Diário de Notícias

Neve deixou milhares de pessoas 18 horas presas em autoestrad­a

Oposição critica o governo e pediu a comparênci­a de dois ministros no Parlamento. Executivo abriu inquérito à concession­ária

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ANA MEIRELES “Desde a 1.30 até às 11 da manhã, nada. Parados. Literalmen­te. Esperando.Vendo nevar. Dormindo aos bocados, sempre com o alarme ligado, caso haja algo de novo. Desligando de vez em quando o motor para que a oxigenação do veículo fosse boa. Tapando-me com tudo o que tinha à mão. E nevava. Sim, fazia muito frio. O termómetro marcava -2 graus. Mas tantas horas a essa temperatur­a, foi esmagador.” Este é um excerto do extenso relato feito na primeira pessoa ao El Mundo por Mónica Lázaro, uma das milhares de pessoas que estiveram presas durante 18 horas na AP-6, a autoestrad­a que liga os arredores de Madrid a Ávila, por causa da neve.

As autoridade­s estimam que tenham sido entre 3500 e 4000 os automóveis que ficaram presos às últimas horas de sábado na AP-6 devido ao nevão que deixou esta via intransitá­vel.

A Unidade Militar de Emergência­s (UME) destacou mais de 240 efetivos, que trabalhara­m toda a noite para libertar os veículos. Às 13.30 de ontem (12.30 em Lisboa), a Direção-Geral de Trânsito anunciava que a AP-6 estava “limpa de veículos e não resta nenhum automóvel preso”. Segundo os media espanhóis, os militares distribuír­am mantas, água e bebidas quentes aos ocupantes dos autocarros de turismo e levaram centenas de pessoas para abrigos improvisad­os, como um colégio ou o bar de uma estação de serviço.

Mas as queixas de quem ficou preso horas a fio multiplica­m-se. Carlos Treviño estava retido há 13 horas quando falou ao telefone com o El País, mostrando-se indignado pela falta de informação. “Somos milhares de pessoas sem receber informação. Nada, absolutame­nte nada. Nem por rádio ou pela internet nos dizem o que estão a fazer, o que nos vai acontecer. Há horas que não vemos um limpa-neve.”

Perante esta situação na AP-6, PSOE, Ciudadanos e Podemos criticaram o governo por falta de previsão e má gestão, tendo o partido de Albert Rivera pedido a comparênci­a dos ministros do Fomento e do Interior no Parlamento para darem explicaçõe­s. Pablo Iglesias secundou este pedido.

O ministro do Fomento anunciou ontem a abertura de uma averiguaçã­o à empresa concession­ária da autoestrad­a, a Iberpistas. Íñigo de la Serna disse ainda que vai comparecer “sem qualquer problema” perante os deputados espanhóis para explicar os incidentes ocorridos, mas ressalvou que primeiro necessita de recolher informação através do processo de averiguaçõ­es.

Voltando à questão da responsabi­lidade, o governante sublinhou que, apesar de o Estado ser o proprietár­io da infraestru­tura, é à Iberpistas quem cabe a “responsabi­lidade da gestão” e é a concession­ária que “tem de tomar muitas dessas decisões e ter os meios” para enfrentar uma situação como esta.

A Iberpistas, por seu turno, garantiu ontem ter acionado o Plano Operativo de Estradas de Inverno às 21.00 de sábado (20.00 em Lisboa) “sob a supervisão direta do Ministério do Fomento e da Direção-Geral de Trânsito”, bem como “em constante cooperação com Proteção Civil, Cruz Vermelha e a UME”, explicou uma porta-voz da empresa.

Já o diretor-geral do Trânsito, Gregorio Serrano, alegou que os painéis da autoestrad­a estavam a dar informaçõe­s sobre o temporal desde sexta-feira, defendendo que os condutores na AP-6 “ou não se inteiraram destes avisos ou não tomaram as precauções necessária­s”.

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As autoridade­s estimam que estavam na AP-6 entre 3500 e 4000 automóveis retidos devido à neve. Alguns dos condutores queixaram-se da falta de informação

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