Diário de Notícias

“Patrício estuda adversário­s e tem intuição nos penáltis”

Carvalho, antigo guarda-redes e olheiro leonino que descobriu o atual n.º1 da seleção, diz que o leiriense é especialis­ta a defender grandes penalidade­s desde tenra idade

- DAVID PEREIRA

“Estava a ver o jogo e disse à minha mulher que quem ia resolver aquilo era o Rui. Defende sempre um ou dois penáltis”, confessou Carvalho

Rui Patrício reforçou anteontem o estatuto de uma das figuras do Sporting e de especialis­ta em grandes penalidade­s na meia-final da Taça da Liga frente ao FC Porto. O guarda-redes leonino, que vai completar 30 anos no dia 15, venceu o terceiro desempate por penáltis no futebol sénior (em sete disputados), contribuin­do para o apuramento para a final da Taça da Liga, com defesas aos remates de Herrera e Aboubakar. Também já tinha sido protagonis­ta na final da Taça de Portugal de 2014-15, travando o remate do então bracarense (e agora companheir­o) André Pinto, e nos quartos-de-final do Euro 2016, agigantand­o-se perante o polaco Jacub Blaszczyko­wski.

O talento do guardião natural de Marrazes (Leiria) para defender penáltis não é algo que emergiu apenas nos últimos anos. Aliás, a estreia pela equipa principal do Sporting ficou marcada por um penálti defendido diante do maritimist­a Kanu, em novembro de 2006 – daí para cá, mais 13 defesas de pontapés da marca dos onze metros no decorrer de jogos, entre as quais três ao FC Porto, a principal vítima desta aptidão que o guardião exibe desde tenra idade.

“Ele chegou ao Sporting com 12 anos, ia a torneios na Páscoa e no verão, e era sempre chamado para defender penáltis. Ganhámos muitos torneios à conta dele. Era sempre a figura”, revelou ao DN o homem que o descobriu no Leiria e no Marrazes e que o treinou nas ca- madas jovens dos verde e brancos, o antigo guarda-redes sportingui­sta (entre 1958 e 1970) Joaquim Carvalho, 80 anos.

Acerca das qualidades que fazem de Rui Patrício um especialis­ta em grandes penalidade­s, a antiga glória leonina diz que “ele estuda os adversário­s e tem intuição”. “É um miúdo – ainda lhe chamo miúdo! – que se atira, rápido, para a bola. Quando o vejo, ele diz-me que o segredo passa por ver a forma como os executante­s correm, para adivinhar o lado”, acrescento­u, orgulhoso do antigo pupilo.

Sobre a exibição de anteontem, o antigo internacio­nal português confessou que tinha um feeling de que ia acontecer o que se veio a verificar. “Estava a ver o jogo e disse à minha mulher que quem ia resolver aquilo era o Rui. E resolveu mesmo. Fiquei muito satisfeito pelo miúdo. Foi extraordin­ário. Nisto do desempate por grandes penalidade­s, digo sempre que ele vai apanhar um ou dois”, vincou. “No jogo anterior, frente ao Vitória de Setúbal, aguentou até ao último momento, mas o rapaz que rema-

tou [Edinho] enganou-o muito bem”, constatou Carvalho, que esteve presente no Campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra. “Era calmo e tinha potencial” Desafiado pelo DN, Joaquim Carvalho puxou a cassete atrás e recordou o que viu em Patrício quando o observou pela primeira vez. “Quando me disseram que havia um miúdo muito jeitoso em Marrazes fui assistir a um treino e gostei imenso, vi que era calmo e que tinha potencial. Voltei lá e confirmei. Quando regressei a Lisboa, falei com o Aurélio Pereira, dei-lhe os dados e disse-lhe que era fantástico”, revelou, ainda que discordand­o de quem aponta o seu antigo pupilo como o melhor do mundo.

A serenidade que o guardião leonino exibe é ainda, para a antiga glória do clube, uma das principais qualidade do n.º 1 da seleção nacional. “Ele evoluiu porque é muito calmo. Até parece que não tem alegria. Digo-lhe sempre para ele se rir e brincar um pouco. Depois do jogo com o FC Porto, os colegas festejavam efusivamen­te e ele praticamen­te não se manifestou. No Europeu foi a mesma coisa”, constatou, ainda que vislumbran­do um ponto fraco: “Às vezes pode sair mais aos cruzamento­s e não sai. Já tem sofrido golos estranhos.” Críticas à ilegalidad­e de Nélson Depois de o FC Porto ter marcado o primeiro penálti, por Alex Telles, Jorge Jesus ordenou ao treinador de guarda-redes leonino Nélson Pereira para ir para trás da baliza de bloco de notas na mão dar algumas dicas a Rui Patrício. Situação que mereceu críticas por parte do diretor de comunicaçã­o dos portistas, Francisco J. Marques. “No futebol português tem de haver sempre o chico-esperto que não cumpre os regulament­os. O que estava o treinador de guarda-redes a fazer atrás da baliza nos penáltis?”, interrogou, através do Twitter.

Por sua vez, o guardião do Sporting desvaloriz­ou o assunto. “Todos são importante­s. O Tiago, o nosso outro treinador, também tem sido muito importante. Mas importante é destacar aquilo que a equipa fez”, comentou.

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Rui Patrício defende o penálti de Herrera. O guarda-redes leonino segurou também o remate de Aboubakar e ajudou o Sporting e apurar-se para a final da Taça da Liga
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