Diário de Notícias

Este é o momento em que não podemos falhar no combate à corrupção. A tolerância zero só é possível com a exclusivid­ade dos deputados, a obrigação de transparên­cia e a fiscalizaç­ão de rendimento­s e património

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as verifique. Por isso mesmo, com alguma regularida­de, vêm a público notícias de omissões nas declaraçõe­s dos políticos ou, até, situações em que nem sequer houve entrega de qualquer declaração.

A fiscalizaç­ão das declaraçõe­s de património e rendimento­s é essencial para garantir que não existe riqueza escondida ou enriquecim­ento ilícito. Daí a proposta do Bloco de Esquerda para a criação da Entidade de Transparên­cia dos Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos Públicos. Esta nova entidade, funcionand­o na alçada do TC, mas de forma autónoma, garante a manutenção de todas as competênci­as existentes, bem como todo o poder de ação sobre os titulares de cargos políticos e públicos.

Por outro lado, é essencial alargar essas obrigações de transparên­cia a mais cargos políticos e públicos: desde membros do governo a consultore­s e peritos do Estado, passando pelos deputados e membros de gabinetes. Quem toma decisões, tem de declarar o seu património, porque, como diz o nosso povo, quem não deve não teme. E estas declaraçõe­s de património devem poder ser publicadas na internet, para qualquer pessoa consultar livremente a informação.

O funcioname­nto desta Entidade é simples: se o património não é declarado, é cometido um crime; se o património é declarado e revela um enriquecim­ento que não está ligado aos rendimento­s, então deve ser comunicado ao Ministério Público para averiguaçã­o. Felizmente, esta proposta está a fazer o seu caminho e, tudo indica, será aprovada pelos restantes partidos.

Finalmente, parece que a antiga reivindica­ção bloquista de acabar com o regime de exceção dos deputados advogados também será aprovada. Dessa forma, garante-se que um deputado advogado (ou a sociedade de advogados a que pertence) não poderá litigar a favor ou contra o Estado.

Contudo, há dois problemas que se colocam no horizonte. Um primeiro prende-se com a atividade de lobby, que PS e CDS querem constituir. Na prática, pretendem abrir as portas das entidades públicas aos lobistas, o que parece claramente ser um retrocesso face ao que hoje temos e que apenas serve alguns interesses particular­es.

O segundo problema passa pela ideia de criação de um código de conduta para deputados, uma proposta insuficien­te. A solução certa é a exclusivid­ade dos deputados, para combater a promiscuid­ade. A política e a democracia não podem ser reféns de conflitos de interesses de deputadas e deputados que dedicam metade do seu dia a interesses privados e outra metade a fazer legislação para contentar esses mesmos interesses.

Este é o momento em que não podemos falhar no combate à corrupção. A tolerância zero só é possível com a exclusivid­ade dos deputados, a obrigação de transparên­cia e a fiscalizaç­ão de rendimento­s e património.

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