra. Um método de trabalho com bons resultados, até agora, mas que a banda decidiu alterar neste novo disco, composto por dois lados completame­nte distintos, um primeiro mais acústico e orgânico e um segundo mais eletrónico e dançável. “Foi a forma que encontrámo­s para melhor definir a atual identidade do grupo, porque ambas as facetas nos representa­m. Estes dois lados andam lado a lado em nós”, confessa Miguel Cristovinh­o, revelando que “o disco foi todo feito em casa do Miguel [Coimbra]”. “Foi muito engraçado porque nós os três, enquanto banda, funcionamo­s muito como família e este álbum foi também, todo ele, literalmen­te feito em família”. A capa foi desenhada pelo irmão de Miguel Coimbra, que também escreveu alguns temas, nalgumas canções ouvem-se as vozes dos outros irmãos e, pela primeira vez, até alguns dos músicos cantam. Quanto à produção, foi também ela feita pela banda, “em parceria com amigos” como Diogo Clemente e Pedro Serraninho. “Ou seja, chamámos todas as pessoas que estão à nossa volta, a nossa família mais alargada, como costumamos dizer, para nos ajudar. Não foi uma opção, aconteceu assim, talvez fruto do momento que estamos a atravessar na vida, muito mais sereno”, explica Miguel Cristovinh­o.

O Lado A abre com Oquelávai, um dos temas mais parecidos com os anteriores dos D.A.M.A., que fala sobre a passagem do tempo, com um olhar nostálgico sobre o passado e serviu para a banda resgatar também uma linha de piano de uma das suas primeiras composiçõe­s, com cerca de dez anos. “Estávamos a fazer esta música e lembrámo-nos desse piano. Não só encaiMais xava muito bem, como também fazia uma ligação à letra, por remeter para as nossas primeiras canções, que só tocavam na rádio do nosso colégio”, diz Francisco. Outra das canções em destaque neste Lado A é Friozinho na Barriga, que além de ter tudo para ser um dos hits radiofónic­os dos próximos tempos, continua ainda a tradição de ter um convidado vindo do outro lado do Brasil em cada disco dos D.A.M.A. Neste caso trata-se de Diogo Nogueira, cantor de samba do Rio de Janeiro, este ano nomeado para três Grammys, que sucede assim a Gabi Luthai e a Gabriel O Pensador. “A voz dele é perfeita, porque é um tema que mistura fado, samba e bossa-nova, que já tínhamos escrito há mais de dois anos”, salienta Miguel Coimbra. Essa é, aliás, outra das caracterís­ticas do grupo: são compositor­es compulsivo­s, como sublinha Francisco: “Estamos sempre a fazer música. Só deste álbum ficaram de fora para aí dez temas”. Já quase dá para outro, é caso para dizer. “Ou não”, corrige o músico, “porque entretanto, quando lançarmos o próximo disco, já fizemos muitas mais”. Outra particular­idade tem que ver com o facto de, pela primeira vez, haver canções em que apenas canta um dos três, como acontece em Volta e Meia, também do Lado A, segundo a banda “a favorita das miúdas românticas”. “Tentámos também não ficarmos preso às métricas e estruturas clássicas, ao agora canto eu, a seguir cantas tu, e isso é fruto do nosso àvontade enquanto grupo”.

É no entanto no Lado B que as maiores diferenças em relação ao passado se sentem, em temas como Pensa Bem, feito em parceria com Profjam ou Miúdas como Tu. De acordo com Miguel Cristovinh­o terá sido mesmo este último tema que “deu o toque” ao grupo para arriscar no tal Lado B mais digital. “Nunca tínhamos feito uma música sem guitarra e percebemos que isso era possível. Só quando conseguimo­s sair para fora de pé é que percebemos até onde conseguimo­s ir.”

E aqui chegados, é tempo de perguntar, mais de dez anos depois de terem começado a tocar juntos, na tal rádio do colégio, o que mudou com o sucesso? “Mudou muita coisa, especialme­nte a forma como nos expressamo­s artisticam­ente e isso nota-se neste álbum, mas não mudou o espírito com que encaramos a música. No final do dia somos os mesmos três putos que iam para a cozinha tocar guitarra e fazer música, como ainda ontem o fizemos”.

Lado a Lado

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