“Além de Mengele havia outro SS aqui na região”
Fez a sua tese final de curso sobre a presença de Josef Mengele em Serra Negra e mais tarde transformou-a em livro e em DVD. Porquê, sempre foi um assunto muito comentado na região? Não, as pessoas aqui nem gostam de falar disso. Eu é que sempre me interessei pela Segunda Guerra Mundial. E, de repente, ter a possibilidade de estudar a vida de dois SS aqui na região, saindo da bibliografia e mergulhando na realidade, foi muito interessante. Dois? Sim, descobri a presença de Gunther Schouppe, também muito reservado, como o Pedro Hungarez, o nome de Mengele por cá, que não recebia visitas e fechava sempre todos os portões da casa. Era um cabo das SS que conhecia Mengele e que se tornou um industrial milionário aqui. Construiu uma casa a dez quilómetros da do Mengele por cá, também com uma torre de observação no cimo. Essas torres podem ter sido inspiradas em Auschwitz? Quando visitei a casa onde Mengele morou, achei a torre de observação peculiar. Mais tarde, entrei em contacto com o Clube Hebraica, organização de judeus de São Paulo, e eles averiguaram que a torre, não sendo igual às de Auschwitz, até por questões de matérias-primas diferentes, é uma herança material de lá. Na pista de Mengele, andou também pelo Uruguai e pelo Paraguai... Fui ao Paraguai, onde encontrei o documento, que ainda guardo, da naturalização dele e em que garante perante a lei não ter antecedentes criminais, o que parece quase cómico. Descobri que ele havia tido uma relação muito próxima com o [ditador paraguaio Alfredo] Stroessner, que tinha nacionalidade alemã. Antes tinha casado com a cunhada, viúva do irmão, em Nueva Helvecia, perto de Colónia do Sacramento, no Uruguai, para se manter como herdeiro perante a família. J.A.M