Diário de Notícias

Quase mil milhões penhorados em contas bancárias em quatro anos

Desde setembro de 2013 que os agentes de execução podem fazer penhoras eletrónica­s a contas bancárias em caso de dívida. Valor penhorado em 2017 supera a média de anos anteriores

- LUCÍLIA TIAGO e BRUNO CONTREIRAS MATEUS

Em pouco mais de quatro anos foram penhorados quase mil milhões de euros de contas bancárias. O número foi avançado ao DN/Dinheiro Vivo pela Ordem dos Solicitado­res e Agentes de Execução (OSAE), a quem cabe executar as dívidas que vão parar aos tribunais. O número de novos processos está diminuir, mas o valor recuperado tem aumentado. Há vários fatores que explicam esta tendência e um deles tem que ver com o facto de as pessoas mostrarem hoje maior capacidade para pagar.

Aqueles quase mil milhões de euros resultaram das 319 967 ordens de penhora eletrónica­s realizadas pelos agentes de execução entre setembro de 2013 e novembro deste ano. Os dados oficiais apenas dão conta dos valores acumulados, mas estima-se que só neste ano tenham já sido feitas mais de 50 mil penhoras que se traduziram em 208 milhões de euros – um valor que extravasa a média anual de 193 milhões de euros registada desde que a penhora eletrónica de depósitos bancários passou a ser possível.

José Carlos Resende, bastonário da OSAE, encontra várias justificaç­ões para esta subida. Por um lado, o facto de os agentes de execução passarem a ter de observar um limite anual máximo de processos. Ou seja, apenas podem receber mais se concluírem um dos que já têm em mãos. A isto soma-se a recuperaçã­o da economia e da situação financeira das famílias “que hoje têm mais condições para pagar”, refere.

O bastonário assinala ainda a eficácia que as penhoras eletrónica­s vieram conferir a estes casos. “Há cerca de dez anos, para se conseguir fazer uma penhora de um depósito era necessário enviar e receber umas 200 cartas”, exemplific­a, acrescenta­ndo que o processo é hoje mais célere mas que é sempre precedido por um contacto entre o agente de execução e o devedor, no sentido de perceber qual a melhor forma de tratar a situação.

Em causa, nestes processos executivos que culminam na penhora das contas bancárias, estão dívidas de várias tipologias, desde seguros, pensões de alimentos ou a ex-cônjuge, telecomuni­cações ou créditos. Quando se trata de um processo de dívida que envolve crédito à habitação, as regras determinam que se dê prioridade à venda do imóvel e que apenas haja lugar à penhora de contas se o produto desta alienação não for suficiente para pagar ao banco.

Do lado do número de processos entrados, 2017 está também a mostrar uma mudança em relação aos anos da crise. Em 2013, os agentes de execução recebiam uma média de 280 mil processos por ano. Atualmente, são cerca de metade.

A par das penhoras eletrónica­s de contas bancárias, os processos executivos de dívidas registaram também, há relativame­nte pouco tempo, o desenvolvi­mento de uma outra ferramenta: desde julho de 2016 que os leilões eletrónico­s de bens passaram a ser possíveis, o que, além de ter permitido acelerar os processos, deu-lhes também maior eficácia. Até aí, as vendas eram feitas mediante proposta por carta fechada, sendo certo que frequentem­ente apenas era recebida uma proposta (por parte do executado) a oferecer valores que representa­vam perto de 30% (um terço) da avaliação inicial.

Hoje, os bens, nomeadamen­te as casas, estão a ser vendidos por cerca de 85% do valor médio da avaliação, havendo propostas a superar esta média. Este padrão permite vendê-las por montantes mais próximos do seu valor real.

José Carlos Resende assinala o lado positivo desta mudança, pois fica assegurado que o vendedor recebe valores que lhe peritem pagar a dívida ou ficar próximo disso. “Antes, havia o risco de ficarem sem a casa e de o valor da venda desta não chegar para pagar o que deviam ao banco, o que obrigava depois a atuar sobre fiadores”, precisa.

 ??  ?? Nestes quatro anos foram realizadas 319 967 penhoras a contas bancárias para fazer face a processos de dívidas das mais variadas tipologias
Nestes quatro anos foram realizadas 319 967 penhoras a contas bancárias para fazer face a processos de dívidas das mais variadas tipologias

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal