INCIDENTES REGISTADOS NA SAÚDE DUPLICARAM EM DOIS ANOS
Dados da DGS mostram que no ano passado registaram-se 678 casos de violência contra profissionais de saúde
O número de registos de incidentes nos serviços de saúde mais do que duplicou desde 2015 até ao final do ano passado: passou de um total de 1834 para 4395 (um aumento de 140%) participações na plataforma NotifiQ@, da Direção-Geral da Saúde, ativa desde 2013. A esmagadora maioria (94%) das notificações partiu dos próprios profissionais de saúde, em grande parte devido a acidentes a envolver doentes, desde quedas até cortes ou intoxicações. Já os cidadãos queixam-se mais da segurança dos procedimentos clínicos. Os dados mostram ainda que no ano passado registaram-se 678 casos de violência contra profissionais de saúde, num total de 3303 notificações desde que o sistema arrancou.
A DGS sublinha que o aumento de registos – que faz parte do relatório do 4.º trimestre de 2017, ao qual o DN teve acesso – não quer dizer que o número de incidentes esteja a aumentar, apenas que há mais sensibilidade dos profissionais para o tema. Em entrevista ao DN, o diretor do Departamento da Qualidade na Saúde frisa que o sistema existe para as autoridades de saúde terem uma noção nacional do tipo de incidentes que são notificados e para, depois de analisar as principais causas, tomar medidas para corrigir os problemas. As quedas são um dos principais exemplos. “É o produto que põem no chão que não é antiderrapante? Não têm o cuidado de pôr grades nas camas dos doentes que estão mais agitados? Tem de se saber qual é a causa e depois tomar medidas corretivas, corretoras, para que sejam sistémicas para toda a instituição”, explica Alexandre Diniz.
Medidas que estão a ser aplicadas, destaca o especialista. “Nos últimos dois anos, houve um aumento no número de hospitais que têm estratégias de prevenção de quedas; 95% dos hospitais neste momento têm implementadas estratégias de prevenção de quedas e o número de auditorias internas que os hospitais fizeram a si próprios para a prevenção de quedas aumentou, nos últimos dois anos, de 1456 para 4910.”
Em termos gerais, o setor administrativo é o que merece menos reparos, enquanto a maioria dos casos aconteceu com enfermeiros, os profissionais que passam mais tempo com os doentes e que, talvez por isso mesmo, são também as maiores vítimas de agressões nos serviços de saúde: a classe é alvo de mais de metade (54%) da violência contra profissionais de saúde, enquanto os utentes são também na maioria dos casos (53%) os agressores. No entanto, há que referir que o assédio moral é largamente o mais denunciado (em 73% dos casos), enquanto a violência física corresponde a 11% das queixas.
Alexandre Diniz frisa que o sistema é completamente anónimo, não há qualquer possibilidade de saber com que profissional um incidente ocorreu. “O efeito persecutório não nos interessa. Para nós não é importante saber com quem ocorreu o incidente nem em que serviço ocorreu, nós queremos é saber porque é que aconteceu o incidente. E isto é importante porque aumenta a adesão à notificação.”