Lula ou nada?
Apesar de um tribunal ter não só confirmado como até aumentado a pena de prisão de Lula da Silva por corrupção, há dois pontos importantes a ter em conta: nem o antigo presidente brasileiro foi preso nem a sua candidatura nas eleições de outubro está excluída. Aliás, tanto como forma de defender o seu líder histórico como por ambição política, o Partido dos Trabalhadores insiste na oficialização da candidatura de Lula, que nas sondagens surge como o favorito apesar dos problemas legais.
A persistência da popularidade de Lula tem várias explicações: por um lado, as provas de que se deixou corromper aceitando um apartamento não são evidentes para muitos brasileiros, que preferem ver na ação da justiça uma intromissão no jogo político; por outro, a memória dos oito anos de governação de Lula continua a ser muito boa para aqueles que beneficiaram da sua estratégia de redistribuição da riqueza; também em termos de macroeconomia, a era Lula deixou saudades, com uma taxa de crescimento de 7,5% em 2010, último ano da sua estada em Brasília, muito bom comparados com os 2% esperados neste ano e excelente quando vistos os tempos recentes que chegaram a ser de recessão; igualmente reforça o antigo presidente a forma como a sua delfim e sucessora Dilma Rousseff foi afastada da presidência, uma destituição baseada numa falha técnica na governação e votada por uma aliança de inimigos, alguns deles aliados da véspera como o vice Michel Temer, hoje chefe do Estado; claro ainda que a aura pessoal de Lula, filho de nordestinos pobres, metalúrgico semianalfabeto que chegou ao poder depois de perder três presidenciais, é outro dos seus trunfos.
O cenário para o grande país lusófono surge assim complicado, e sempre condicionado pelo destino de Lula, que divide os brasileiros ao meio, uns a quererem-no atrás das grades, outros de novo sentado na presidência. E o seu Partido dos Trabalhadores, que está na berlinda por se ter tornado, com a passagem da oposição ao poder, um partido com os mesmos defeitos dos outros, arrisca em insistir em Lula a todo o preço, mesmo sabendo que este pode ser preso e ver a elegibilidade suspensa. É que nesse caso compensar a derrota judicial com uma vitória eleitoral seria difícil, ainda que designar um candidato alternativo seja possível até setembro.