Maior sistema aquífero do mundo guarda segredos maias
Descoberta. Conjunto de galerias submersas Sac Actun, no México, é o mais extenso do mundo, com 347 quilómetros, e contém vestígios arqueológicos dos povos pré-colombianos
Foram 10 meses de mergulhos intensivos para explorar, um a um, todos os recantos que, na direção certa, poderiam ocultar um qualquer túnel insuspeito, e a persistência acabou por compensar: o grupo de investigadores e mergulhadores do projeto Grande Aquífero Maia (GAM) conseguiu agora encontrar a tão procurada passagem. Com isso, a equipa descobriu que os dois sistemas de cavernas subaquáticas de Sac Actun e Dos Ojos, no México, são afinal um só, que assim se torna o maior do mundo, com 347 quilómetros de extensão.
O sistema de galerias submersas passa a denominar-se Sac Actun, ganhando o nome do maior dos dois – o de Sac Actun tinha anteriormente 263 quilómetros contabilizados, enquanto o de Dos Ojos tinha 83. Este último deixa de existir, uma vez que faz parte do outro.
Iniciado há 14 anos, o projeto de exploração do Grande Aquífero Maia deu a conhecer ao mundo este imenso sistema de galerias submersas e, ao longo deste tempo, trouxe também à luz do dia um universo por explorar de vestígios da antiga civilização maia que dominou aquela região no período pré-colombiano – um conjunto de artefactos, vestígios de construção e ossadas que podem agora abrir uma nova janela para o quotidiano daquele passado misterioso.
Além da descoberta da nova passagem que faz daquele imenso grupo de galerias um sistema único – há outros na mesma região, que poderão, ou não, ter túneis de ligação entre si –, a equipa do projeto, que é coordenada pelo alemão Robert Schmittner, identificou também um novo e importante sistema de galerias com 18 quilómetros de comprimento, que parte de um poço que era considerado sagrado pelos maias e que é conhecido na região como “a mãe de todos os poços”.
Este poço sagrado, que se situa a norte do sistema de galerias Sac Actun, tem uma profundidade máxima de 20 metros, como verificaram os mergulhadores, que vão agora tentar perceber se os seus 18 quilómetros de extensão também estarão ligados ao imenso aquífero de Sac Actun.
Como explica o projeto na sua página online, em https://granacuiferomaya.com, “estas centenas de quilómetros de passagens subterrâneas converteram-se em verdadeiros túneis do tempo e guardam, entre outras coisas, a história remota e recente” da região.
Este imenso sistema de galerias, constitui “o sítio arqueológico submerso mais importante do mundo, já que conta com mais de uma centena de contextos arqueológicos, entre os quais se destacam os dos primeiros povoadores da América, da fauna já extinta e da cultura maia”, adianta o antropólogo Guillermo de Anda, que dirige o Grande Aquífero Maia.
Além do valor antropológico e histórico, este complexo e extenso sistema de aquíferos é também a grande reserva de água doce daquela região do México, a península do Iucatão, e o garante da sua rica biodiversidade e do seu equilíbrio ecológico.
O que está previsto, aliás, no seguimento do projeto é que seja realizado um estudo detalhado da biodiversidade local, bem como a análise histórica e arqueológica dos vestígios da antiga civilização maia ali presentes.
“Essa investigação [arqueológica] vai permitir-nos adquirir um conhecimento muito mais concreto e mais claro sobre os rituais [maias], os seus locais de peregrinação e, em última análise, sobre os sítios de povoamento pré-hispânico nesta região”, sublinha Guillermo de Anda. Ou seja, haverá mais novidades em breve.
Achados arqueológicos nas galerias vão permitir estudar o quotidiano e os rituais dos povos anteriores à chegada dos espanhóis