Sanções gelam relações entre Espanha e Venezuela
Caracas declarou persona non grata e expulsou embaixador espanhol. Madrid agirá “com proporcionalidade e reciprocidade”
Nicolás Maduro é candidato à reeleição nas presidenciais que foram antecipadas e que devem realizar-se até maio
O governo venezuelano declarou ontem o embaixador espanhol em Caracas, Jesús Silva Fernández, como persona non grata “em virtude das contínuas agressões e recorrentes atos de ingerência” de Espanha “nos assuntos internos” da Venezuela. O chefe da diplomacia espanhola, Alfonso Dastis, reagiu à aparente expulsão do embaixador dizendo que Madrid responderá “com proporcionalidade e reciprocidade”. Na prática, isso deverá implicar a expulsão também do embaixador venezuelano na capital espanhola, Mario Isea.
Num comunicado, o ministro dos Negócios Estrangeiros daVenezuela, Jorge Arteaza, acusa o governo de Mariano Rajoy de “receber infames instruções e submeter-se aos desígnios” dos EUA e “assumir a liderança da conspiração na Europa, com o fim de concretizar os ataques à soberania e independência do povo venezuelano”. Em causa está a decisão de a União Europeia aprovar sanções contra sete altos funcionários do governo do presidente Nicolás Maduro, por alegadas violações dos direitos humanos, impedindo-os de viajar e de ter ativos nos países europeus.
Madrid foi o promotor dessas sanções aprovadas na segunda-feira, tendo Rajoy dito na terça que só queria a paz e a liberdade para os presos políticos venezuelanos. “A UE aprovou sanções muito merecidas, são sanções muito leves face à forma como o senhor Maduro entende a democracia”, afirmou o primeiro-ministro. O embaixador espanhol não é o primeiro a ser declarado persona non grata por Caracas. Em dezembro, a Assembleia Nacional Constituinte (na qual a oposição venezuelana não está presente) declarara o mesmo em relação ao encarregado de negócios do Canadá e ao embaixador do Brasil, pelas críticas ao governo de Maduro.
O presidente venezuelano anunciou na quarta-feira que é candidato à reeleição nas presidenciais que foram antecipadas e devem realizar-se até maio. “Assumo a candidatura presidencial para o período 2019-2025 e juro perante vocês, irmãos trabalhadores, que serei o candidato da classe operária venezuelana”, afirmou Maduro, explicando que o seu objetivo é conquistar dez milhões de votos.
A convocação das eleições antecipadas está a ser criticada por grande parte da comunidade internacional, que vê na decisão um entrave ao processo de diálogo entre o governo venezuelano e a oposição, que tem estado a decorrer na República Dominicana. Nova ronda de negociações está marcada para domingo e segunda-feira: “Face às dificuldades, o diálogo torna-se ainda mais urgente. É a melhor solução para a Venezuela e para o seu povo. Não para a oposição nem para o governo, mas para milhões de venezuelanos e venezuelanas que precisam de resposta”, indicou o presidente dominicano, Danilo Medina.
O chefe de Estado colombiano, Juan Manuel Santos, já disse que o seu país não reconhecerá a validade ou o resultado das presidenciais. “Até existirem garantias suficientes para a realização de eleições transparentes, acho que ninguém vai reconhecer o resultado das eleições naVenezuela”, disse.