Derrota de Trump: 25 anos depois, Alabama elege um democrata
Doug Jones bateu Roy Moore, suspeito de assédio sexual a menores, deixando os republicanos com uma maioria de apenas um senador e abrindo caminho a que os democratas recuperem a câmara alta do Congresso em 2018
Quando tomar posse, Doug Jones será o primeiro democrata a representar o Alabama no Congresso desde 1992. E o último a fazê-lo, Richard Shelby, mudou-se para os republicanos a meio do mandato. Com a vitória sobre Roy Moore, depois de uma noite em que a contagem de votos renhidíssima (só 1,5% separam os dois candidatos) deixou os americanos colados à televisão, Jones provou que as acusações de abusos sexuais sobre menores feitas ao rival pesaram na hora de ir votar. E nem o apoio de Donald Trump ajudou o antigo juiz, na que é apresentada como uma derrota humilhante para o presidente.
Com Jones, os democratas encurtam ainda mais a maioria republicana no Senado – 51-49 –, abrindo caminho a que a esquerda recupere o controlo da câmara alta do Congresso federal nas intercalares de novembro de 2018. A vitória de Jones foi uma surpresa num estado do Sul profundo dos EUA em que em 2016 Trump ganhou com 28 pontos de vantagem sobre Hillary Clinton. Apresentando-se como alguém capaz de promover o diálogo interpartidário, deverá ter de esperar que o resultado seja validado antes de tomar posse, o que pode só acontecer em janeiro, apesar dos esforços do partido para que assuma o cargo imediatamente.
Roy Moore já veio contestar os resultados, garantindo “Ainda não acabou!”. O antigo presidente do Supremo Tribunal do Alabama, duas vezes demitido do cargo – a primeira por recusar uma ordem de um tribunal federal para retirar da entrada do Supremo do Alabama um monumento aos Dez Mandamentos, a segunda por continuar a proibir o casamento gay depois de este ter sido autorizado pelo Supremo federal –, acredita que a margem que o separa de Jones vai encurtar, chegando aos 0,5% que permitiriam pedir a recontagem.
Se só tomar posse em janeiro, Jones não poderá influenciar as votações do novo código fiscal ou do financiamento do governo, previstas antes do Natal.
Figura da extrema-direita, com ligações a grupos nacionalistas brancos e conhecido por defender ideias xenófobas, antissemitas, homofóbicas e islamofóbicas, Moore foi notícia nas últimas semanas depois de nove mulheres terem vindo a público acusá-lo de assédio sexual. Duas afirmaram ser menores na altura dos factos. O republicano nega as acusações de assédio, mas admitiu ter tido encontros com jovens a partir dos 16 anos, idade de consentimento no Alabama.
Se Moore rejeita os resultados, o Partido Republicano do Alabama já fez saber que não tenciona pedir a recontagem e até o presidente Trump deu os parabéns a Jones pela vitória. “Parabéns a Doug Jones por uma vitória muito disputada [...] O povo do Alabama é grande e os republicanos vão ter outra hipótese de conquistar este lugar em breve. Nunca para!” O presidente, que declarou o apoio a Moore apesar do escândalo em torno do candidato, veio ontem distanciar-se. “[...] eu disse que Roy Moore não conseguiria ganhar as eleições. Estava certo! Roy trabalhou muito mas a maré estava contra ele.” E num outro tweet, remata: “Se a noite passada prova alguma coisa é que temos de encontrar grandes candidatos republica- nos para aumentar as margens mínimas na Câmara e no Senado.”
Trump pode tentar distanciar-se mas os analistas são unânimes em ver na derrota de Moore uma “derrota humilhante” para o próprio presidente, como escrevia o Washington Post. O site Politico, por seu lado, recordava que Trump apoiou o candidato errado não uma mas duas vezes nestas eleições. Nas primárias republicanas esteve com Luther Strange, derrotado por Moore, antes de apoiar este em pleno escândalo e quando muitos dirigentes do partido o tinham deixado cair, tentando evitar o efeito de contágio antes das intercalares.
Mas os escândalos sexuais na América não escolhem cores políticas. E ontem, Mark Dayton, o governador democrata do Minnesota, nomeou a vice-governadora Tina Smith para substituir Al Franken até às eleições de novembro. O senador anunciou a demissão há uma semana, pressionado pelo partido após ser acusado de assédio sexual.
“Feitas as contas, toda esta corrida teve que ver com dignidade e respeito”
DOUG JONES
CAND. DEMOCRATA A SENADOR DO ALABAMA “Temos de perceber que quando a votação está tão renhida, ainda não acabou”
ROY MOORE
CAND. REPUBLICANO A SENADOR DO ALABAMA “Eu disse que Roy Moore não conseguia ganhar as eleições. Estava certo! Roy trabalhou muito mas a maré estava contra ele”
DONALD TRUMP
PRESIDENTE DOS EUA