Diário de Notícias

RUI PEDRO TENDINHA ESTEVE EM LONDRES COM ESTRELAS DE STAR WARS

- RUI PEDRO TENDINHA , em Londres

“Não sei o que quer dizer disneyfica­ção”, começa por responder ao DN o realizador Rian Johnson, o novo herói da saga, o fã” que se tornou realizador de um dos filmes do seu franchise preferido. Ryan não parece perturbado quando lhe pedimos para nos dizer se assumia o fator Disney, sobretudo nesta fase StarWars, onde a Disney é detentora deste império: “Quem está a dizer que isto é Disney é que tem de explicar a razão. Elementos Disney? Nem sei o que isso é... Desde o começo que não tive qualquer interferên­cia do pessoal da Disney, nem da produtora Kathleen Kennedy ou de George Lucas. Nada me foi imposto neste filme, antes pelo contrário: fui muito autorizado e incentivad­o a fazer o meu Star Wars que quis sempre fazer.” Tudo isto aconteceu numa sala repleta do Corinthia Hotel, em Londres, o local da apresentaç­ão à imprensa de Star Wars – Episódio VIII – Os Últimos Jedi. Conforme uma senhora da promoção da Disney fez bem questão de dizer no início, não se tratava de uma conferênci­a de imprensa, apenas uma sessão de questões e repostas com fãs e jornalista­s (a mistura da moda...) para ser difundida em direto para a net. A mesma senhora que nos pediu para termos todo o cuidado do mundo com os spoilers. Em nome do amor pelo cinema e pela Força.

Curiosamen­te, após a pergunta do DN, o ator Domhnall Gleeson, um dos representa­ntes do lado negro da Força, descreve a sua personagem e, a brincar, Rian Johnson comenta: “Talvez seja essa a definição de disneyfica­ção da tua personagem.” Neste Q&A ninguém está preocupado em responder de forma complexa ou mesmo completa. Johnson e os atores estão estafados com estes dias de entrevista­s diárias e estreias, mas também estão com cara de triunfo. Em Londres, chegam ecos de aprovação dos fãs e a própria imprensa especializ­ada é mais do que meiga para o filme. Parece haver uma sensação de vitória e de alívio. Desse alívio saem sobretudo respostas com o chamado comic relief (alívio cómico) e para agradar a legião de seguidores que aplaude algumas dessas respostas e que trata os atores como deuses. Além de Gleeson, comparecer­am ao evento mundial John Boyega, Benicio Del Toro, Mark Hamill, Daisy Ridley, Andy Serkis, Gwendoline Christie, Kelly Marie Tran, Laura Dern e Oscar Isaac. Só faltou mesmo Adam Driver, vilão de serviço, o dividido Kylo Ren, a grande interpreta­ção do filme. Mas é Mark Hamill quem se torna na figura deste encontro. Finge estar a dormir, faz caretas e vai dizendo que só sente nostalgia, aliás a palavra mais usada por aqui. Hamill, depois de 40 anos, tornou-se um expert de conferênci­as de Star Wars, conforme notámos nesta primavera durante a Star Wars Celebratio­n, em Orlando, onde não teve medo de verter uma lágrima em honra da “irmã” Carrie Fisher: “Quando os príncipes Harry eWilliam foram ao plateau e tiveram direito a uma visita guiada pela Daisy, tive de ir ter com eles e perguntar a cada um deles se eu era realeza. Por amor de Deus, sou filho de Darth Vader e da senadora Padmé, irmão de uma princesa! Isso não me faz realeza? Há quarenta anos que ando a precisar dessa validação! Infelizmen­te, ainda não foi desta. O William disse-me que não sabia... embora o Harry tenha dito que sim.”

Ao longo desta ação promociona­l, a moderadora tem um iPad que lhe transmite perguntas vindas das redes sociais. Alguém chamado Thomas pergunta a John Boyega se o treino desta vez foi diferente: “Sim, tenho agora uma outra arma. Devo dizer que trabalhei os duplos com a própria Gwen e digamos que ela tem um alcance... forte. Ao lado dela é preciso sabermos agachar bem. Enfim, foi muito mais desafiante.” Gwen mal ouve isto entra na galhofa, a atriz que interpreta o stormtroop­er Capitão Phasma grita bem alto que Boyega é uma força em todos os sentidos: “E houve um momento de atração entre nós. John, sabes, nunca senti nada tão forte na minha vida... Não levem isso para o lado picante, por favor.”

Hamill é dos poucos que não ri, parecendo replicar a expressão

A família Star Wars está unida e feliz. Rian Johnson e os seus atores sabem que a Força está longe de ficar enfraqueci­da

de eremita do seu novo Luke Skywalker. Em muitas das perguntas que lhe são dirigidas confessa que não estava a ouvir, que estava numa outra galáxia far, far away, mas com esforço vai respondend­o: “Sendo o mais veterano senti uma forte sensação de nostalgia. Antes era o órfão descoberto, agora é a Daisy. Antes era o piloto impulsivo, agora temos o Oscar Isaac. Antes era o tipo que se disfarçava e se infiltrava em território inimigo, agora é o Boyega! Tive de lutar com esse pensamento irracional em que uma data de estranhos estavam-me a entrar dentro do meu caixote de brinquedos e a brincar com o meu imaginário. A sorte é que com esta idade estou na boa para deixar as crianças ficarem com tudo o que é mais pesado.” O show de Hamill prossegue quando o recordam da sua amizade com Sir Alec Guinness, o memorável Obi-Wan Kenobi do primeiro filme: “Tive muita sorte em poder trabalhar com alguém que sempre admirei. O Sir Alec foi para mim sempre muito generoso e ficámos em contacto. Lembro-me de que ele me escrevia umas cartas com bela caligrafia antiquada e em caneta de tinta... Devo dizer que quando vinha a Londres levava-me sempre a jantar ali no West End. Ele foi um dos maiores atores da história. Já vimos outros atores a fazerem de Jedi, mas ele foi sempre o melhor...”

A dada altura, o ritmo das respostas é cada vez mais rápido e a fazer lembrar um painel de Comic Con. Hector, um menino escocês de 14 anos, pede o micro e faz uma pergunta de fã ferrenho. Daisy Ridley pergunta-lhe de novo a idade e fica espantada. Hamill, por seu turno, evita os perigos de spoiler e faz uma voz grave para o rapaz: “Que a Força esteja contigo.” Há quem aplauda.

Tudo vai prosseguin­do sem que Benicio Del Toro abra muito a boca, mesmo tendo uma das melhores personagen­s do filme, provavelme­nte homenagem a Lando Carlissian, o traidor boa pessoa de Billy Dee Williams. Outra que não fala muito é a revelação Kelly Marie Tran, escolhida para o filme para dar a chamada diversidad­e racial tão politicame­nte correta. Esta atriz, de origem vietnamita, tem ainda tempo de dizer que tem chorado muito nestes dias: “Nunca me esquecerei desta experiênci­a...”

A toada neste encontro é de palmadinha­s nas costas. A família Star Wars está unida e feliz. Rian Johnson e os seus atores sabem que a Força está longe de ficar enfraqueci­da. Mas é o realizador o único que escapa dos apertados controlos da segurança e vem para junto da imprensa e dos fãs. Chega a apertar-nos a mão e a sorrir com a questão da disneyfica­ção. “Estou tão ansioso para ver como as pessoas normais reagem ao filme! Até agora só gente convidada em antestreia­s é que o viu. Quero que sejam os fãs a vê-lo.” O aperto de mão tinha toda a Força do mundo.

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