Diário de Notícias

Regular o cultivo para transforma­ção e dispensa em farmácia é aliviar o sofrimento de milhares de portuguese­s

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Sativex, o único medicament­o derivado da canábis com autorizaçã­o de introdução no mercado, mas não comerciali­zado, em Portugal, tivesse compartici­pação para esta indicação poderia custar ao erário público entre 55 e 130 milhões. Se fosse formulado em farmácia de oficina e no quadro atual de compartici­pação para medicament­os manipulado­s, o custo seria de 9,3 a 18,5 milhões de euros.

Acresce que o fim da proibição em 29 estados americanos, a legalizaçã­o no Canadá e na Alemanha catapultar­am a procura externa. O mercado cresce a 33% ao ano e valerá pelo menos 40 mil milhões em 2021.

Existem hoje diferentes modelos de regulação da canábis medicinal que podem inspirar o legislador nacional. Focando apenas os países de referência para Portugal em saúde pública que legislaram sobre a matéria, como Alemanha, Suíça e Canadá, tendo em conta o regime jurídico dos medicament­os de uso humano, e, de acordo com a posição também da Associação Nacional Cannativa, o modelo que consegue conciliar acesso e proteção parece ser o canadiano. Adaptado à realidade nacional significa que doentes com prescrição médica passam a poder adquirir flores de canábis de qualidade controlada ou formulaçõe­s à base dos seus extratos nas farmácias portuguesa­s. Os doentes ou pessoas por ele designadas podem ainda produzir pequenas quantidade­s para uso terapêutic­o pessoal.

Este debate não é uma coisa de hippies. A perseguiçã­o à canábis penaliza quem precisa de proteção: um doente seropositi­vo enfrenta uma pena de prisão por preferir cultivar quatro pés de canábis para seu uso terapêutic­o pessoal ao invés de aviar uma receita de morfina; ou a mãe de uma criança que sofre de epilepsia resistente é detida por extrair canabidiol da planta para não ter de a submeter a uma estimulaçã­o cerebral profunda.

Regular o cultivo para transforma­ção e dispensa em farmácia com a possibilid­ade de cultivo pessoal para fins medicinais é dar um alívio ao sofrimento de milhares de portuguese­s, é aliviar o peso sobre o Serviço Nacional de Saúde de futuras compartici­pações não realizadas; é possibilit­ar o desenvolvi­mento da arte e técnica farmacêuti­cas em Portugal.

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