O Rambo que nunca jogou pela seleção mas foi a duas fases finais
Guarda-redes viveu na sombra de Bento e Damas, mas esteve no Euro 1984 e no Mundial 1986. Aposentado, vai aproveitando a vida no Keeper Café, gerido pelo filho
DAVID PEREIRA JORGE MARTINS › Nasceu na Baixa da Banheira, no concelho da Moita, a 22 de agosto de 1954 (63 anos). › Percurso: Barreirense, V. Setúbal, Benfica, Farense, Belenenses e Quimigal. › Antigo guarda-redes, foi convocado para o Euro 1984 e para o Mundial 1986, mas não chegou a estrear-se pela seleção nacional. › Nascido na Margem Sul do Tejo, começou pelo Barreirense, pelo qual alinhou durante nove temporadas, com uma de intervalo no V. Setúbal. Em 1980, o clube caiu na III Divisão, mas o guardião deu o salto para o Benfica, onde viveu dois anos na sombra de Bento. Viria a reerguer-se no Farense, novamente no V. Setúbal, mas principalmente no Belenenses, vencendo uma Taça pelos azuis.
Jorge Martins viveu por dentro os ambientes de um conjunto nacional que atingiu as meias-finais do Europeu, no regresso de Portugal às fases finais 18 anos depois, e que se ficou pela fase de grupos de um Campeonato do Mundo marcado pelo caso Saltillo. “Em 1984, era uma treta. Era uma grande confusão entre os jogadores, com alguns casos de pancadaria. No entanto, em 1986, o ambiente em Saltillo era fabuloso, mas fizeram de nós uns criminosos. O que é certo é que a seleção nacional cresceu a partir daí. A guerra que travámos sempre serviu para alguma coisa”, vincou, nostálgico. Bastos Lopes deu-lhe a alcunha Após nove temporadas no Barreirense, com uma de intervalo ao serviço do Vitória de Setúbal, não conseguiu evitar a despromoção do clube do Barreiro à III Divisão em 1980, mas a boa época no plano individual catapultou-o para o Benfica.
Em dois anos na Luz jogou apenas duas partidas. “Estava lá o Ben- to, não tinha hipóteses. Não havia nada a fazer, era impossível”, disse. Ainda assim, de águia ao peito ganhou... uma alcunha. “O Alberto Bastos Lopes disse que eu parecia o Sylvester Stallone e a partir daí chamavam-me Stallone ou Rambo. Durante o Mundial do México, sempre que íamos a uma boate, era conhecido pelas fãs como Rambo”, recordou, bem-disposto, enquanto bebia imperiais no café do filho, que também foi guarda-redes mas em campeonatos secundários: “Era meu filho, o que complicava as coisas, porque havia muitas comparações.” Retoma em Faro e glória em Belém Após praticamente duas épocas sem jogar na Luz, Jorge Martins deu um passo atrás e rumou ao Farense, que competia na II Divisão. Não podia ter corrido melhor. Os algarvios foram promovidos e o guarda-redes valorizou-se, transferindo-se para o V. Setúbal.
Passou duas boas temporadas no Bonfim, mas foi no Restelo, entre 1985 e 1989, que atingiu o ponto alto da carreira. “Fomos a duas finais de Taça de Portugal. Em 1986, perdemos com o Benfica (0-2), mas em 1989 ganhámos por 2-1. Essa foi uma das melhores exibições da minha carreira. Todos falam do golo do Juanico, mas esquecem-se de que havia um gajo lá atrás”, lembrou o antigo guardião, que se recorda de outras grandes vitórias ao serviço dos azuis. “Ganhámos ao Barcelona para a Taça UEFA, em 1987-88. É um marco. Não é um título, mas é um grande orgulho”, confessou. “No ano seguinte, eliminámos o Bayer Leverkusen, vencendo no Restelo e na Alemanha”, prosseguiu. “Foram quatro anos fabulosos. Em 1987-88, ficámos em 3.º lugar, à frente do Sporting. Foi a melhor equipa do Belenenses em muitos anos”, considerou, lembrando a então formação comandada por Marinho Peres. Terminou nos distritais aos 41 anos Após quatro épocas em Belém, regressou ao Vitória de Setúbal, naquela que foi a sua terceira aventura no clube. Despediu-se do futebol profissional ao serviço dos sadinos, em 1992, mas voltaria a calçar as luvas quatro anos depois.
“Estava a disputar um campeonato de velhas glórias em Lisboa quando apareceu o Joaquim Meirim a convencer-me a jogar pela Quimigal (antiga CUF e atual Fabril do Barreiro), porque havia o risco de despromoção à II Divisão Distrital. Mesmo com mais de 90 quilos, aceitei o desafio, fiz cerca de dez jogos e conseguimos evitar a descida”, recordou, lamentando o estado do futebol no distrito de Setúbal, outrora um viveiro de craques. “Está de pantanas. Só temos o V. Setúbal, mas se tiver o azar de descer não se levanta mais”, vaticinou.