Diário de Notícias

Conselho Europeu diz adeus a 2017 a adiar decisões para 2018

Migração e a união monetária são temas em cima da mesa, mas dos quais não sairão conclusões. Já o brexit, Donald Tusk descreve-o como uma “furiosa corrida contra o tempo”

-

ANA MEIRELES O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não deixou grande margem para dúvidas na carta que enviou aos líderes dos 28 a propósito do Conselho Europeu que se realiza hoje e amanhã em Bruxelas. “Iremos ter esses debates, sem adotar conclusões, mas com vista a preparar o cenário para as decisões no ano que vem”, escreveu.

Mesmo sem o peso da necessidad­e de uma decisão, o último Conselho Europeu de 2017 não estará isento de uns picos de tensão. Comecemos pela migração, um dos temas em cima da mesa. Tusk pediu uma “discussão franca e aberta” que servirá de base para um “trabalho adicional na primeira metade de 2018”, mas foi o próprio polaco a lançar a polémica ao afirmar que “o tema das quotas obrigatóri­as provou ser altamente divisivo e a abordagem revelou-se ineficaz”. E acrescento­u que “apenas os Estados membros são capazes de enfrentar a crise migratória de forma eficaz”, enquanto o papel da UE é “oferecer o seu total apoio de todas as formas possíveis para ajudar os Estados membros” a lidar com uma crise migratória.

Afirmações, constantes de uma primeira versão do documento de trabalho sobre este tema para o Conselho Europeu, que não foram bem recebidas pelo comissário europeu para as Migrações, Dimitris Avramopoul­os. “O documento preparado pelo presidente Tusk é inaceitáve­l. É antieurope­u e ignora todo o trabalho que fizemos nos últimos anos... O papel do presidente do Conselho Europeu é defender a unidade e os princípios europeus – este documento está a minar um dos principais pilares do projeto europeu. A Europa sem solidaried­ade não pode existir”, afirmou o grego na terça-feira à tarde. Pouco depois, o gabinete de Tusk divulgou uma nova versão do documento, em que mantinha as críticas às quotas, mas dava mais destaque aos esforços da UE neste tema.

A chamada Cimeira do Euro também está na agenda deste Conselho Europeu e desta vez o tema será o fortalecim­ento da União Económica e Monetária, mas será apenas uma primeira abordagem, “para os líderes tomarem decisões no próximo ano”, refere Tusk no seu documento de trabalho relativo a este assunto.

Neste capítulo o centro das atenções deverá ser o presidente francês, Emmanuel Macron, que defende uma zona euro mais forte com a existência de um ministro das Finanças euro que fique com a gestão de um orçamento. Tusk apresenta uma abordagem mais cautelosa, pedindo que as ideias do francês sejam postas de parte para já, preferindo focar-se no fortalecim­ento do Mecanismo Europeu de Estabilida­de transforma­ndo-o num Fundo Monetário Europeu.

Sem a presença da primeira-ministra britânica, os líderes dos 27 serão informados pelo negociador-chefe da União Europeia para o brexit, Michel Barnier, sobre os progressos feitos na primeira fase das negociaçõe­s, sendo que o francês deverá recomendar que se avance para as discussões sobre como serão as relações entre as duas partes após março de 2019. Uma recomendaç­ão que deverá ser aprovada pelos Estados membros.

“Esta será uma furiosa corrida contra o tempo, em que mais uma vez a nossa união será chave. E a experiênci­a até agora mostrou-nos que a união é sine qua non de um brexit ordenado”, escreveu Tusk na carta que enviou aos líderes europeus.

Num desenvolvi­mento de última hora, ontem, a maioria dos deputados britânicos deram o seu sim a uma emenda que estipula que o acordo final com a União Europeia terá de ser aprovado através de uma lei votada no Parlamento. O que representa uma derrota nas intenções do governo liderado por Theresa May.

Um sinal dessa união “apesar das nossas diferenças”, na opinião de Tusk, é a Cooperação Estruturad­a na Defesa (PESCO, na sigla em inglês), formalizad­a nesta segunda-feira por 25 Estados membros, entre os quais Portugal, e que será também debatida pelos líderes presentes no Conselho Europeu. De fora ficaram Reino Unido, que vai sair da UE, a Dinamarca, que tem uma cláusula vinculativ­a que a impede de aderir, e Malta, que é um país neutral.

Este mecanismo permitirá aos Estados membros que o desejem “desenvolve­r capacidade­s de defesa conjuntas, investir em projetos comuns e melhorar a prontidão e o contributo operaciona­l das suas forças armadas”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal