PT confirma Lula candidato apesar de condenado mas avalia alternativas
Horas depois da condenação, comissão executiva do partido lança antigo presidente às eleições em jeito de desafio. Mas enquanto isso, nos bastidores, avalia alternativas
Lula da Silva vai fazer um périplo pelos estados dos três juízes que o condenaram: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná
“Brasil, urgente, Lula a presidente”, cantaram os militantes do Partido dosTrabalhadores(PT)durantea reunião da Comissão executiva ampliada que confirmou ontem Lula da Silva como candidato do partido às presidenciais de outubro, horas depois da sua condenação a 12 anos e um mês de prisão no âmbito da Lava-Jato. No entanto, o próprio líder histórico petista alertou que “caso algo de muito indesejável aconteça, o partido tem de continuar unido, espero que esta candidatura não dependa apenas de mim”. Em resumo, Lula é, simbolicamente, o candidato às eleições pelo PT mas, na prática, o partido já vai avaliando quem está em melhores condições para se assumir como Plano B.
Para Geraldo Tadeu, cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o PT está num impasse. “O partido é muito menor do que o seu líder – sempre foi”, diz ao DN. “Não existe outra estratégia para Lula e para o PT que não seja a ‘fuga para a frente’, insistindo, por todos meios, na candidatura, mudar de orientação agora seria confissão de culpa, podemos por isso esperar mais politização e polarização do PT nos próximos meses.”
Até os recursos jurídicos se esgotarem e enquanto o calendário eleitoral permitir, o PT pretende manter as duas soluções, Lula e plano B, a correr em paralelo, acrescenta ao DN Igor Gielow, repórter principal do jornal Folha de S. Paulo e autor de um artigo no seu jornal intitulado “Derrota dura forçará PT a lançar Lula e a acelerar plano B ao mesmo tempo”. “Lula sabe que a sua inabilitação é provável mas o PT precisa dele para carregar o partido campanha adentro e tentar eleger uma bancada razoável, porque as eleições são gerais, não apenas presidenciais.”
Eliane Cantanhêde, colunista do jornal O Estado de S. Paulo, afirma por sua vez que não há volta a dar: “Condenado em segunda instância e réu em mais seis processos, a candidatura de Lula agora não passa de uma grande ficção.”
Por isso, e apesar de petistas mais radicais, como João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra, terem pregado durante a reunião da comissão executiva ampliada que “o judiciário não manda no país” e que “o povo não permitirá a prisão de Lula”, e de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, recusar falar “em planos B”, as alternativas estão já de prevenção: JaquesWagner, que foi governador da Bahia e ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff, e Fernando Haddad, o coordenador do programa de Lula e ex-prefeito de São Paulo.
Outra possibilidade – um plano C, no caso – seria a transferência dos votos do PT para o candidato do Partido Democrático Trabalhista Ciro Gomes, que foi ministro de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, além de duas vezes candidato derrotado à presidência, em 1998 e 2002. Alexandre Padilha, antigo ministro da Saúde de Dilma, chegou a afirmar que “os juízes fizeram um favor à esquerda ao uni-la numa grande frente ampla”.
Por enquanto, o PT anunciou na sua reunião mais um périplo de Lula pelo país, desta vez ainda com mais simbolismo: vai viajar nos próximos dias pelos três estados mais a sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, de onde são naturais cada um dos três juízes que o condenaram. Começará por São Borja, cidade natal de GetúlioVargas, presidente conhecido como “pai dos pobres”, e terminará em Curitiba, cidade onde trabalha Sergio Moro.
Nas outras candidaturas, Jair Bolsonaro, o segundo classificado nas sondagens atrás de Lula, foi o mais efusivo após a condenação do rival: o deputado de extrema-direita deixou-se fotografar, com sinal de positivo, ao lado de uma televisão com a imagem de um dos juízes de segunda instância. Geraldo Alckmin, do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), disse que não faz campanha “contra adversários mas sim conversando com o povo”. Fernando Henrique Cardoso, embora do partido de Alckmin, considerou que a corrida eleitoral “começa agora” e revelou que o apresentador Luciano Huck “na verdade, não desistiu”. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados pelos Democratas, não quis comemorar mas lembrou que passou toda a carreira do outro lado da barricada em relação a Lula.