Tancos 2018: o ano da reinvenção?
Em democracia (...) quem é eleito tem por obrigação defender os interesses e as expectativas dos que o elegeram: representa e protege os seus” ou “tem por obrigação orientar a articulação dos diversos interesses e a formação das variadas expectativas daqueles que o escolheram para governar: mobiliza e dirige todos”. As citações são de Joaquim Aguiar, sobre a mensagem de Ano Novo do Presidente da República. O ano da reinvenção (PR) versus reinventar o que não se inventa ( Joaquim Aguiar, no Negócios).
Será possível pensar o caso dos paióis de Tancos sem redutoras visões políticas ou militares? Esperar pela solução última via Presidente da República, perante a incapacidade congénita de sucessivos governos?
Será possível equacionar a Defesa/Forças Armadas, pelo país e pelas próprias, num sentido coletivo, nacional e patriótico? Numa perspetiva do que é necessário, desejável e possível?
A nível político, dominados pela visão paroquial do partido que cada equipa da Defesa traz consigo – aproveitar-se das vendas do vasto imobiliário do setor, usufruir das compras de sistemas de armas, reduzir despesas/efetivos limitados à base da pirâmide humana; a nível militar, na defesa do statu quo atingido na fase do crescimento da Guerra Fria e anos anteriores à crise de 2010 – a práxis das burocracias conforme Max Weber.
É um drama, aliás, presente nos exércitos europeus, ainda a viver as sequelas pós-imperiais, quando as Forças Armadas deixaram de fazer o que fazem hoje as dos Estados Unidos – defender os seus interesses no mundo. Com a União Europeia limitada a interesses numa parcela da África central e com as Forças Armadas a desempenhar no Mediterrâneo papéis de socorro aos fugitivos da anarquia exterior: que Forças Armadas e para quê? Com o sucedido em Tancos a poder repetir-se sob forma de farsas menores! Com quartéis despovoados, como os de Tancos, desprovidos há anos de postos de sentinela e rondas frequentes, sem que outros sistemas de segurança tenham sido adotados; envolvidos por um muro fácil de transpor, passíveis de intrusão a qualquer hora da noite com zonas de ninguém facilmente alcançadas por indivíduos estranhos.
A falta de uma polícia militar no Exército ao nível da “profissional” polícia da Força Aérea dá-nos conta do caminho a percorrer – profissionalizar de facto, juntar e rentabilizar. Abismal é a diferença entre entrar numa base aérea ou num dos quartéis disseminados pelo território.
Uma solução exigida desde a década de 90, com o fim do serviço militar obrigatório, a exemplo da resposta do Canadá a uma crise: reforma do Estado – professor Ricardo Reis (DN); estratégia militar estrutural – major Lemos Pires ( Instituto de Altos Estudos Militares).
Na voragem de programas eleitorais universais, jaz desde 2005 o do Ministério da Defesa Nacional/Estado-Maior da Defesa (PS), com Forças Armadas à medida do país. Peculiarmente, com a reforma Defesa 2020 (PSD) diretos ao deserto de Tancos-quartéis quase vazios aqui, para que outros se mantenham por aí.