Diário de Notícias

A pianista toca amanhã, ininterrup­tamente durante 14 horas, na Gulbenkian, peça de Erik Satie, feita para ser repetida durante 840 vezes. A está integrada no ciclo Pianomania!, que neste mês leva à fundação concertos e filmes que têm o piano como figura

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lhe conhece. Quanto ao número 840, Joana diz que poderá estar “relacionad­o com a série de Lucas, que tem que ver com proporções, e que ele usou noutras peças; ou pode ter questões esotéricas, ele também era um amante de esoterismo”. Todavia, como “pode ter várias leituras e não havendo uma razão que se conheça para terem de ser 840 vezes”, a pianista afirma não se ter preocupado em tocar esse número em Viseu, e o mesmo acontecerá amanhã. “A partitura diz ‘muito lento’, por isso eu toco à velocidade que sinto as repetições que acontecere­m naquele dia. É relativo.” A preparação física Quando, a 9 de julho de 2016, Joana se levanta do piano às 04.30 da madrugada, “não sabia se ia cair para o lado. Estavam algumas pessoas. Algumas tinham estado lá a dormir”, recorda. Na preparação do corpo para tocar aquela “música muito intensa”, espécie de maratona do deserto, Joana está a ser “acompanhad­a por pessoas ligadas ao lado físico e à nutrição para preparar o meu corpo para estas 14 horas. Estou a desacelera­r o metabolism­o aos poucos para que o corpo esteja um bocado quase adormecido”, para que não peça “água, nem comida, nem descanso”. É importante, acrescenta, “não gastar muita energia nem comer demasiado, dormir bem, fazer exercícios para fortalecim­ento do corpo”.

No final de 2016 editou o disco Harmonies, em que Satie volta a ser uma peça fundamenta­l. Mas até há sete anos, como muitos, Joana conhecia do compositor apenas as Gymnopédie­s, tão usadas no cinema e noutros meios. “Se querem pôr alguém a chorar, pronto: põem a Gymnopédie n.º1.” Depois mergulhou a fundo no universo Satie.

“As peças dele são um bocado como os livros pop-up: dali saem coisas inusitadas e que nos põem depois em relação com outras. Não sinto o peso de especialis­ta, porque não sou, mas sou uma amante da sua obra, e gosto que ela me faça ir para outros mundos. Tal como me faz pensar em questões de nutrição e de preparação física para a obra Vexations, faz-me ir buscar desenhos para fazer o concerto que tenho feito para crianças, e nesse concerto falo de arquitetur­a, de geografia, de animais marinhos, tudo a partir da obra de Satie”, conta a pianista.

Além da possibilid­ade de assistir ao vivo à performanc­e de Joana Gama, esta será transmitid­a em

pela Gulbenkian.

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