Filmes para pôr os mais pequenos (e os outros) a pensar
Festival de cinema infantil e juvenil regressa na próxima semana ao Porto com mais de 50 filmes, a maioria inéditos
MARIA JOÃO CAETANO O facto pode não ter sido destacado nas notícias publicadas esta semana sobre as nomeações para os Óscares mas não passou ao lado dos programadores do IndieJúnior: O Espaço Que Resta/Negative Space, um dos filmes que integra a programação do festival, está nomeado na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação. Nuno Sena, um dos programadores do 2.º Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil do Porto, que arranca na próxima terça-feira, dia 30, não ficou surpreendido: “Procuramos ter os melhores filmes, os mais interessantes, que estão a ser feitos para o público dos 3 aos 18 anos.” E este é apenas um dos mais de 50 filmes que, devido a estas características, foi escolhido para a programação.
Negative Space foi um dos pequenos filmes de animação mais premiados do ano passado. Realizado em stop motion por Max Porter e Ru Kuwahata, a partir do poema com o mesmo nome de Ron Koertge, o filme fala da relação entre um pai e um filho através do simples ato de fazer uma mala de viagem. “Alguns rapazes estabelecem uma ligação com o pai encestando bolas ou falando sobre carros. Nós fazíamos as malas”, conta o protagonista. O poema tem pouco mais de 150 palavras, o filme tem pouco mais de cinco minutos, mas, tal como numa mala bem feita, não há espaço desperdiçado.
É assim também esta segunda edição do festival de cinema. A primeira edição do IndieJúnior “correu muito”, conta Nuno Sena. No ano passado, o festival teve cerca de 5 mil espectadores. Este ano, com uma aposta ainda mais forte na captação de alunos de escolas, os organizadores esperam superar esta quantidade, ainda que o número de sessões tenha baixado ligeiramente: “Queremos ter um festival mais concentrado, mais focado, com uma energia mais intensa.”
Mais energia porque em apenas seis dias serão apresentados mais de 50 filmes, longas e curtas-metragens, de produção recente, em três espaços centrais da cidade do Porto ( Teatro Rivoli, Cinema Trindade e Biblioteca Municipal Almeida Garrett). Mas também porque houve um investimento claro na programação paralela, admite Nuno Sena. Porque um festival é muito mais do que uma coleção de filmes, diz. Há exposições, ateliers, debates, tudo com entrada gratuita. Procura-se, assim, estabelecer ligações entre o público e os autores dos filmes, mas também promover o debate não só em torno do cinema mas também à volta de alguns temas que são tratados nos filmes.
Dois exemplos. A Sra. McCutcheon, de John Sheedy, é um filme que está na secção de curtas, para maiores de 10 anos, que conta a história de um menino que sente que nasceu no corpo errado. Tom não sabe muito bem quem é e talvez por isso sinta que não é aceite pelos colegas. A partir deste filme, o IndieJúnior organiza um debate sobre o tema “Quando a identidade de género não coincide com o género atribuído à nascença”, em que irão participar vários especialistas. Vai ser no dia 1, às 18.30, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Já o filme Bichinhos do Lixo, de Peter Stanley-Ward, aborda a questão do bullying entre crianças. E será a pro- O Senhor Que Queria Dormir (em cima). O Espaço Que Resta (à esquerda) está nomeado para os Óscares. A Sra. McCutcheon (em baixo) é um filme sobre a transexualidade ria com Rui Veloso, trouxe para o programa o filme Os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras,