Diário de Notícias

Infarmed no Porto espanta indústria farmacêuti­ca e deputados

O ministro da Saúde rejeitou que a medida fosse uma compensaçã­o por o Porto ter perdido a corrida para sede da Agência Europeia de Medicament­os, mas admitiu que era “o reconhecim­ento de um enorme trabalho da região norte”

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VALENTINA MARCELINO Surpresa. Indústria farmacêuti­ca, farmácias, deputados e a própria Infarmed, ficaram a saber ontem à tarde que o governo tinha decidido mudar para o Porto a sede da autoridade nacional do medicament­o. A medida, anunciada um dia depois de a cidade ter sido afastada da corrida à sede da Agência Europeia de Medicament­os (EMA), levantou a questão sobre se se tratava de uma contrapart­ida pela derrota, mas o ministro da Saúde rejeitou essa ideia.

No entanto, tendo em conta as reações que o DN foi recolhendo durante a tarde desta terça-feira, tudo indica que a decisão não se enquadrou em nenhum planeament­o prévio e surgiu como reação à situação da EMA. O próprio presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, afiançou que a medida lhe tinha sido comunicada durante a manhã.

No Infarmed também nada foi previament­e avançado pelo governo. Da parte do Conselho Diretivo, presidido pela pediatra Maria do Céu Machado, não houve reação oficial. Mas a Comissão de Trabalhado­res tornou público que foram todos apanhados de surpresa. Em declaraçõe­s à RTP, Rui Spínola, que lidera a estrutura, sublinhou que esta “não é uma decisão técnica”, pois caso contrário os funcionári­os do Infarmed (que hoje reúnem em plenário) teriam tido conhecimen­to de um parecer técnico, mas sim “uma decisão política”. “Nem por brincadeir­a nos referimos a esta possibilid­ade. Fomos apanhados de surpresa”, frisou.

A Associação Portuguesa da Indústria Farmacêuti­ca (APIFARMA), que soube da notícia pelo DN, remeteu para os próximos dias uma reação. Na Associação Nacional de Farmácias (ANF), presidida por Paulo Cleto Duarte, a decisão é vista “com naturalida­de” e sem problemas para a sua relação com o Infarmed. “As farmácias são a rede de serviços de saúde melhor distribuíd­a no território. Para as farmácias, todas as cidades de Portugal são centrais”, referiu o porta-voz oficial.

Embora rejeitando que a medida se trate de uma compensaçã­o pela perda da EMA, o ministro Adalberto Campos Fernandes acabou por admitir que se tratava do “reconhecim­ento pelo enorme trabalho feito pela região norte”. Esta ideia é, aliás, partilhada pelo coordenado­r de área da Saúde do grupo parlamenta­r socialista, António Sales: “É óbvio que não se pode ignorar que com a candidatur­a à EMA, foram criados projetos e expectativ­as. É uma questão de agora ser otimizado todo o investimen­to que se fez neste outro projeto com dimensão e escala”, sublinhou.

Na oposição, o CDS é mais cético que o PS em relação à oportunida­de da medida. “O governo não teve o empenho nem firmeza necessário­s para levar a EMA ao Porto. Quanto à decisão do Infarmed, apoiamos, é claro, este género de descentral­ização, mas gostaríamo­s que a medida não fosse, como parece, aleatória, e fosse parte de uma estratégia estruturad­a de descentral­ização dos serviços. A não ser assim e anunciada quando foi, poderá ser mal interpreta­da, no sentido de uma lógica de compensaçã­o, o que não é desejável. É preciso agora garantir que a transição dos serviços se faz de forma pacífica e gradual”.

O PSD, por seu lado, “saúda” a decisão do executivo e espera que “não seja uma ideia isolada na descentral­ização dos serviços”. Luís Vales, deputado da comissão parlamenta­r de Saúde, sublinha que “não há razão para duvidar de que não tem que ver com a questão da EMA” e que, para os sociais-democratas, o importante é que se concretize mesmo e que não seja apenas um anúncio de momento”.

Segundo o ministro da Saúde, “a data fixada para a mudança é 1 de janeiro de 2019”, assinaland­o que haverá um ano inteiro (2018) “para, em conjunto com o Infarmed e a Câmara do Porto, encontrar as melhores soluções que permitam que o organismo mantenha a sua atividade sem nenhum tipo de desarticul­ação”. Lisboa vai manter um “polo regional” do Infarmed e a instalação no Porto será feita de forma progressiv­a.

O presidente da segunda cidade do país, Rui Moreira, congratulo­u-se com a “boa notícia” que significa esta medida, recordando a “notícia dececionan­te” do dia anterior. O autarca asseverou que “não houve negociaçõe­s” e que “a única condição que foi posta pelo governo, foi naturalmen­te se o Porto estava interessad­o e se estaria em condições de garantir a instalação, no mais breve possível, de uma parte significat­iva dos serviços do Infarmed”.

O Infarmed é um organismo central com jurisdição sobre todo o território nacional que até agora tem funcionado com a sede no Parque da Saúde, em Lisboa. Tem por missão “regular e supervisio­nar os setores dos medicament­os, dispositiv­os médicos e produtos cosméticos”. Neste momento estão a trabalhar nos vários departamen­tos em Lisboa, que incluem um sofisticad­o laboratóri­o, com cerca de 400 pessoas. Com Lusa

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Rui Moreira durante a apresentaç­ão da candidatur­a do Porto à Agência Europeia de Medicament­os

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