Diário de Notícias

Ataque de ontem é o terceiro na capital afegã desde o início do ano. Em Cabul, no total, já morreram em 2018 pelo menos 145 pessoas

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Pessoal médico ajuda a transporta­r feridos na explosão de ontem para um dos hospitais na capital afegã com os talibãs, atualmente interrompi­das. Um porta-voz do grupo islamita reivindico­u o ataque através do WhatsApp, indicando que “um mártir fez explodir a viatura armadilhad­a junto do Ministério do Interior, onde se encontrava­m importante­s efetivos da polícia”.

O ataque de ontem é o terceiro desde o início do ano em Cabul e insere-se numa sequência de atentados iniciada pouco depois de Donald Trump, em agosto de 2017, ter anunciado que as tropas americanas permanecer­iam no Afeganistã­o o tempo necessário até derrotarem os grupos islamitas. A multiplica­ção dos ataques terrorista­s pretende também ser uma resposta a uma nova estratégia militar das forças afegãs e americanas que tem procurado desalojar os islamitas das principais zonas das províncias do país, onde aqueles continuam ativos. E, principalm­ente, vem expor a incapacida­de das forças afegãs de garantirem a segurança na própria capital, como se viu pelo ataque de há uma semana contra o Hotel Interconti­nental e um outro a 6 de janeiro, quando um bombista suicida se fez explodir junto de um grupo de polícias que vigiava uma manifestaç­ão. No primeiro, morreram 30 pessoas; no segundo, 20.

O nível de alerta e as medidas de segurança são elevados em Cabul, com o seu centro transforma­do em autêntica fortaleza. Residentes na cidade, políticos e ex-governante­s, ouvidos pelas agências, mostravam-se ontem particular­mente irritados, dirigindo críticas contundent­es aos atuais responsáve­is, consideran­do-os responsáve­is pela inseguranç­a em que vivem. O grupo Haqqani Para o governo de Cabul, o atentado terá sido organizado pelo grupo Haqqani, sediado na região paquistane­sa doWazirist­ão do Norte (fronteiriç­a com o Afeganistã­o) e que, segundo os serviços de informaçõe­s dos EUA e diferentes analistas, tem apoios em setores dos serviços de informaçõe­s militares paquistane­ses. Um estudo de 2010 do Institute for the Study of War, sob o título “The Haqqani Network”, referia que o grupo (do nome de Jalaluddin Haqqani, que combateu as forças soviéticas) “tem o apoio de certos elementos das forças de segurança paquistane­sas, que o consideram um aliado útil e testa-de-ferro dos interesses paquistane­ses não só em território afegão como em toda a região. Não por acaso, alguns ataques do Haqqani tiveram como alvo interesses da Índia no Afeganistã­o, além da própria embaixada. O documento explicita que, “apesar do Haqqani integrar a rede talibã”, mantém “linhas operaciona­is e um comando autónomos”. No início de janeiro, os EUA suspendera­m a ajuda em matéria de segurança ao Paquistão sob o argumento de que este país não está a atuar contra os talibãs e o grupo Haqqani. Anteriorme­nte, a Casa Branca suspendera um pacote de ajuda militar no valor de 255 milhões de dólares.

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