Diário de Notícias

FC Porto, Sporting e Benfica estão na luta pelo título. E Portugal poderá ser campeão do mundo?

A meio ano de distância do torneio, selecionad­or tem visto o campo de recrutamen­to aumentar para a escolha final dos 23 jogadores que vão à Rússia

- RUI FRIAS

Fernando Santos fechou o plano de atividades da seleção em 2017 com mais dúvidas do que aquelas com que, provavelme­nte, contava, na projeção do possível lote final de 23 jogadores que, no próximo mês de junho, vai defender as cores de Portugal no Mundial de 2018 – ao qual a seleção nacional chegará, recorde-se, com o estatuto de campeã europeia em título.

Após uma dupla jornada de jogos particular­es (frente a Arábia Saudita e Estados Unidos), em novembro, na qual testou várias caras novas e outras que não vinham a fazer parte das escolhas habituais (como o médio Manuel Fernandes, do Lokomotiv de Moscovo), o selecionad­or não teve problemas em admitir que “vai ser muito difícil escolher [a lista final de 23 ]”. “Há um que vai estar presente, de certeza”, acrescento­u, sintetizan­do a dimensão da tarefa que tem pela frente neste próximo meio ano.

É claro que Cristiano Ronaldo (a quem mais poderia estar a referir-se o selecionad­or?) não é o único com lugar já reservado. Se nenhum drama acontecer, nomes como Rui Patrício, Pepe, José Fonte, William Carvalho ou Quaresma, para ficarmos apenas por alguns óbvios, podem contar com a viagem até à Rússia no próximo verão – o campeonato disputa-se de 14 de junho a 15 de julho. Mas o leque de opções tem aumentado, não só desde o inédito título europeu de 2016 como mesmo após o final da fase de qualificaç­ão para o Mundial.

Basta atentar em alguns exemplos, como o médio sportingui­sta Bruno Fernandes, o lateral portista Ricardo Pereira, o avançado Gonçalo Guedes, que se tem evidenciad­o na liga espanhola com oValência, ou Fábio Coentrão, que voltou agora a jogar com regularida­de no Sporting. Tudo gente que pouco ou nada contribuiu para a qualificaç­ão (um minuto só de Guedes e 28 de Coentrão).

Ou seja, “as dores de cabeça de Fernando Santos são factuais” e não um mero exercício de oratória, admitem ao DN Pedro Henriques, antigo jogador e atual comentador na SportTV, e Leonel Pontes, que foi adjunto de Paulo Bento na seleção durante quatro anos (2010-2014). Este último perspetiva facilmente “um lote de 35-40 jogadores” com legítimas aspirações a um lugar nos 23 que vão à Rússia. Pedro Henriques aponta para “três ou quatro vagas em aberto”.

Que o “campo de recrutamen­to aumentou”, parece pacífico. Que isso crie expectativ­as de muitas alterações ao elenco que assegurou a qualificaç­ão, não será de bom senso, alertam. Há um núcleo formado, jogadores que caminham juntos há muito tempo, empatias criadas, dentro e fora do relvado. Em suma, há um grupo, que até é campeão europeu.

“É um núcleo que tem bons hábitos e nos momentos duros o selecionad­or sabe já com o que pode contar”, refere Pedro Henriques. O que Leonel Pontes reforça com as caracterís­ticas de uma competição como um Mundial (ou um Europeu), que requer mais do que “apenas” qualidade ou momento de forma: “Há um conjunto de jogadores que vão jogar mais, ou muito mais, outros que vão jogar pouco e outros que não vão jogar. Os menos utilizados têm de saber contribuir para um bom espírito coletivo. Claro que o rendimento é sempre uma prioridade, mas esta é uma competição longa e há que formar um bom grupo.”

Um núcleo com 19 nomes Ora, uma análise aos jogadores mais utilizados por Fernando Santos ao longo do último ano e meio, em 22 jogos oficiais (exceto particular­es) – incluindo a fase final do Euro 2016, a fase de qualificaç­ão para o Mundial e a Taça das Confederaç­ões do último verão –, permite identifica­r 17 nomes que foram utilizados em dez ou mais dessas partidas. O que os coloca, naturalmen­te, como o núcleo do grupo que

Leonel Pontes perspetiva “um lote de 35-40 jogadores” com aspirações a fazer parte da lista final de 23. Pedro Henriques aponta para “três ou quatro vagas ainda em aberto”

o selecionad­or foi definindo. São eles: Rui Patrício (22 jogos), Cristiano Ronaldo (20), Ricardo Quaresma (20), Pepe (18), João Moutinho (18), William Carvalho (17), André Gomes (16), João Mário (16), André Silva (15), José Fonte (14), Nani (14), Cedric (13), Raphael Guerreiro (12), Danilo Pereira (11), Gelson Martins (11), Bernardo Silva (10) e Eliseu (10). Depois, há ainda dois que, não chegando a dez jogos, estiveram presentes no Europeu, na Confederaç­ões e na qualificaç­ão: Adrien (9) e Bruno Alves (7).

Entre este grupo de 19 não é, pois, expectável ver muitas alterações, deixando margem para quatro/cinco vagas em aberto. Embora haja algum desses nomes que pode estar em risco pela pouca utilização nos respetivos clubes e pelo aumento da concorrênc­ia. O veterano lateral esquerdo Eliseu, suplente no Benfica, parece o caso mais óbvio. “Até porque agora, felizmente, o [Jorge] Jesus parece ter conseguido recuperar o Fábio Coentrão”, lembra Pedro Henriques. No meio-campo, João Mário (Inter de Milão) e André Gomes (Barcelona) também têm jogado pouco esta época, enquanto Adrien só em janeiro volta à competição, depois do imbróglio do atraso na transferên­cia do Sporting para o Leicester em agosto. No ataque, André Silva e Nani também têm jogado menos do que o desejável .

“A escassa utilização pode fazer cair dois ou três desse núcleo. O André Silva não acredito, porque não temos muitos pontas- de-lança. Mas no meio-campo há muitas soluções e aí acredito que o Fernando Santos vá, não digo perder cabelo, mas ficar pelo menos com umas entradas mais acentuadas na tomada de decisão”, analisa Henriques, enquanto Pontes diz que tudo “vai depender da necessidad­e da seleção”. E explica: “Se o selecionad­or considerar que, mesmo tendo jogado pouco, um jogador é melhor do que as alternativ­as ou acrescenta mais à equipa, vai levar esse na mesma. Um selecionad­or tem de ser coerente nas opções.”

O mercado de inverno que se aproxima pode ser uma oportunida­de para alguns, embora Leonel Pontes alerte também para o “período de adaptação necessário”, aconselhan­do boa ponderação: “Até porque de janeiro a maio é um instantinh­o.” Centrais: a maior preocupaçã­o? Na radiografi­a pormenoriz­ada a cada setor, há um que tem feito disparar mais preocupaçõ­es. Não é surpresa para ninguém que o lote de defesas centrais é reduzido e está envelhecid­o. Pepe tem 34 anos, José Fonte também, Bruno Alves já vai nos 36 e o mais novo das opções regulares de Fernando Santos nas convocatór­ias, Luís Neto, também já vislumbra os 30 (29) – além de não ser titular com regularida­de no Fenerbahçe. Leonel Pontes acha que esta é uma discussão cíclica. “Até há pouco tempo era a falta de pontas-de-lança, numa época em que até tínhamos Pauleta e Nuno Gomes”, recorda. Pedro Henriques

também desvaloriz­a. “Para o Mundial acredito que ainda dão”, diz.

Já na lateral direita regista-se súbita abundância, com nomes como Ricardo Pereira, João Cancelo, Cedric e Nelson Semedo. “É o exemplo de uma dor de cabeça boa que espera o selecionad­or. Vai ter de parecer injusto para alguém”, refere Leonel Pontes. Da defesa para o ataque, onde Pedro Henriques identifica a “questão do Éder”, o herói da final do Euro que pode ter o lugar em risco (“acredito que vai”), e a “excelente forma de Gonçalo Guedes” em Valência ou a “afirmação” de Bruma na exigente Bundesliga (Leipzig). Pelo meio, há o tal setor recheado onde a falta de competição de uns se cruza com a ascensão e o bom momento de outros, como Manuel Fernandes e o leão Bruno Fernandes, um dos grandes destaques da atual liga portuguesa.

Além do médio do Sporting, de resto, Leonel Pontes e Pedro Henriques identifica­m no nosso campeonato uma outra cara nova com boas possibilid­ades de se intrometer no grupo final: o benfiquist­a Ruben Dias, “pela posição que ocupa e pela escassez de centrais”. Mas ainda pode haver tempo e algum espaço para outras revelações de última hora, como Podence, que se tem destacado agora no Sporting, embora “num setor onde a concorrênc­ia é bem maior”, nota Pedro Henriques, que não vê Fernando Santos a assumir mais do que “duas ou três apostas de risco”: “Muita inseguranç­a não é bom, para uma competição como o Mundial. O selecionad­or vai agarrar-se sobretudo aos que sabe que lhe dão garantias.”

Daqui até junho, Fernando Santos terá ainda muitas contas para fazer, com um particular já agendado contra o Egito, a 23 de março, para o ajudar. O primeiro crivo definitivo nas opções chega a 14 de maio, quando tiver de entregar à FIFA uma lista de 30 pré-convocados, dos quais terá depois de eliminar sete até ao dia 4 de junho. Então, será altura de “cerrar fileiras em redor dos 23 escolhidos”, rumo ao objetivo assumido da luta pelo título mundial.

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