Falem chinês
Avisita do ministro nos Negócios Estrangeiros chinês Wang Yi a São Tomé e Príncipe mereceu ontem destaque na Nova China, a agência noticiosa oficial. O pequeno país lusófono é um dos dois aliados diplomáticos conquistados pela República Popular da China a Taiwan (oficialmente República da China) desde que Tsai Ing-wen assumiu a presidência da ilha em maio de 2016. Depois, também o Panamá trocou de lealdade e especula-se que Pequim está a tentar que pelo menos mais um país latino-americano corte laços com Taipé.
Mais do que a importância política e económica destes países, está em causa o simbolismo do seu virar de costas a Taiwan, a ilha hoje democrática que em 1949 serviu de refúgio aos nacionalistas chineses do Kuomintang. Estes últimos, sempre que governaram, mantiveram-se firmes no ideal de reunificação, apesar de a China ser dominada pelos comunistas. Só que Tsai pertence a um partido visto com suspeitas por Pequim, pois há quem nas suas fileiras defenda a independência formal de Taiwan, algo inaceitável para a China, como já deixou claro o presidente Xi Jinping.
Tsai tem procurado um equilíbrio entre os que a apoiam e os interesses de Taiwan, que passam por uma cooperação económica e não só com a China. Mas a pressão de Pequim para que se afaste de vez da tentação independentista é fortíssima e vai desde ameaças bélicas até exigências a empresas para deixarem de se referir nos seus sites a Taiwan como um país, como aconteceu agora com a Zara, passando pela abertura de novas rotas aéreas no estreito de Taiwan sem acordo prévio de Taipé, que reagiu com dureza, falando até de riscos de segurança para a aviação civil.
No meio desta tensão, que contrasta com o desanuviamento de 2008-2016 com Ma Ying-jeou, existem apesar de tudo alguns sinais de que Pequim e Taipé, se quiserem, podem sentar-se à mesa e falar a mesma língua (em todos os sentidos): a notícia no final de 2017 que quase passou despercebida de um acordo para cooperação em satélites de vigilância de terremotos.