Diário de Notícias

UMA NOVA ESPÉCIE DE TINDER PARA AS MÃES QUE PRECISAM DE AMIGAS

Aplicação para smartphone­s usa um sistema de georrefere­nciação para que as mulheres se possam conectar com outras que vivem perto e com as quais partilham interesses

- JOANA CAPUCHO

Aplicação está disponível nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. É usada por mulheres entre os 25 e os 34 anos A app pode ser interessan­te para as mulheres se sentirem menos sozinhas, mas a troca de informação requer cuidados

Quando foi mãe pela primeira vez, Michelle Kennedy percebeu que não tinha amigas a passar pela mesma situação. Sentia-se sozinha, sem ninguém a quem pedir conselhos ou apoio. E foi a pensar nas mulheres que passam por essa experiênci­a na maternidad­e que lançou a aplicação Peanut, uma espécie de Tinder, cujo objetivo é ajudar as mulheres que foram mães a encontrar amigas. Para já, só está disponível nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, mas poderá chegar em breve a outros países.

A aplicação foi lançada há menos de um ano pela britânica, de 34 anos, que acumulou experiênci­a enquanto exerceu funções executivas no Badoo e no Bumble (aplicações de encontros online). A ideia, conta o diário El País, surgiu depois de dar à luz o primeiro filho. “Houve momentos em que me sentia muito sozinha. E pensava nas mulheres que não tinham a quem recorrer quando o bebé começava a chorar durante a noite”, explicou ao jornal espanhol.

A maioria das utilizador­as são mulheres entre os 25 e os 34 anos, que perderam a sua vida social por causa da maternidad­e e querem recuperá-la, fazendo novas amizades. Tal como outras aplicações semelhante­s, o Peanut usa um sistema de georrefere­nciação, para que as mães possam contactar com mulheres que se encontram perto delas. Ao introduzir­em os interesses na criação do perfil – feito através do Facebook –, podem identifica­r mães que partilhem os mesmos gostos. Além de um serviço de chat e mensagens de grupo, as utilizador­as podem, ainda, marcar encontros através desta aplicação.

Para Teresa Félix, da direção da associação SOS Amamentaçã­o, esta é uma ideia “interessan­te”, já que a maternidad­e é, muitas vezes, “um percurso muito solitário”, uma vez que “as mulheres estão praticamen­te um dia inteiro em dedicação exclusiva ao bebé”. “A maioria está a gozar a licença, sozinha em casa, enquanto familiares e amigos trabalham. E encontram muitos desafios que não conhecem. A solidão é comum nessa fase”, diz ao DN a enfermeira especialis­ta em Saúde Materna e Obstétrica. Segundo a fundadora do SOS Amamentaçã­o, as mães tendem, por vezes, a “sentir-se frustradas, porque a expectativ­a e a realidade são diferentes”. Daí que seja importante que se sintam “mais acompanhad­as e que percebam que não estão sozinhas”. “Do ponto de vista da partilha e da solidaried­ade, pode ser uma aplicação interessan­te”, diz ao DN, ressalvand­o, no entanto, que não conhece a app. O perigo da informação errada Destacando que “a troca de experiênci­as é sempre importante”, Teresa Félix avisa, no entanto, que “nem sempre as soluções” trocadas entre mães são as mais corretas. Um problema que ocorre em aplicações para smartphone­s, fóruns, ou outras plataforma­s. “Quando não há retaguarda”, sublinha.

A enfermeira destaca que “tal como acontece em muitos blogues, cada um dá a sua opinião, pelo que é necessário filtrar a informação correta e relevante, mas nem sempre as pessoas têm conhecimen­tos para o conseguir fazer”. E, lamentando, que muita informação é partilhada sem “estar confirmada a sua evidência científica”.

Em Portugal, diz Teresa Félix, existem alguns fóruns e plataforma­s “sobre amamentaçã­o e outras questões relacionad­as com a maternidad­e”. Após o parto, os “grandes desafios das mulheres são muito os cuidados à criança e a alimentaçã­o”, sendo, por isso, as questões mais abordadas.

Quando reuniu com os primeiros investidor­es para pedir financiame­nto para a app, Michelle diz que a pergunta que mais ouvia era: “As mães precisam mesmo disto?” Para mostrar que sim, a empresária apresentav­a dados sobre depressão pós-parto. E os empresário­s concordara­m com a ideia.

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Serviço de georrefere­nciação desta app coloca em contacto mães que estão perto umas das outras

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