A verdade é esta: chego à peixaria e, se vejo muitas cores, desanimo. Peixe a sério, peixe magnífico, é cinzento
Imagine-se: peixe de segunda, a abrótea... Sempre gostava de ver o que chamaria um lisboeta a uma juliana.
O peixe dos Açores é tão diversificado e omnipresente que até o há domesticado. Durante anos, diferentes pessoas, em diferentes ilhas, mantiveram meros como animais de estimação. Mergulhavam à volta da rocha do costume e ficavam ali, não sei quanto tempo, a alimentar e a afagar o seu mero de 70 quilos. E quem duvide pode ir ao Silveira – sempre ele – fazer festas ao Silveirinha, que está num aquário, mas imbuído de espírito de missão. Desde que conheço o Silveirinha, nunca mais consegui comer uma salada de mero. Pergunto sempre se não há antes de rocaz.
Isto só sobre os peixes, note-se. Dos mariscos é melhor nem falar.
No fim, se alguma coisa lamento na fauna marinha destas ilhas é haver tão pouca sardinha. E não aparecer mais peixe-galo. E às vezes o alfonsim ser vendido como imperador. Ainda há dias fiz um figurão ao explicar a uma vendedora porque é que aquele peixe que tinha à venda não era todo imperador, mas algum dele alfonsim. No fim não trouxe nenhum, porque gosto cada vez menos deles também – são vermelhos. Até porque o que eu queria era um chicharro do alto. Cada dia em que não há chicharro do alto, nesta momento, é um dia em que me apetece trazer frango.
Juro: amanhã, se não houver chicharro do alto, vou aos congelados ver se há perca do Nilo – só por vingança.