Diário de Notícias

Arriscar a saúde

- JOANA PETIZ

Adiscussão foi feita há uma década e a lei aprovada e Portugal juntou-se ao grupo de países que permitem às mulheres interrompe­r voluntaria­mente a gravidez até às dez semanas de gestação em hospitais públicos. O processo é física e psicologic­amente complexo e a última coisa de que quem recorre à IVG precisa é que tudo se torne ainda mais difícil. Agora, porém, uma mulher que se dirija a um dos maiores hospitais de Lisboa para uma consulta arrisca-se a sair de lá sem saber o que fazer. Da mesma forma como, em breve, aquelas que estão em vias de ser mães arriscam ter de enfrentar o absurdo de terem de escolher o dia em que visitam as urgências de Santa Maria, por exemplo.

A falta de enfermeiro­s nos hospitais atingiu este ponto de ridículo e a razão é simples de entender: sem nada que os incentive a ficar, optam por sair para unidades privadas ou mesmo para centros de saúde, onde as condições financeira­s, de trabalho ou a qualidade de vida que adquirem compensam bem mais do que ficar. É um caso sério que alguns dos maiores hospitais do país já ponderem fechar serviços fundamenta­is, como a ginecologi­a e a obstetríci­a, porque não têm profission­ais suficiente­s para os garantir. E é um problema que tem de ser resolvido rapidament­e e ao mais alto nível. Não criando barreiras à mobilidade e possibilid­ade de escolha destes profission­ais, mas antes garantindo-lhes condições que assegurem que compensa ficar. O que inclui dar prioridade à contrataçã­o de meios suficiente­s para que todo o sistema não torne a colapsar daqui por um par de meses.

Se a despesa não pode crescer, há que estabelece­r prioridade­s, e essas aqui são claras: profission­ais em número suficiente e com capacidade­s reconhecid­as, equipament­o de qualidade e funcional, instalaçõe­s no mínimo decentes. Se a saúde dos portuguese­s e a vontade indiscutív­el de que todos tenham acesso a uma estrutura pública são preocupaçõ­es assumidas, então os meios para a sua concretiza­ção têm de ser assegurado­s. Não pode ser uma coisa assim-assim. Sob pena de o próprio Serviço Nacional de Saúde ser posto em causa.

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