Diário de Notícias

Coligação entre Merkel e Schulz está agora nas mãos do SPD

Acordo de princípio entre CDU e os sociais-democratas inclui cedência da chanceler em relação à entrada de refugiados

- ANA MEIRELES

Os líderes do SPD têm até dia 21 para convencer os seus militantes a deixarem de lado as dúvidas e aprovarem o acordo de princípio conseguido ontem para prolongar a chamada “grande coligação” com Angela Merkel por mais quatro anos. Este entendimen­to, traduzido em 28 páginas, coloca fim a meses de incerteza após as legislativ­as de setembro e umas negociaçõe­s frustradas entre a CDU da chanceler alemã, o FDP eVerdes.

“O mundo não vai esperar por nós”, declarou Angela Merkel ontem de manhã, após 25 horas de negociaçõe­s com o SPD, liderado por Martin Schulz, e a CSU, a irmã bávara da CDU. “Mantivemos conversaçõ­es intensas, sérias e profundas. O documento resultante disso não é um documento superficia­l, é a expressão das nossas intenções de fazer o que podemos para que os alemães continuem a viver uma boa vida nos próximos dez a 15 anos”, prosseguiu a chanceler.

Martin Schulz, o líder do SPD, admitiu que tinha sido complicado chegar a um entendimen­to. “Nas nossas conversaçõ­es desta noite percebemos que somos partidos diferentes, que temos ideias e programas diferentes. A arte de formar uma coligação é alcançar um compromiss­o acordado pelos dois partidos e que também beneficie os cidadãos e eleitores deste país.”

Mas entre as fileiras do SPD há quem, como o líder da juventude do partido, Kevin Kuehnert, ache que este acordo tem poucas concessões para os sociais-democratas, que depois de quatro anos de coligação com Merkel sofreu o seu pior resultado nas eleições de setembro desde 1933. A decisão final está agora nas mãos dos militantes do SPD, que se reunirão num congresso extraordin­ário marcado para dia 21 para aprovar, ou não, o acordo de princípio assinado com a CDU. O grande problema poderá estar na ala esquerda do partido, que já estava cética com a possibilid­ade de uma reedição da “grande coligação”e não viu parte das suas exigências – como o aumento dos impostos para os mais ricos – transposta­s para o documento ontem assinado.

CDU e SPD acordaram gastar mais na União Europeia – ficando longe da ambição de Schulz em criar uns “Estados Unidos da Europa” até 2025 e a intenção dos sociais-democratas em criar um regi- me de paridade entre os sistemas de saúde público e privado.

Merkel, que permitiu a entrada na Alemanha de mais de um milhão de refugiados, cedeu nesta questão, estando no acordo de princípio o estabeleci­mento de um teto máximo entre 180 e 220 mil por ano. O atual governo, composto precisamen­te por CDU-CSU e SPD, havia suspendido o direito dos refugiados com um “estatuto de proteção limitado” de trazer as suas famílias para a Alemanha. Agora estabelece­ram que haverá um limite de mil pessoas por mês.

Merkel parece ter noção de que o o conteúdo das 28 páginas deste acordo de princípio ficou aquém das expectativ­as do SPD em algumas áreas. “As negociaçõe­s para uma coligação provavelme­nte não serão mais fáceis do que as conversaçõ­es iniciais”, declarou ontem, adiantando esperar concluir negociaçõe­s formais até meados de fevereiro para dar tempo ao SPD para ouvir os seus militantes sobre um acordo final. Caso estas negociaçõe­s falhem, a chanceler terá duas opções: tentar governar com um governo minoritári­o ou apresentar-se a novas eleições.

Macron e Juncker satisfeito­s O presidente francês deu as boas-vindas ao acordo de princípio entre Angela Merkel e Martin Schulz, dizendo que os seus termos são bons para a Europa. “Tivemos nesta

manhã boas notícias do outro lado do Reno”, declarou Emmanuel Macron. “Precisamos de mais Europa e, pelo que vi do acordo provisório, reconhece isso.”

Os termos do acordo são mais favoráveis ao projeto europeu do que as tentativas anteriores de Merkel formar governo, no final do ano passado, prosseguiu Macron, mostrando-se satisfeito por ver que o acordo faz eco das suas próprias propostas.

No entanto, quando questionad­o sobre os planos de transforma­r o Mecanismo Europeu de Estabilida­de (MEE) num Fundo Monetário Europeu, como consta do documento de 28 páginas do acordo entre CDU e SPD, o presidente francês mostrou-se mais cético. “Precisamos de finalizar a união bancária”, afirmou Emmanuel Macron, sublinhand­o que o MEE precisa de sofrer algumas mudanças. “Mas não penso que precisamos de um novo instrument­o para tal.”

“Eu sei o que é o Fundo Monetário Internacio­nal, mas tenho dificuldad­e em ver o que é um Fundo Monetário Europeu, se não trazer alguma potencial confusão entre vários instrument­os... cujos objetivos são diferentes”, disse ainda o líder francês.

Já o presidente da Comissão Europeia mostrou-se “completame­nte satisfeito”. “É uma contribuiç­ão positiva, construtiv­a e orientada para o futuro” da União Europeia, acrescento­u Jean-Claude Juncker.

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 ??  ?? Acordo de princípio foi anunciado por Horst Seehofer (CSU), Angela Merkel (CDU) e Martin Schulz (SPD) após 25 horas de negociaçõe­s. Wolfgang Schäuble, ex-ministro das Finanças, é agora presidente do Parlamento
Acordo de princípio foi anunciado por Horst Seehofer (CSU), Angela Merkel (CDU) e Martin Schulz (SPD) após 25 horas de negociaçõe­s. Wolfgang Schäuble, ex-ministro das Finanças, é agora presidente do Parlamento
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