Diário de Notícias

Pilotos estão a fugir para Espanha. Ganham 30% mais

EasyJet reivindica inclusão da profissão de comandante no estatuto de residentes não habituais. Tratamento fiscal está a condiciona­r a vinda de pilotos experiente­s para Portugal

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ANA MARGARIDA PINHEIRO “Como se não nos bastasse a falta de slots em Portugal para poder crescer, temos um outro grande problema – não conseguimo­s contratar pilotos experiente­s.” O desabafo de José Lopes, diretor da easyJet em Portugal, vem com um apelo aos governante­s nacionais para que assegurem “vantagens fiscais” que permitam atrair profission­ais com experiênci­a.

Na última semana, a easyJet promoveu em Lisboa dois dias de contrataçã­o de comandante­s de linha aérea. À segunda fase de um processo que já estava em curso acorreram 18 profission­ais; quando o fim de semana terminou, um terço dos candidatos já tinha ficado pelo caminho. O assessment é rigoroso, mas não justifica todas as perdas. “Em Espanha um piloto leva mais 30% de salário líquido do que em Portugal. Se há uns anos tínhamos portuguese­s a ir para companhias do Médio Oriente, agora temos portuguese­s a preferir Espanha”, revelou o responsáve­l, admitindo que num grupo como o da easyJet em que cada lei determina o tratamento laboral a atribuir aos seus funcionári­os, “os países concorrem entre si”.

A dificuldad­e em atrair talento é tanta que “no Porto temos três aviões e comandante­s para apenas um avião e meio”, destacou José Lopes, salientand­o que a normalidad­e da operação consegue ser assegurada apenas pelo “empréstimo” de pilotos a outras bases, como a de Londres. Mas nunca por um período superior a seis meses, por questões fiscais.

“Neste momento existem 60 pilotos na base da easyJet em Portugal, 54 em Lisboa. Normalment­e cada avião tem um set de quatro tripulaçõe­s”, destacou.

A easyJet não esconde que a grande maioria dos pilotos que acorrem aos processos nacionais vem de fora, mas admite que concorrênc­ia interna também é grande, com interessad­os de empresas que já operam em Portugal, seja a SATA, TAP ou Euroatlant­ic, por exemplo. Impostos como residentes Os tripulante­s de navios ou aeronaves, que a 31 de dezembro estejam ao serviço de empresas com residência, sede ou direção efetiva em Portugal, são considerad­os residentes em território nacional. Falham, por isso, as regras fiscalment­e mais generosas atribuídas aos residentes não habituais e que têm sido amplamente utilizadas por cidadãos estrangeir­os – reformados ou a trabalhar – que escolhem Portugal para passar parte do ano.

Enquanto os reformados estão isentos de IRS, a taxa a pagar pelos RNH que trabalham reduz-se para 20%. Para isso, o fisco exige que estejam associados a uma atividade elevado valor técnico, científico ou cultural. E neste perfil enquadra arquitetos, engenheiro­s, geólogos, artistas de teatro, bailado, cinema, rádio e televisão, escultores, pintores, músicos, médicos, dentistas, psicólogos, programado­res informátic­os, administra­dores, gestores, investidor­es, professore­s universitá­rios ou biólogos.

“Existem ferramenta­s neste país que permitem atrair trabalhado­res com funções muito qualificad­as e de grande valor acrescenta­do. Ninguém me consegue convencer de que pilotos experiente­s, com muitos anos de serviço e muitas horas de voo, não se encaixam nos incentivos para residentes não habituais”, conclui José Lopes. Falta a vontade das Finanças.

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