Por causa de Salvador Sobral, o Festival da Eurovisão será em Lisboa. RTP quer repetir a vitória.
Faltam 132 dias para um dos eventos que marca o ano. Gonçalo Madaíl, diretor criativo, conta ao DN o que se vai seguir. Em contagem decrescente...
Quando a transmissão do espetáculo da final da Eurovisão começar, no dia 13 de maio, em direto do Altice Arena, do lado de lá do ecrã vão estar cerca de 200 milhões de espectadores. “É um evento extremamente popular”, resume Gonçalo Madaíl, diretor criativo da Eurovisão em 2018. Se o número não chegar para impressionar já, faça-se um exercício de comparação. A badalada cerimónia de entrega dos Óscares chegou a quase 33 milhões de pessoas em 2017. A final da Liga dos Campeões (Real Madrid-Juventus) teve uma audiência de aproximadamente 350 milhões.
É a preparação dessa final, e das duas semifinais que a antecedem, a 8 e 10 de maio, no mesmo Altice Arena, em Lisboa, que trabalha diariamente uma equipa de cerca de 30 pessoas na RTP. Começaram em agosto. No dia do evento “bem mais de mil pessoas” estarão envolvidas, refere Gonçalo Madaíl. “Estivemos em fase de preparação, a partir de janeiro entramos na fase de execução”, refere, escusando-se a divulgar valores, mas explicando que o evento reúne esforços da RTP, mas também da câmara, pois é um evento da cidade (em colaboração com a EGEAC, a empresa de gestão cultural da autarquia), e do Turismo de Portugal.
Ao todo, 43 países marcam presença na primeira edição da Eurovisão em solo português nas duas semanas anteriores à final. Cálculos rápidos de Gonçalo Madaíl apontam “mais de mil pessoas” só entre os que estão diretamente envolvidos na organização. Como? Cada delegação é composta por cerca de 25 pessoas. “Alguns países trazem 15 elementos, em alguns pode chegar a 40 ou 50.” Fora os jornalistas, mais de mil, que habitualmente se acreditam. “Da CNN até à televisão chinesa.”
Por estas linhas, três mil pessoas já foram envolvidas no espetáculo e ainda não foram mencionados os espectadores destes espetáculos. A final, as semifinais, os concertos para o júri nas vésperas e os que acontecem à tarde, vocacionados para famílias. As entradas estão a ser vendidas em “vagas” (como lhe chama a organização), que esgotam rapidamente. As próximas são anunciadas em janeiro.
All Aboard , todos a bordo, é o mote da Eurovisão em 2018, na linha inclusiva que vem marcando as últimas edições (Kiev apoiou-se no Celebrar a Diversidade). “É uma oportunidade para Portugal, que é uma experiência de convivência pacífica, se mostrar”, reflete Gonçalo Madaíl, explicando que o título remete também para os oceanos, junção tanto mais relevante quanto o quartel-general da Eurovisão será no Parque das Nações, duas décadas exatas depois da Expo 98.
Os oceanos foram o ponto de partida do designer escolhido para conceber o cenário da Eurovisão. “Das nove propostas recebidas, a de FlorianWieder foi considerada a melhor e a mais adequada ao conceito definido para o evento, reunindo a unanimidade de todos os elementos da equipa criativa e da produção executiva”, segundo um comunicado da RTP. A inspiração veio dos Descobrimentos Portugueses, o oceano, os barcos e a cartografia. O alemão foi o responsável por edições anteriores da Eurovisão: Dusseldorf 2011, Baku 2012,Viena 2015 e Kiev 2017.
A edição de 2018 é, também, uma edição que, pelo lado da RTP, procurou trazer a simplicidade da interpretação de Salvador Sobral de Amar pelos Dois para o concurso. “Seguirmos o exemplo dele, ser menos uma demonstração tecnológica, mas mais de música.” Quando se trata de falar desta operação, Gonçalo Madaíl, explica, num entusiasmo incontido, que a Eurovisão é “uma oportunidade que temos de fazer bem”.
O formato pertence à EBU, a sigla de Eurovision Broadcast Unit, uma união de televisões europeias de que a RTP faz parte, e as regras de funcionamento assemelham-se às que regem formatos internacionais como TheVoice ou Got Talent. “A EBU entrega a responsabilidade de produzir, com regras, a Eurovisão do ano seguinte ao país que ganha.”
Com Gonçalo Madaíl, regressamos ao dia 14 de maio e ao aeroporto de Lisboa, quando Salvador e Luísa Sobral eram recebidos por centenas de pessoas e os responsáveis da RTP acusavam a responsabilidade que vem com a vitória (a primeira da história da participação portuguesa), e esperando a primeira reunião com os responsáveis da EBU para a passagem da pasta. “Agridoce”, o sentimento, recorda Gonçalo Madaíl sete meses depois. Mas... “já houve países com dimensão pequena que organizaram o festival da Eurovisão e é bom acusarmos essa responsabilidade”.
Neste processo, o responsável da televisão pública deseja que se aprenda o máximo possível do formato da Eurovisão. Alguns elementos da equipa em áreas “mais técnicas e tecnológicas” são pessoas já com experiência neste formato, de outras nacionalidades, mas a direção, afiança Madaíl, pertence à RTP. “Temos tantos profissionais nacionais quanto possível. A equipa é liderada a 90% por portugueses.” Dela fazem parte, além dele próprio, João Nuno Nogueira, produtor executivo, e Carla Bugalho, diretora do concurso, e che- fe da delegação portuguesa da Eurovisão, em Kiev, entre outros. Maior do que a Web Summit A Eurovisão terá um impacto maior do que aWeb Summit, avisa Madaíl. Além de montar o espetáculo televisivo, a estação pública é responsável por fornecer programas para as diferentes delegações que serão acompanhadas de voluntários enquanto durar a operação. “Nós, Lisboa, temos a obrigação, e o prazer, de lhes proporcionarmos experiências.” Madaíl fala da Lisboa clássica, da Lisboa contemporânea, da Lx Factory ao Beato. Dos arredores – Sintra, Cascais, Setúbal... De artistas, comoVhils ou Bordalo II. E, na música, eletrónica ou li-
gada à lusofonia – brasileira e africana.
Um dos pontos de passagem obrigatórios é a Eurovillage: um ponto de encontro que vai nascer no Terreiro do Paço, no coração de Lisboa, com representações dos diferentes países e passagens garantidas de vários dos artistas. “É uma forma de toda a cidade se envolver gratuitamente com o universo da Eurovisão que a visita”, explica o jornalista Nuno Galopim, consultor do Festival da Canção e supervisor da equipa criativa da Eurovisão.
Eurovisão, um espetáculo a renascer Galopim, a voz dos comentários na noite da Eurovisão quando estamos em casa, traça um retrato breve dos últimos anos do concurso. A marca deu sinais de erosão, mas vem recuperando na última década.
“Começou a mudar quando optou por um sistema de votação fifty fifty, devolvendo 50% da pontuação a um júri profissional, de pessoas ligadas à música, e deixando apenas 50% ao televoto. Em 2009, quando isso acontece pela primeira vez, a vitória é de Alexander Rybak, da Noruega. No ano a seguir ganha a Lena, com Satellite, da Alemanha”, nota Nuno Galopim.
Entre os países do chamado Big Five da Eurovisão, aqueles que têm passagem direta à final por serem os que mais contribuem para European Broadcast Union, a Alemanha foi o único que venceu o concurso já com as novas regras. França, Itália, Espanha