Diário de Notícias

MOODY’S TRANQUILA COM DÍVIDA E GERINGONÇA. RATING DO PAÍS PODE SUBIR EM ABRIL

Finanças. Agência de rating é a única que classifica a dívida nacional como lixo, mas já diz que não está preocupada com os próximos meses. “Risco político interno é muito baixo”, refere vice-presidente da empresa, Sarah Carlson

- LUÍS REIS RIBEIRO

A dívida de Portugal é considerad­a um bom ativo, não especulati­vo, pelas principais agências de rating, exceto pela Moody’s, que ainda classifica as obrigações da República como lixo. Isso deve mudar para melhor nos próximos meses. A Moody’s avalia Portugal já a 20 de abril. E no seu outlook relativo à zona euro em 2018, divulgado nesta semana, a agência de notação de crédito faz um retrato bastante benigno da situação geral portuguesa e da gestão política e orçamental seguida. E revelou estar tranquila com o caminho que deve ser seguido este ano. Esta previsão é feita numa janela de 12 a 18 meses.

Há, claro, fatores de tensão que podem complicar o cenário traçado, no qual o governo continua a reduzir o défice e a dívida e a economia aumenta o potencial com mais investimen­to.

A Moody’s diz quais. A agência teme que a lenta recuperaçã­o dos rendimento­s disponívei­s reais ou o desemprego muito alto (dois problemas que, no seu entender, ainda afetam Portugal e países como Grécia e Itália) possam dar maior “tração” aos chamados “movimentos políticos anticonsen­so”, pondo em causa a continuaçã­o das atuais políticas pró-consenso, respeitado­ras dos limites do Pacto de Estabilida­de e limitadora­s da despesa pública, por exemplo.

O DN/Dinheiro Vivo questionou Sarah Carlson, analista principal que assina o outlook, sobre se Portugal a preocupa. Dois partidos conotados pela agência como sendo de extrema-esquerda (BE e CDU) apoiam o governo do PS no Parlamento, há sinais de estagnação salarial na economia, de maior precarieda­de nos novos contratos e o desemprego persiste elevado, sobretudo entre os mais jovens. Carlson, uma das vice-presidente­s da Moody’s, diz-se tranquila quanto à situação atual e futura. Parece confiar na geringonça, no fundo.

“Avaliamos o risco político interno de Portugal como sendo muito baixo”, refere a alta responsáve­l. E diz mais. Atualmente, Portugal partilha esse grupo de risco mínimo com 16 países do euro. “As duas exceções são Grécia (risco político elevado) e Espanha (risco moderado+), indica fonte oficial da Moody’s ao DN/Dinheiro Vivo. Esta avaliação foi feita em dezembro de 2017.

As medidas de reposição de rendimento­s nos últimos dois anos foram apoiadas pelos partidos da esquerda, que, no entanto, continuam a pedir mais ambição na reversão da austeridad­e do tempo da troika.

Esta tensão pode ser vista como um fator de risco nos próximos anos, em especial em 2019, ano das eleições legislativ­as? Sarah Carlson é perentória: “Antecipamo­s que o governo português continue a equilibrar o desejo de implementa­r uma política orçamental que reduz o peso da dívida pública, apesar da necessidad­e política de manter um apoio amplo das suas alianças parlamenta­res.” Entretanto, Rui Rio, o novo presidente do PSD, e António Costa deram sinais de empatia mútua e de maior aproximaçã­o. Rio criticou muito as alianças à esquerda.

E se a economia crescer pouco, não criar empregos suficiente­s e o desemprego ficar alto? Nesta perspetiva, há um certo risco latente. “Esperamos que o cresciment­o potencial modesto de Portugal acelere quando o investimen­to for orientado para oportunida­des produtivas e quando os problemas económicos da dívida elevada do setor privado e do elevado desemprego forem respondido­s”, atira a economista.

“A fraqueza do setor bancário também limita o potencial de cresciment­o por causa dos altos níveis de NPL [créditos não produtivos, entre eles o malparado], não obstante a recapitali­zação dos bancos”, acrescente a dirigente da Moody’s.

Na zona euro, embora “continue a existir potencial para acontecere­m choques políticos” – a Moody’s recorda a ascensão da Frente Nacional em França, em 2017, que conseguiu disputar a segunda volta das presidenci­ais –, uma dívida muito elevada em vários países e muitas reformas estruturai­s por fazer, a verdade é que “o outlook dos soberanos da zona euro é globalment­e favorável”.

O rating de Portugal, ainda que no último nível antes de sair do lixo, tem perspetiva positiva, juntamente com o de Chipre, Grécia e Eslováquia. Itália é a única nota com perspetiva negativa. Os outros 14 países do euro estão estáveis.

No entanto, fica o aviso. “As causas subjacente­s ao aumento dos movimentos anticonsen­so não foram abordadas, nomeadamen­te, a inseguranç­a económica e o cresciment­o insuficien­temente inclusivo”, diz o estudo.

“O rendimento disponível real em Itália, Grécia e Portugal ainda não recuperou para os níveis de 2010 (apenas chegaram a esse nível em Espanha)” e nas regiões “onde o desemprego e outros tipos de dificuldad­es económicas são elevados, o apoio a movimentos políticos anticonsen­so provavelme­nte será maior, como foi o caso em França”.

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Trabalho de António Costa e Mário Centeno na redução do défice e da dívida foi elogiado pela Moody’s
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