Il signore Storaro
PJOÃO LOPES ergunta de algibeira: qual a relação do novo filme de Woody Allen,
com (1979), de Francis Ford Coppola, (1981), de Warren Beatty, e
(1987), de Bernardo Bertolucci? Pois bem, todos eles têm direção fotográfica do italiano Vittorio Storaro – e são “apenas” os três que lhe valeram outros tantos Óscares. Nascido em Roma, em 1940, Storaro é um senhor da luz e da cor, com o seu nome há muito inscrito nos mais nobres capítulos da história do cinema – a par do americano Gregg Toland, diretor de fotografia de
(1941), de Orson Welles, ou do também italiano Giuseppe Rotunno, responsável pelas imagens de (1963), de Luchino Visconti. O que Storaro faz em é tanto mais esplendoroso quanto, em algumas cenas, a iluminação surge tratada não como elemento “fixo” da ação, antes como matéria orgânica que se pode transfigurar através do desenvolvimento dessa própria ação. Num tempo em que se cultiva a admiração beata por efeitos especiais que não são mais do que a aplicação impessoal de programas de computador, Storaro, obviamente com a cumplicidade de Woody Allen, cria um singularíssimo universo visual. Em
a luz, mais do que um instrumento informativo, existe como matéria orgânica em permanente interação com os outros elementos do filme, a começar pelos corpos dos atores. Escusado será dizer que, em face da banalização das imagens (observem-se as rotinas de muitos circuitos de telemóveis e da internet), a arte de Storaro tende a ser ignorada, ou mesmo menosprezada, pelos valores instantâneos da aceleração “informativa”. Seja como for, através das suas imagens, podemos desfrutar as componentes mais genuínas do trabalho cinematográfico.