Diário de Notícias

Flores para Sampaio Garrido e Carlos Branquinho

Coroa de flores homenageou os dois diplomatas portuguese­s que deram salvos-condutos a um milhar de húngaros

-

HOMENAGEM “Quando hoje há tanto desleixo e ignorância em relação aos refugiados de outras zonas, esta homenagem traz uma mensagem com especial significad­o”, comentou András Gulyás, o embaixador húngaro que serviu em Portugal quando o então presidente húngaro, Árpád Göncz, fez a primeira homenagem aos diplomatas portuguese­s Sampaio Garrido e Carlos Branquinho.

Falando em português e sem ajuda de qualquer escrito, András Gulyás falou do memorial que, a poucas centenas de metros, recorda os homens e mulheres assassinad­os pelo poder nazi nos dias anteriores à chegada do exército soviético a Budapeste: sapatos por eles deixados à beira do Danúbio, para onde foram atirados depois de executados a tiro. Podia ter dito apenas isto, mas foi além: o memorial, disse, “encontra-se por este rio acima, parafrasea­ndo Fernão Mendes Pinto e Fausto”.

Uma coroa de flores verdes e vermelhas foi colocada no local onde em 1944 funcionou a Embaixada de Portugal em Budapeste, numa homenagem aos dois diplomatas que deram salvos-condutos a cerca de mil húngaros, na maioria judeus, e assim evitaram que fossem assassinad­os. Estes refugiados voaram de Budapeste para Lisboa, e entre eles estavam cinco elementos da família Gabor, incluindo as atrizes Zsa Zsa e Eva e o empresário Paul Sachs (fundador do Goldman Sachs), que depois foram para os Estados Unidos. Já antes tinham sido enviados para Auschwitz 437 mil húngaros.

A homenagem foi promovida pelo Festival Terras sem Sombra e pela embaixador­a de Portugal Maria José Morais Pires, e todas as palavras foram de contenção, com a emoção à flor da pele. Além da diplomata, que recordou o embaixador Carlos Sampaio Garrido e o encarregad­o de negócios Alberto Carlos Branquinho, e de András Gulyás, falaram ainda o diretor-geral do festival, José António Falcão, e o jornalista húngaro Endre Simó, que foi correspond­ente em Lisboa de 1974 a 1977. “Temos de fazer tudo para evitar que esta triste época histórica volte”, disse este último também em português, com um agradecime­nto a Portugal pela ação “dos vossos diplomatas abnegados e heroicos”.

No mesmo local estão placas evocativas dos diplomatas portuguese­s, colocadas em 1998, quando de uma visita a Budapeste de António Guterres, então primeiro-ministro. A.S.D.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal