PSD vai escolher novo líder e para Marques Mendes, com um projeto mobilizador, pode ganhar eleições.
Os dois candidatos enfrentam-se no dia 13 de janeiro. Um deles vai protagonizar a nova oposição a António Costa, numa fase de desgaste do governo
As eleições de 13 de janeiro para a sucessão de Pedro Passos Coelho vão marcar não só o arranque do ano político como também o ritmo com que vai ser feita a oposição ao governo de António Costa. Rui Rio ou Pedro Santana Lopes? Os cerca de 50 mil militantes do PSD com quotas em dia, num universo de 101 mil, vão decidir quem querem ver na liderança do partido.
As diretas no PSD são importantes sobretudo porque ocorrem na segunda fase do ciclo governativo, precisamente aquela em que os governos já perderam o estado de graça e são julgados com maior severidade pelos eleitores. “Abriu-se uma janela de oportunidade para o PSD e por isso estas eleições internas são tão importantes”, afirma ao DN o antigo líder social-democrata Marques Mendes.
A “oportunidade” nasce, na opinião de Marques Mendes, de “uma grande degradação da imagem do governo”, que deriva das tragédias que ocorreram no país e das polémicas em que tem estado envolvido. Os incêndios, o surto de legionela, os casos de Tancos e até os das viagens da Galp e da Raríssimas têm deixado mazelas. “A situação atual comparada com a de há seis meses é muito diferente, parecia que a vitória do PS era inevitável, até se adivinhava a possibilidade de maioria absoluta. Agora é provável mas já não é segura”, sustenta o antigo líder do PSD. “Se o futuro líder do PSD conseguir condições para ter um projeto mobilizador, poderá ganhar as eleições”, diz.
É por isso que Rui Rio ou Santana Lopes vão protagonizar um momento crucial no futuro próximo do partido. Em 2019, um deles irá a eleições legislativas contra António Costa. “Saber se o novo líder será de transição ou irá perdurar, só se poderá responder após outubro de 2019”, frisa Marques Mendes. Se o PS ficar longe da maioria absoluta poderá ser, afirma o também conselheiro de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa, um salvo-conduto para que o futuro presidente social-democrata se mantenha até melhor oportunidade eleitoral.
Ninguém no PSD dá como garantida a vitória de um dos candidatos, mesmo que as sondagens apontem para Rui Rio. As bases do partido, as que votam nas diretas, podem ter uma opinião diferente do eleitorado em geral. “A campanha interna e a escolha do líder vão ser moldadas pela perceção sobre qual deles terá a maior possibilidade de ganhar eleições”, afirma António Costa Pinto. O politólogo sublinha que “a comunidade militante vê quem consegue ganhar eleições nacionais e regionais” e é nessa personalidade que irá apostar o seu voto. As sondagens, porque apontam uma tendência externa, acabam por ter algum peso interno.
Para António Costa Pinto, os dois candidatos à liderança do PSD têm feito campanha e adotado uma postura que visa responder aos seus pontos fracos. Santana Lopes aparece como o “federador” para, diz, “apagar a marca de instabilidade que caracterizou o seu passado político”. Rui Rio tem andado a correr contra a “imagem fria e tecnocrática” que criou na política.
Mas seja “choque de personalidades” ou mera necessidade de construção de imagem, os dois potenciais sucessores de Passos Coelho vão “posicionar-se ao centro”, mesmo que qualquer deles se demarque de potenciais convergências com o PS. Um ou outro entram no combate político com a chave para rejeitar as polémicas alterações à lei de financiamento dos partidos – devolução do IVA e fim do teto máximo dos donativos.
No domínio das potenciais alianças, o PSD também tem vantagens naturais nas próximas legislativas. A governação PS é apoiada por dois partidos à esquerda, que competem todos entre si, e cuja aliança não é a mais natural. Nos dois próximos anos, à medida que se aproximem as eleições, vão acentuar-se as diferenças. “À direita, PSD e CDS têm, se quiserem, uma coligação natural e partem sem competidores no espaço político que ocupam. O PSD de Santana ou de Rio pode ensaiar o discurso ao centro que quiser, que não terá nada a perder”, remata Costa Pinto.