Diário de Notícias

Investimen­to e impostos ajudam a ir mais longe no défice de 2017

Impostos ficaram mil milhões acima do previsto no Orçamento. Investimen­to público fica 850 milhões abaixo. Em contrapart­ida, há mais 1830 médicos e 2720 enfermeiro­s

- LUÍS REIS RIBEIRO

Em 2017, a execução orçamental da receita de impostos ficou mil milhões de euros acima da previsão que constava do Orçamento do Estado (de 2017). E dois mil milhões acima da coleta total de 2016. O Ministério das Finanças diz que é o efeito das melhores condições económicas e da maior capacidade de cobrança.

Do lado da despesa, o investimen­to público destaca-se: ficou 850 milhões abaixo do previsto no OE do ano passado e apenas 208 milhões de euros acima do nível de 2016. Subiu 5%, mas o Ministério das Finanças diz que na realidade terá subido quase 20%, pois é preciso descontar os encargos com as parcerias público-privadas, que empolaram a despesa em 2016.

O fecho do ano orçamental de 2017 em contabilid­ade pública (em lógica de caixa, a do dinheiro que efetivamen­te entra e sai dos cofres públicos), ontem divulgada, mostra que o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o resto do governo conseguira­m de facto ir muito além do previsto no défice. Centeno acabou por ser apelidado de “Ronaldo” das Finanças da Europa e por ganhar o Eurogrupo.

O défice de 2017 ficou 2,2 mil milhões de euros abaixo do que estava previsto no OE e acabou por ser 1,6 mil milhões inferior à marca de 2016, indicam os dados da Direção-Geral do Orçamento (DGO). Equivale a dizer que ficou 46% abaixo do orçamentad­o e 38% inferior ao valor de 2016.

Em outubro desse ano, quando o OE foi apresentad­o, a expectativ­a era que a economia crescesse apenas 1,5%, quando afinal deve ter chegado a 2,6%, segundo as estimativa­s mais recentes. Isso ajudou, de facto e em parte, a baixar o défice (em contabilid­ade nacional, a que conta para Bruxelas). Em vez de 1,6% do produto interno bruto (PIB), a marca deve ficar, afinal, em 1,2%, um mínimo da história em democracia. Será o INE a validar o número no fim de março.

O boletim da DGO mostra no entanto que houve uma aposta muito clara na cobrança dos impostos, cuja coleta cresceu 4,3%, bem aci- ma do ritmo da economia, mesmo incluindo inflação. Olhando para a consolidaç­ão orçamental (evolução entre 2016 e 2017) percebe-se que os impostos são o fator mais decisivo. No acréscimo anual de cerca de dois mil milhões, 709 milhões vêm dos impostos diretos e 1261 milhões vêm dos indiretos.

Uma análise mais fina mostra que a maior subida absoluta aconteceu no ISP (imposto sobre os combustíve­is), que foi buscar mais 1,3 mil milhões do que em 2016. O IVA cresceu 894 milhões; o IRC angariou mais 519 milhões, mas isto está relacionad­o com pagamentos da Infraestru­turas de Portugal. E deverá refletir também uma maior cobrança relativa a lucros maiores da EDP por causa de vendas de défice tarifário, embora o governo nada diga acerca disto.

Apesar da moderação que ainda existe no investimen­to público (incluindo o efeito PPP rodoviária­s, que têm de ser pagas pelos contribuin­tes, pelo que são investimen­to), das Finanças terem acertado quase em cheio no valor dos juros, fatura que subiu 0,8% para 8,3 mil milhões de euros (erraram por 14 milhões face ao OE) e ter havido um corte nos subsídios concedidos, a despesa total aumentou na mesma.

O gabinete de Centeno justifica isso com a “reversão da redução remunerató­ria e pelo cresciment­o das despesas com pessoal no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. Centeno justifica “o forte cresciment­o” na Saúde. “As despesas com pessoal na saúde cresceram 5,4%, representa­ndo metade do cresciment­o das despesas com pessoal.” Este aumento resulta em especial do reforço do número de efetivos no SNS. Face ao final de 2015, há hoje mais 1830 médicos (mais 7,3%) e mais 2720 enfermeiro­s (mais 7,1%). Tudo considerad­o, uma coisa é clara. O motor desta consolidaç­ão orçamental, da descida do défice, é a receita total, que avança 3,8%, bem acima do que estava no OE (1,4%), reflexo da “evolução favorável da atividade económica e do emprego”. A despesa global sobe 1,6%, também mais rápido do que os 0,5% orçamentad­os.

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O ministério de Mário Centeno fechou o défice de 2017 com menos 2,2 mil milhões do que previa o OE

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