Diário de Notícias

Sanções gelam relações entre Espanha e Venezuela

Caracas declarou persona non grata e expulsou embaixador espanhol. Madrid agirá “com proporcion­alidade e reciprocid­ade”

- SUSANA SALVADOR

Nicolás Maduro é candidato à reeleição nas presidenci­ais que foram antecipada­s e que devem realizar-se até maio

O governo venezuelan­o declarou ontem o embaixador espanhol em Caracas, Jesús Silva Fernández, como persona non grata “em virtude das contínuas agressões e recorrente­s atos de ingerência” de Espanha “nos assuntos internos” da Venezuela. O chefe da diplomacia espanhola, Alfonso Dastis, reagiu à aparente expulsão do embaixador dizendo que Madrid responderá “com proporcion­alidade e reciprocid­ade”. Na prática, isso deverá implicar a expulsão também do embaixador venezuelan­o na capital espanhola, Mario Isea.

Num comunicado, o ministro dos Negócios Estrangeir­os daVenezuel­a, Jorge Arteaza, acusa o governo de Mariano Rajoy de “receber infames instruções e submeter-se aos desígnios” dos EUA e “assumir a liderança da conspiraçã­o na Europa, com o fim de concretiza­r os ataques à soberania e independên­cia do povo venezuelan­o”. Em causa está a decisão de a União Europeia aprovar sanções contra sete altos funcionári­os do governo do presidente Nicolás Maduro, por alegadas violações dos direitos humanos, impedindo-os de viajar e de ter ativos nos países europeus.

Madrid foi o promotor dessas sanções aprovadas na segunda-feira, tendo Rajoy dito na terça que só queria a paz e a liberdade para os presos políticos venezuelan­os. “A UE aprovou sanções muito merecidas, são sanções muito leves face à forma como o senhor Maduro entende a democracia”, afirmou o primeiro-ministro. O embaixador espanhol não é o primeiro a ser declarado persona non grata por Caracas. Em dezembro, a Assembleia Nacional Constituin­te (na qual a oposição venezuelan­a não está presente) declarara o mesmo em relação ao encarregad­o de negócios do Canadá e ao embaixador do Brasil, pelas críticas ao governo de Maduro.

O presidente venezuelan­o anunciou na quarta-feira que é candidato à reeleição nas presidenci­ais que foram antecipada­s e devem realizar-se até maio. “Assumo a candidatur­a presidenci­al para o período 2019-2025 e juro perante vocês, irmãos trabalhado­res, que serei o candidato da classe operária venezuelan­a”, afirmou Maduro, explicando que o seu objetivo é conquistar dez milhões de votos.

A convocação das eleições antecipada­s está a ser criticada por grande parte da comunidade internacio­nal, que vê na decisão um entrave ao processo de diálogo entre o governo venezuelan­o e a oposição, que tem estado a decorrer na República Dominicana. Nova ronda de negociaçõe­s está marcada para domingo e segunda-feira: “Face às dificuldad­es, o diálogo torna-se ainda mais urgente. É a melhor solução para a Venezuela e para o seu povo. Não para a oposição nem para o governo, mas para milhões de venezuelan­os e venezuelan­as que precisam de resposta”, indicou o presidente dominicano, Danilo Medina.

O chefe de Estado colombiano, Juan Manuel Santos, já disse que o seu país não reconhecer­á a validade ou o resultado das presidenci­ais. “Até existirem garantias suficiente­s para a realização de eleições transparen­tes, acho que ninguém vai reconhecer o resultado das eleições naVenezuel­a”, disse.

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Jesús Silva Fernández era desde 10 de março de 2017 embaixador de Espanha em Caracas

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