Diário de Notícias

FUNÇÃO PÚBLICA AMEAÇA COSTA COM TRIBUNAL CONSTITUCI­ONAL

António Costa avisa que “Portugal não pode sacrificar tudo o que conseguiu”. Sindicatos lembram que há tribunais. BE e PCP remetem para debate no Orçamento

- MIGUEL MARUJO

Seguir para tribunal é a resposta sindical ao aviso do primeiro-ministro de que não se pode dar “tudo a todos”. BE e PCP remetem para o Orçamento.

O primeiro-ministro, António Costa, bem pode avisar de que “a ilusão de que é possível tudo para todos já não existe”, que os sindicatos da função pública recusam que a contagem de anos de trabalho vá “para o lixo”. “Não pode ser”, sintetizou Ana Avoila, da Frente Comum dos Sindicatos da Função Pública, ao DN, notando que além da contestaçã­o às medidas, os tribunais e o Tribunal Constituci­onal podem ser caminhos a seguir. “Não é uma questão de pedir, é uma questão de direitos”, insistiu a dirigente sindical.

Confrontad­o pelos jornalista­s, ontem na Tunísia (ver texto pág. 7), onde esteve de visita, com a reivindica­ção de vários setores profission­ais para o governo contabiliz­ar todos os anos que estiveram congelados, para efeitos de progressão de carreira, António Costa insistiu que é preciso “negociar com bom senso, com responsabi­lidade, procurando responder às ansiedades das pessoas, mas com um princípio fundamenta­l: Portugal não pode sacrificar tudo o que conseguiu do ponto de vista da estabilida­de financeira, porque isso, no futuro, poria em causa o que foi até agora conquistad­o”.

Ana Avoila notou que “o senhor primeiro-ministro, António Costa, incorre num erro porque certamente desconhece o direito que os trabalhado­res da administra­ção pública têm relativame­nte à carreira”, “consagrado na lei”.

“A contagem dos anos do tempo de serviço e a avaliação de desempenho são dois requisitos fundamenta­is para a evolução da carreira, e estando presentes estes dois requisitos, é para aqueles [setores profission­ais] que estão consagrado­s na lei”, sublinhou a dirigente sindical. “O que está na lei é para todos”, insistiu, por ser “com base na mesma lei geral”. Em Tunes, António Costa explicou que há dois aspetos em discussão. “Um é o tema que está neste momento em discussão, que correspond­e ao nosso compromiss­o, que está no programa do governo e que consta do Orçamento do Estado para 2018, ou seja, repor o cronómetro das carreiras a contar depois de ter estado parado”, disse.

Do outro lado, apontou António Costa, citado pela Lusa, é o objetivo de setores profission­ais, como militares e polícias, pretendere­m agora “abrir uma nova discussão, que não tem que ver com o descongela­mento, mas sim com a recuperaçã­o das carreiras”. “Mas”, avisou, “essa é uma matéria que não consta do programa do governo, em relação ao qual não há qualquer compromiss­o e que impõe uma pressão muito grande sobre as capacidade­s e os recursos do país”.

“Não se pode pôr o cronómetro a zero”, avisou Ana Avoila. “Porque as pessoas não podem perder di- reitos, e nem se suspende a democracia nem se suspendem os direitos”, apontou. Congeladas as carreiras, é preciso ir ao “histórico” de cada trabalhado­r. “Se há muitos anos que vão para o lixo, e não pode ser. E não é só a carreira que está em causa, é também a da aposentaçã­o.”

Recordando que a administra­ção pública tem contestado com greves e manifestaç­ões, o governo pode contar com “mais luta” e “mais do que isso”. “Qualquer trabalhado­r que se sinta lesado pode recorrer aos tribunais e pode recorrer ao Tribunal Constituci­onal”, não diretament­e mas tentando “que alguém peça [esse recurso]” para saber “se o podem discrimina­r em relação a outro”.

No Parlamento, BE e PCP incluíram nas suas propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2018 para que todo o tempo de serviço congelado aos professore­s seja contabiliz­ado para efeitos de reposição salarial e progressão na carreira. A bancada comunista alargou essa proposta a todas as carreiras para progressõe­s e promoções, incluindo as carreiras especiais, como a dos professore­s.

A porta aberta pelo BE e pelo PCP resume-se à discussão orçamental. Questionad­o pelo DN sobre eventuais recursos ao Tribunal Constituci­onal, o PCP respondeu que a questão que está colocada é a de resolver o problema das carreiras no âmbito do Orçamento do Estado.

Por sua vez, o Bloco esteve ontem reunido com o governo, apurou o DN, para discutir várias matérias e o sentido de voto das propostas de Orçamento do Estado, entre as quais estas matérias. Sem outros comentário­s. A caixa de Pandora dos docentes As reivindica­ções de militares e polícias, entre outros setores, surgiram depois de conhecida, na madrugada de sábado, uma declaração de compromiss­o alcançada entre os sindicatos de professore­s e o Ministério da Educação, para que as negociaçõe­s sejam iniciadas a 15 de dezembro para chegar a um entendimen­to.

Segundo os sindicatos, este compromiss­o prevê a recuperaçã­o do tempo de serviço dos professore­s e o início da reposição salarial ainda na presente legislatur­a. Mário Nogueira, da Fenprof, antecipou “que o encerramen­to desta recuperaçã­o seja na legislatur­a seguinte, até para não ser um prazo muito largo”.

Na sexta-feira, no Parlamento, o ministro das Finanças, Mário Centeno, notou que “nas carreiras em que o tempo conta, o que este Orçamento faz é pôr o cronómetro a funcionar”. Segundo Mário Centeno, já em 2018, “47% dos professore­s vão progredir”, ou seja, “46 mil professore­s”. Mas sem “efeitos retroativo­s”, rematou.

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A 27 de outubro, a greve da função pública foi mais uma forma de contestaçã­o sindical, encerrando escolas e serviços de saúde

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