A biografia total sobre Clarice Lispector de Benjamin Moser
Apróxima biografia de Benjamin Moser será sobre Susan Sontag, o que após se ler a que agora está a ser lançada sobre a escritora “brasileira” Clarice Lispector causa uma grande curiosidade, quanto mais não seja para ver como vai interpretar a intelectual norte-americana muito recente e com opiniões bem contemporâneas.
Intitulado Porquê Este Mundo – Uma Biografia de Clarice Lispector, o trabalho data de 2009 e foi muito comentado na imprensa internacional. É o caso positivo da The New York Times Book Review que definiu o volume com mais de 600 páginas como “uma biografia viva, ardente e intelectualmente rigorosa” que “permitia colmatar a falha [o desconhecimento de Clarice Lispector] de ainda ter de conquistar o lugar que lhe compete nos cânones literários”. E o caso menos positivo, devido a um parágrafo publicado na edição brasileira em que a redação adquire um carácter alegadamente “racista”. No seguimento destas críticas, Moser retificou a passagem mas adiou explicações. No entanto, não deixou de apontar os efeitos benéficos do seu trabalho, explicando que após a biografia renasceu um interesse na obra da escritora e foram feitas várias traduções para a língua inglesa, como uma recolha de Todos os Contos, que abrangia todos os seus 85 textos deste género – volume que foi definido como um dos cem melhores livros do ano nos EUA – e que foi (re)traduzido para a língua portuguesa em seguida, como aconteceu em Portugal pela Relógio d’Água em 2016.
A obra da autora está traduzida em mais de trinta línguas e nos últimos anos passou a ser lida e estudada em vários países, situação que Benjamin Moser considera ter ajudado com alguma popularização que a sua biografia efetuou junto dos potenciais leitores. O biógrafo avança mesmo que na última década e meia tudo tem feito para que a redescoberta da autora a reponha no seu “devido lugar: entre os grandes escritores”.
A biografia resulta de uma investigação em arquivos de três continentes e da consulta de originais inéditos e toda a informação publicada na imprensa que ilustram todo o percurso de vida de Clarice Lispector desde o nascimento, as vivências no Recife e no Rio de Janeiro, bem como quando acompanha o marido, diplomata em Nápoles, Berna e Washington.
O capítulo inicial da biografia aponta muito do caminho que Benjamin Moser percorre neste retrato, contando a sua passagem pelo Egito e o confronto com a esfinge, onde Lispector garante que nem decifrou nem foi decifrada pelo imponente monumento de Gisé, tema que o autor reinterpreta deste modo: “Quando morreu, em 1977, era uma das figuras míticas do Brasil, a Esfinge do Rio de Janeiro, uma mulher que fascinava os seus compatriotas.” A partir dessa introdução, Moser faz uma análise da vida de Clarice Lispector ao milímetro, com muitos enquadramentos de amigos e conhecido seus contemporâneos, as traduções que fazia, as dificuldades em editar e, principalmente, a conceção de uma obra muito original e fundadora.
O resultado desta investigação é tão surpreendente que nas referências impressas na contracapa estão feitas as seguintes afirmações: de Orham Pamuk: “Uma das escritoras mais misteriosas do século XX é finalmente revelada com as suas cores vibrantes”; de Colm Tóibín: “Uma pesquisa original e rica em detalhe.” Como nenhum destes autores é para brincadeiras, os leitores ficam já com uma opinião desinteressada.
Como refazer a vida de uma das mais enigmáticas escritoras que o Brasil conheceu? A resposta está em muito nesta biografia