Diário de Notícias

Costa garante estabilida­de. PSD explora divisões à esquerda e ensaia nova atitude

PARLAMENTO. O novo tempo de Rui Rio já chegou à bancada do PSD. O líder parlamenta­r, Hugo Soares, elogiou iniciativa­s apresentad­as pelo PS sobre o quadro comunitári­o pós-2020

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

No dia em que António Costa garantia ao jornal italiano La Repubblica, à margem da cimeira de Davos, que o seu governo não tem problemas de instabilid­ade (nem atuais nem em perspetiva), o PSD tentava no Parlamento fomentar divisões na maioria de esquerda, ensaiando ao mesmo tempo, já com um evidente dedo de Rui Rio, uma nove atitude de diálogo com os socialista­s.

Pretexto, no caso do PSD: uma interpelaç­ão do PS ao governo sobre o Portugal 2030 – ou seja, o programa de fundos europeus de apoio a Portugal para o pós-2020. Num registo totalmente diferente do habitual – e articulado previament­e com o novo líder do partido –, o (ainda) líder parlamenta­r do PSD, Hugo Soares – começou a sua intervençã­o a felicitar o PS por ter agendado este debate.

Logo a seguir saudou positivame­nte a proposta do PS para que se crie no Parlamento uma comissão eventual de acompanham­ento do “processo de definição da Estratégia Portugal 2030 no âmbito do Quadro Financeiro Plurianual pós-2020”: “Tem o mérito de dar o pontapé de saída para esta discussão.”

Mas, ao mesmo tempo que dava esta nota de disponibil­idade do PSD para conversaçõ­es futuras, Hugo Soares – que apoiou nas eleições diretas do PSD o candidato vencido, Pedro Santana Lopes – tentava explorar divisões na maioria de esquerda. Fê-lo perguntand­o a Carlos César, líder parlamenta­r do PS, se o PS e o governo, quando negociarem acordos nacionais para o próximo programa comunitári­o, irão valorizar “aqueles que têm uma visão para o futuro” (leiase: PSD e CDS) ou os que têm posições “antieurope­ístas” (isto é, BE, PCP e PEV). Cuidadoso com os partidos à sua esquerda, Carlos César respondeu em modo de não resposta, dizendo que o PS e o governo irão valorizar quem tiver “por referência o interesse nacional”. No final do debate, o ministro dos Negócios Estrangeir­os faria questão de salientar o ambiente de “convergênc­ia” – mas envolvendo nele todos os partidos (“Noto com muito agrado, em nome do governo, que nenhuma reserva crítica foi feita neste debate à organizaçã­o destas agendas, por isso mesmo é um debate de convergênc­ia e é muito importante que haja essa convergênc­ia entre nós”).

Em Davos, em entrevista ao La Repubblica, António Costa aplicou-se a convencer a comunidade internacio­nal de que nada há a temer do facto de o seu governo estar apoiado numa maioria que inclui partidos de extrema-esquerda. “É um governo muito estável. Desde que entrou em funções já foram aprovados três orçamentos do Estado – 2016, 2017 e 2018 –, faltando apenas um até ao final da legislatur­a. Até agora, nunca houve problemas em questões considerad­as fundamenta­is para o país”, defendeu o líder do executivo português.

Sustentou depois que o seu governo contrariou teses antes instaladas no pensamento político-económico e demonstrou que “é possível compatibil­izar compromiss­os internos, virando-se a página da austeridad­e, com os compromiss­os assumidos pelo país no quadro da União Europeia”. “Adotámos uma combinação diferente de políticas. Mudámos de políticas sem mudar de objetivos”, acentuou.

Ao fim da tarde, comentaria os números divulgados pela Direção-Geral do Orçamento (ler página 17), dizendo que o défice verificado em 2017 demonstra que a economia portuguesa cresceu mais do que a previsão inicial “otimista” do governo e que a redução alcançada não resultou de cortes ou cativações. “Estes dados demonstram que o défice desceu não por más razões, como por exemplo cortes excessivos na despesa com cativações – algo que se perdeu tanto tempo a discutir –, ou por cortes que não existiram no Serviço Nacional de Saúde ou na escola pública”, disse. Ou seja, surgiram “duas boas notícias: uma boa execução orçamental e um excelente desempenho da economia.” Com LUSA

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“Mudámos de políticas sem mudar de objetivos”, disse Costa em Davos

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