À espera da revolução dos carros autónomos partilhados
Nas cidades do futuro as deslocações serão feitas em transportes elétricos e partilhados. Desincentivo ao uso do carro próprio é o desafio para o futuro, ainda que o automóvel continue a ser um dos principais meios de transporte, através das modalidades d
Menos poluentes, ou seja, elétricos, e usados apenas quando se precisa, vão ser assim os carros usados nas cidades do futuro. A mobilidade urbana vai ser também mais ecológica e mais segura, com os carros autónomos e partilhados a tomarem conta das ruas.
Resolver a questão da mobilidade de quem vive e trabalha nas cidades é um dos grandes desafios dos dias de hoje. Lisboa, por exemplo, recebe todos os dias 370 mil carros. Um volume que torna o trânsito mais caótico e a cidade mais poluída.
A aposta em miniautocarros com paragens pop-up e serviços de transporte on-demand permitiria reduzir em 37% a distância percorrida hoje pelos carros particulares na capital portuguesa. E seria possível reduzir em 95% o espaço público destinado a estacionamento, mostra um documento do Fórum Internacional dos Transportes (organismo da OCDE), de 2015, e que usou Lisboa como caso de estudo.
“No futuro, todas as viagens serão feitas com veículos elétricos, conectados, partilhados, e isso vai mudar a forma como nos deslocamos na cidade. De certa forma, há uma possibilidade de tentar redesenhar as cidades e estruturas para as pessoas se deslocarem de bicicleta e a pé”, antecipa Paulo Humanes, engenheiro de transportes e diretor da empresa de software especializada em mobilidade, PTV.
E até a quantidade de alcatrão pode vir a ser reduzida. Hoje ocupa 60% da via, lembra Paulo Humanes, mas pode vir a dar mais espaço aos peões e bicicletas, “para que sejam reis”.
Espera-se que além de se privilegiarem as deslocações não motorizadas, que se usem os carros mais seguros. Daqui a quatro anos já se espera que os automóveis autónomos comecem a fazer parte do dia-a-dia. A expectativa é que estes veículos sejam utilizados para as deslocações partilhadas, por exemplo. Com a utilização destes carros sem condutor, é expectável que a segurança aumente. “Do ponto de vista de segurança rodoviária é importante que haja menos automóveis e que se conduza mais devagar”, alerta João Dias, especialista em segurança rodoviária do Instituto Superior Técnico.
Essa segurança pode ser conseguida ao deixar a cargo de um robô a condução, porque estes respeitarão os limites de velocidade e toda a sinalização. Embora ainda tenham falhas: “Os veículos autónomos não estão por ora no mercado porque ainda há alguns problemas em ambientes complexos, como detetar obstáculos a velocidades mais elevadas.”
Melhorar a mobilidade das cidades é também reduzir o tempo de deslocações, por isso, o especialista do Técnico aponta para a necessidade de se apostar mais nos transportes públicos e “desincentivar o uso do carro próprio”. “Enquanto as deslocações de carro forem mais rápidas, as pessoas não vão desistir de andar de carro no centro das cidades”, alerta.
Paulo Humanes antecipa, no entanto, uma “maior adaptabilidade de diferentes tipos de veículos para diferentes fins” nas deslocações do futuro. E que as empresas de automóveis se estão a preparar para vender serviços, mais do que os carros que produzem.
Com a antecipação de que o “mercado vai ver crescer em alguns setores”, António Oliveira Martins, diretor-geral da LeasePlan Portugal, espera que isso também se traduza num crescimento para o setor do renting. “Não vemos o futuro completamente elétrico, nem apenas de automóveis para partilha, mas esses são setores de mercado que vão crescer e trazer oportunidades”, aponta. “Vai haver espaço para a coexistência de vários modelos, com perda das modalidades mais tradicionais.”