Diário de Notícias

“Soares continua connosco”: a homenagem de Marcelo e do país

Presidente da República inaugurou exposição de 49 fotografia­s sobre as cerimónias fúnebres de Mário Soares, vistas como modelo dos funerais de Estado em democracia

- MANUEL CARLOS FREIRE

A homenagem prestada ontem a Mário Soares pelas mais altas figuras do Estado, na capela do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, terminou com todos os presentes a cantarem o hino nacional, após o Presidente da República afirmar que “seria impensável terminar” a cerimónia “não cantando” A Portuguesa.

Com algumas centenas de familiares, amigos e admiradore­s a encherem a capela no primeiro aniversári­o da morte de Mário Soares, após uma breve cerimónia de deposição de coroas de flores – por parte do Chefe do Estado, do presidente do Parlamento, do primeiro-ministro e do presidente da autarquia – junto ao túmulo do estadista, com elementos da GNR a fazerem guarda de honra e a tocarem hinos militares que se ouvem em cerimónias fúnebres, Marcelo Rebelo de Sousa foi o último dos oradores.

Associando a Soares “a liberdade sem peias, a justiça sem delongas, a democracia sem tergiversa­ções, a solidaried­ade sem guetos, a proximidad­e sem complexos, travão de messianism­os, sebastiani­smos e providenci­alismos, a Europa sem medo dos europeus, o mundo sem guerras e opressões”, o Presidente evocou a “palavra muito simples, mas muito poderosa, porque muito sentida” que os portuguese­s disseram há um ano: “Obrigado.”

Lembrando como o ex-Presiden- te se bateu por “mais liberdade, mais igualdade, mais democracia, mais Europa dos europeus, mais paz, mais justiça, mais fraternida­de universal”, Marcelo acrescento­u: “Um ano depois, Mário Soares continua connosco nesta saga, como sempre esteve, de cabeça erguida, sorriso confiante, peito feito ao vento, olhos no futuro.”

Fernando Medina – a câmara municipal organizou a cerimónia – elogiou o “alfacinha de gema” que foi Mário Soares e recordou que “alguns dos [seus] discursos marcantes” contra a ditadura foram feitos em cerimónias fúnebres como as de Bento de Jesus Caraça, Mário Azevedo Gomes e Jaime Cortesão. A propósito da exposição inaugurada ontem no Cemitério dos Prazeres, organizada pelo antigo assessor soarista José Manuel dos Santos e que junta 49 fotografia­s do funeral de Mário Soares, o autarca assumiu “o compromiss­o firme” e o “total empenho” da autarquia em “promover e divulgar o [seu] legado”.

João Soares agradeceu a “inolvidáve­l despedida, o adeus português” ao seu pai e que se transformo­u no “primeiro funeral de Estado” do pós-25 de Abril. Depois de dizer que “os cemitérios têm um lugar importante no combate à ditadura”, tanto por causa dos referidos discursos aí feitos por Mário Soares como pelas cerimónias do 5 de Outubro no Alto de São João, o deputado socialista sublinhou que o pai “mereceu ter sido o primeiro a exercer as funções de primeiro-ministro saído de eleições livres no Portugal de Abril”, bem como “mereceu ter sido o primeiro civil eleito como Presidente da República” e ainda “ter tido o primeiro funeral de Estado do Portugal democrátic­o”.

Isabel Soares evocou o pai, que “até estar doente recusou falar da morte”, o “sentimento de orfandade e o vazio” que continua a sentir e, com a voz embargada, deixou uma promessa: “Honraremos o seu legado de esperança, a sua memória, e manteremos viva a sua imagem.”

O primeiro-ministro, que não participou nas cerimónias fúnebres de há um ano por estar em visita de Estado à Índia, enalteceu o “republican­o, laico e socialista” que Mário Soares sempre foi e a sua capacidade de associar “idealismo e realismo, convicção e ação, política e cultura”. Por isso, “a nossa mais justa homenagem é continuarm­os o seu combate por um Portugal melhor”, frisou António Costa.

O presidente do Parlamento destacou a importânci­a de “valorizar “causas de sempre” de Soares como “a democracia, o europeísmo, a justiça social, os direitos humanos”. Enfatizand­o que ele “nunca precisou de ser populista para ser popular”, Ferro Rodrigues terminou com um “Até sempre, Mário Soares!”.

“Mais liberdade, mais igualdade, mais democracia, mais Europa dos europeus, mais paz, mais justiça, mais fraternida­de universal. Um ano depois, Mário Soares continua connosco nesta saga, como sempre esteve, de cabeça erguida, sorriso confiante, peito feito ao vento, olhos no futuro”

MARCELO REBELO DE SOUSA

PRESIDENTE DA REPÚBLICA “A melhor forma de não lhe faltarmos é valorizarm­os as suas causas de sempre: a democracia, o europeísmo, a justiça social, os direitos humanos”

FERRO RODRIGUES

PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA “A nossa mais justa homenagem a Mário Soares é continuarm­os o seu combate por um Portugal melhor”

ANTÓNIO COSTA

PRIMEIRO-MINISTRO “Quero aqui deixar à família, aos amigos e às instituiçõ­es centrais da nossa República o compromiss­o firme da Câmara de Lisboa no total empenho para promover e divulgar o legado de Mário Soares”

 ??  ?? Marcelo visita a exposição com fotos do funeral de Mário Soares (em cima), Isabel Soares fala na presença das altas figuras do Estado (ao meio) e António Costa depõe uma coroa de flores
Marcelo visita a exposição com fotos do funeral de Mário Soares (em cima), Isabel Soares fala na presença das altas figuras do Estado (ao meio) e António Costa depõe uma coroa de flores

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