O jogo que já tem mais adeptos do Braga do que do Benfica
Quim e César Peixoto jogaram nos dois clubes. Ex-extremo garante que hoje em dia, em Braga, a equipa da casa tem mais apoio
À boca cheia ou à boca pequena, em círculos restritos ou mais alargados, o Sporting de Braga foi visto em termos de indentidade ao longo dos tempos como o Benfica do Norte do país. Hoje em dia as coisas mudaram e já não são bem assim. Apesar de serem clubes amigos, uma amizade até denunciada por Sporting e FC Porto, os bracarenses têm dado amargos de boca aos encarnados da capital – quem não se lembra da meia-final da Liga Europa em que o Sp. Braga afastou o Benfica da final de Dublin com o FC Porto?
César Peixoto é minhoto de nascimento, representou duas temporadas o Sporting de Braga e mais duas o Benfica. Logo, fala com conhecimento de causa dos emblemas que se defrontam esta noite na Pedreira, que outrora vibrava mais com os golos do clube da Luz.
“Antes havia muitos benfiquistas em Braga e hoje em dia já há mais adeptos do Sp. Braga do que do Benfica. A rivalidade é muito maior atualmente e acentuou-se quando Jorge Jesus saiu para o Benfica, numa altura em que eu fiz o mesmo percurso. E, muito sinceramente, acho que é uma tendência que vai continuar. Posso mesmo dizer que houve uma mudança radical, a massa adepta do Sp. Braga começou a crescer e a tendência de crescimento não cessou. Hoje em dia, as crianças em Braga são do Sp. Braga e só pelo Sp. Braga, quando antigamente eram Benfica e Sp. Braga e até mais Benfica”, explica o agora comentador de futebol, nascido em Caldas das Taipas, que vai ainda mais longe, dando a receita para que os minhotos atinjam o título nacional que o presidente António Salvador coloca como meta para o atual mandato. “À semelhança do Vitória de Guimarães, o Sp. Braga começa a consolidar-se como um grande clube, com uma massa adepta ferrenha, forte, coesa, que apoia só um clube. E isso é muito importante para uma equipa que cresceu muito em resultados e infraestruturas. Em definitivo, parece que a massa adepta está a acompanhar o crescimento do clube, chegando o mais perto possível dos grandes e este conjunto de circunstâncias pode levar a equipa a conseguir o almejado título”, explica César Peixoto.
Já Quim, formado no Sp. Braga e campeão nacional por duas vezes ao serviço do Benfica, vê o clube minhoto como uma ameaça para os denominados três grandes. “O Sp. Braga, na minha última época de Benfica, disputou o título até ao fim connosco. Meter-se entre os grandes é uma questão de tempo, está muito próximo. Ser campeão é um sonho do presidente e das gentes da cidade, o clube tem crescido e, se calhar, já o merece. Temos visto um Sp. Braga a crescer a olhos vistos”, sustenta ao DN o guarda-redes titular do Desp. Aves e futebolista mais velho da I Liga.
Motivação, pomo da discórdia No encontro desta noite há um sentimento que pode fazer a diferença: a motivação.
“A motivação é a mesma, de defender o nosso clube. Não senti diferença até porque cada vez mais o Benfica vê o Sp. Braga como um grande e o Sp. Braga sente-se cada vez mais um grande do futebol português”, refere Quim, que em oito jogos pelo Benfica apenas venceu uma vez o clube em que despontou.
César Peixoto, que não partilha da opinião de Quim, explica como se sentem os futebolistas minhotos e pormenoriza as diferenças. “É óbvio que a motivação é maior quando se está no Sp. Braga e se defronta o Benfica do que o inverso. O Sp. Braga é um clube que está muito perto dos grandes, inclusivamente em condições é igual aos grandes, mas o Benfica não deixa de ser o Benfica e é perfeitamente natural que os jogadores do Sp. Braga sintam uma motivação extra quando defrontam o Benfica, o FC Porto ou o Sporting. É totalmente diferente a forma como se encara um jogo destes quando estamos num clube médio, todos os olheiros vão estar atentos, há mais adeptos no estádio, é um jogo que mexe com muita coisa. Já o Benfica, jogue contra quem jogar, tem sempre muitos olhos a observar. Para um jogador do Benfica as coisas só fogem à normalidade quando jogam na Liga dos Campeões ou defrontam Sporting e FC Porto.” A aura de Rui Vitória e o mercado Desde que chegou ao Benfica, Rui Vitória conseguiu inclinar por completo o campo e os resultados em favor do tetracampeão nacional nos duelos com o Sp. Braga. Em sete encontros, seis triunfos e apenas um empate, precisamente no último jogo, realizado na Luz, a contar para a Taça da Liga e que, basicamente, acabou por hipotecar as possibilidades das duas equipas marcarem presença na final four.
Para César Peixoto, o Benfica se não ganhar esta noite vai acentuar a sua “crise de insegurança” de que está a tentar sair depois do clássico
O Benfica precisa de vencer hoje para se manter na luta pelo título, o mesmo acontece com o Sp. Braga para igualar os lisboetas no último lugar do pódio.
“O Benfica tem de aproveitar a embalagem adquirida no clássico para sair da crise, motivar-se e fazer um bom resultado para se colocar na luta até ao final. O Benfica tem melhores jogadores, melhor equipa, mais capacidade. É um jogo de tripla, mas a pressão está toda do lado do Benfica, que é quem tem de ganhar e precisa deste jogo”, sublinha César Peixoto que vê uma consequência mais profunda se as águias saírem de Braga sem os três pontos.
“Não sei se o Benfica fica fora do título se não ganhar, o que sei é que se não vencer, numa altura em que está a tentar sair de uma crise de insegurança, a crise vai agravar-se. Não duvidemos de que este é um jogo crucial para o futuro do Benfica até na forma como se vai movimentar no mercado, estando a equipa mais próxima do topo será mais fácil apostar em jogadores para atacarem o penta”, conclui o futebolista campeão europeu pelo FC Porto na época 2003-04.