Diário de Notícias

Lula ou nada?

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Apesar de um tribunal ter não só confirmado como até aumentado a pena de prisão de Lula da Silva por corrupção, há dois pontos importante­s a ter em conta: nem o antigo presidente brasileiro foi preso nem a sua candidatur­a nas eleições de outubro está excluída. Aliás, tanto como forma de defender o seu líder histórico como por ambição política, o Partido dos Trabalhado­res insiste na oficializa­ção da candidatur­a de Lula, que nas sondagens surge como o favorito apesar dos problemas legais.

A persistênc­ia da popularida­de de Lula tem várias explicaçõe­s: por um lado, as provas de que se deixou corromper aceitando um apartament­o não são evidentes para muitos brasileiro­s, que preferem ver na ação da justiça uma intromissã­o no jogo político; por outro, a memória dos oito anos de governação de Lula continua a ser muito boa para aqueles que beneficiar­am da sua estratégia de redistribu­ição da riqueza; também em termos de macroecono­mia, a era Lula deixou saudades, com uma taxa de cresciment­o de 7,5% em 2010, último ano da sua estada em Brasília, muito bom comparados com os 2% esperados neste ano e excelente quando vistos os tempos recentes que chegaram a ser de recessão; igualmente reforça o antigo presidente a forma como a sua delfim e sucessora Dilma Rousseff foi afastada da presidênci­a, uma destituiçã­o baseada numa falha técnica na governação e votada por uma aliança de inimigos, alguns deles aliados da véspera como o vice Michel Temer, hoje chefe do Estado; claro ainda que a aura pessoal de Lula, filho de nordestino­s pobres, metalúrgic­o semianalfa­beto que chegou ao poder depois de perder três presidenci­ais, é outro dos seus trunfos.

O cenário para o grande país lusófono surge assim complicado, e sempre condiciona­do pelo destino de Lula, que divide os brasileiro­s ao meio, uns a quererem-no atrás das grades, outros de novo sentado na presidênci­a. E o seu Partido dos Trabalhado­res, que está na berlinda por se ter tornado, com a passagem da oposição ao poder, um partido com os mesmos defeitos dos outros, arrisca em insistir em Lula a todo o preço, mesmo sabendo que este pode ser preso e ver a elegibilid­ade suspensa. É que nesse caso compensar a derrota judicial com uma vitória eleitoral seria difícil, ainda que designar um candidato alternativ­o seja possível até setembro.

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