Bloco de Esquerda questiona governo sobre fim da IVG
Diretor do departamento de obstetrícia, em esclarecimento ao DN, assume que proposta de encerramento da consulta foi sua
SAÚDE “O BE considera que o encerramento da consulta de IVG do Hospital de Santa Maria constitui um retrocesso grave que não pode nem deve ser encarado de ânimo leve. O direito à IVG encontra-se consagrado na lei e tem de poder ser exercido livremente pelas mulheres que assim o decidam. Não se compreende que um hospital importantíssimo e altamente diferenciado como o HSM , que forma médicos especialistas em ginecologia/obstetrícia, prive os seus internos desta valência de aprendizagem. Não se compreende que um hospital central com a dimensão do HSM não tenha profissionais para assegurar a consulta de IVG. Não se compreende que esta consulta tenha sido encerrada e não haja previsão de reabertura.”
Esta tomada de posição do BE, expressa num requerimento entregue nesta tarde no Parlamento, surge na sequência da notícia hoje publicada pelo DN, em que se dá conta da decisão do Hospital de Santa Maria de suspender “por tempo indeterminado”, a referida valência, alegando falta de enfermeiros especialistas. De acordo com a enfermeira diretora da unidade, Catarina Batuca, saíram já duas enfermeiras especialistas e vão sair mais duas, e aquela que estava colocada em dedicação exclusiva na consulta encontra-se em licença de parto.
No requerimento, o BE questiona o Ministério da Saúde sobre o seu conhecimento da decisão e sobre a data em que prevê que a consulta volte a funcionar, assim como sobre quantos enfermeiros com a especialidade de obstetrícia e saúde materna existem no hospital e qual o número necessário para assegurar a consulta – dados que o DN tentou insistentemente obter e que não foram adiantados nem pelo diretor do departamento de obstetrícia, Carlos Calhaz Jorge, nem pela responsável da enfermagem.
Por sua vez, o diretor do departamento, Carlos Calhaz Jorge – que terá sido nesta manhã chamado à administração para uma reunião sobre o caso – enviou um “desmentido/clarificação” ao DN no qual assume que o encerramento da consulta foi uma proposta sua – facto que não havia adiantado quando foi questionado pelo jornal sobre a origem da decisão, tendo falado de “uma proposta da estrutura de enfermagem” e, quando perguntado sobre se concordava, respondeu “como podia não dar o meu acordo?”. Agora, afirma: “Na realidade, a proposta partiu, como teria de partir, do diretor do departamento.” FERNANDA CÂNCIO