Um cenário possível será passar-se a cobrar mais pelos serviços (mesmo na qualidade) para determinados clientes
No entanto, quaisquer alterações de funcionamento nos serviços de internet nos EUA podem vir a ter algum impacto na Europa. Por exemplo, podemos em Portugal vir a sentir dificuldades de acesso a um determinado site ou serviço cujos servidores estejam exclusivamente nos Estados Unidos. Do ponto de vista estritamente técnico, dizem ao DN, por e-mail, Luís Ferreira e Nuno Lopes, professores de engenharia informática do IPCA – Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, “tecnicamente essa limitação não [seria] muito complicada de implementar”.
Só que há que ter em conta que “a distribuição das infraestruturas é fisicamente global, estão espalhadas por vários pontos do globo”, pelo que, “na eventualidade de isso vir a acontecer, não será também complicado implementar alternativas”.
“Numa primeira fase, o impacto pode ter dimensão séria”, acrescentam. “Um cenário possível será passar a cobrar mais pelos serviços (não apenas económico, mas mesmo na qualidade de serviço prestado) para determinados clientes, por exemplo.”
Ainda que a legislação europeia seja uma garantia importante de que a internet como a conhecemos continuará, pelo menos para os cidadãos do Velho Continente, a funcionar como habitualmente, é da natureza das coisas que a lei é feita para ser violada. E provavelmente já foi no passado.
Nos EUA, existe uma única queixa formal de violação da neutralidade (um cliente da Verizon queixou-se em julho de 2016 de que a operadora estava a impedir o acesso ao serviço de pagamentos GoogleWallet para privilegiar o seu próprio serviço Isis Wallet). Mas, informalmente, dos dois lados do Atlântico são às centenas as histórias que se contam de serviços – normalmente da concorrência da operadora que fornece a ligação à net – que “misteriosamente” ficam mais lentos de um momento para o outro. Só que nada se prova, porque há sempre argumentos técnicos para o explicar... R.S.F.