Os jotas à espera do lado reformista de Rui Rio
PSD. Quatro representantes da Juventude Social Democrata estão confiantes na liderança de Rui Rio e criticam a atitude dos deputados que não votaram a favor da eleição de Fernando Negrão para líder da bancada. Numa altura em que a JSD também prepara um no
As diretas no PSD não lhe passaram ao lado, mas Margarida Balseiro Lopes optou por não declarar apoio a nenhum dos candidatos. Ainda o congresso estava na forma e já a candidata a líder da JSD nacional andava em campanha à procura de “conquistar Portugal”, como reza o slogan que escolheu. Se for bem sucedida, a partir de abril poderá ser a primeira mulher a liderar aquela estrutura partidária, na qual uma parte importante dos militantes se traduz numa juventude madura, a bater nos 30, idade-limite. Margarida está agora com 28, menos um do que o adversário André Neves, apoiante declarado de Rio nas eleições para o partido. Ela é deputada por Leiria na Assembleia da República, ele, de momento, é apenas líder da distrital de Aveiro da JSD e vice-presidente da nacional. Une-os apenas a confiança depositada no líder, uma grande expectativa para o novo ciclo do partido.
Margarida Balseiro Lopes, consultora fiscal, nascida e criada na Marinha Grande, sublinha que “o novo líder tem uma grande preocupação com as questões sociais, pese embora seja economista”. Acredita que Rui Rio “tem a perfeita noção de que uma das áreas em que este governo mais tem falhado se traduz numa degradação dos serviços públicos, em que é exemplo o que está a acontecer na Educação, com a falta de assistentes operacionais; ou na Saúde”. Margarida socorre-se das declarações do bastonário da Ordem dos Médicos, durante esta semana, a apontar a falta de concursos para a colocação de especialistas, para exemplificar aquilo que espera do novo líder do partido. “Este tipo de situações terá de ser denunciada. É a própria sobrevivência e integridade do Estado social que está em causa. E não tenho dúvidas de que isso irá marcar a nova liderança.” Olha para o presidente do partido como “uma pessoa bastante assertiva, sem floreados, sem pruridos em dizer o que pensa” e encara essas características como um fator “muito positivo”. Ela que é a mais jovem deputada da sua bancada na AR, deposita nele toda a esperança para desmontar “muito do que é a realidade que se vive em Portugal, e que é negada ou escondida por quem tem a responsabilidade de conduzir os destinos do país”.
À distância de quase 300 quilómetros dos meandros da AR, André Neves divide com Margarida Balseiro Lopes essa esperança. E no que toca às expectativas do que será este tempo novo no PSD, é muito mais o que os une do que aquilo que os separa. André, 29 anos, advogado, gosta de lembrar que já passou “por aquilo que a maior parte dos jovens passaram, para combater o corporativismo da Ordem dos Advogados”. Instalado no seu próprio escritório, divide o tempo político entre a liderança da jota distrital e a vice-presidência da nacional. Apoiou Rio, e com o final do congresso reforçou a certeza de que “os militantes – e a po-
pulação – veem com grande expectativa a nova liderança”. De resto, olha para o ex-autarca do Porto como “o líder certo, para que Portugal tenha um governo que a médio prazo consiga pôr mais dinheiro na carteira dos portugueses. E colocar o país em convergência com o caminho da União Europeia”.
A atual líder da JSD do Porto, Sofia Matos, é natural da Trofa – que chegou a ser a secção social-democrata mais numerosa do país. Também ela optou por não declarar apoio a nenhum dos candidatos, ao contrário do que fizeram o líder da concelhia da sua terra natal, Alberto Fonseca (apoiante de Rio) e o presidente da câmara, Sérgio Humberto (apoiante de Santana). Nas eleições para a JSD Sofia está ao lado de Margarida Balseiro Lopes e reforça as palavras da candidata no que respeita à esperança no futuro laranja, que querem estender ao país. “Estou extremamente confiante e muito esperançada”, disse ao DN, certa de que a transição não será fácil, “mas a liderança de Rui Rio será muito forte”. Advogada, 27 anos, acredita que nos próximos tempos a atuação de Rio “irá pautar-se por unir o partido (primeiro) e depois mostrar-se como alternativa sólida à atual governação da esquerda em Portugal”.
Na distrital de Coimbra, José Miguel Ferreira também está otimista. Apoiante de Rio desde a primeira hora – e do amigo André Neves para a JSD – começa por lembrar ao DN que foi um grande apoiante de Passos Coelho (diretor de campanha dele, até). Fica-lhe desse tempo de governação “um grande orgulho da libertação do país da ajuda externa e da grande credibilização que ele trouxe à política”, e por isso entende a escolha de Rui Rio como a opção que “vem cimentar essa credibilidade, de que o país precisa”. Igualmente advogado, para ele é lei “a seriedade, a pessoa credível e rigorosa que é o Dr. Rui Rio. Isso é inquestionável em qualquer setor da sociedade portuguesa”, diz. Aprecia-lhe a credibilidade, a coragem que o torna “capaz de combater um governo apenas preocupado com a espuma dos dias, incapaz de reestruturar o país. Se há pessoa que nos dias de hoje tem essa capacidade é ele, com o histórico de reforma que carrega”. Bom augúrio, mau início na bancada Em diferentes papéis e posicionamentos, os quatro jovens que o DN ouviu acompanharam também a atribulada eleição de Fernando Negrão para líder da bancada do PSD no Parlamento. Margarida Balseiro Lopes estava lá, mas ela própria não percebeu o sucedido. Espera por isso que o PSD emende a mão no que toca estes percalços. “A partir do momento em que há um candidato, o nosso objetivo é salvaguardar a integridade do grupo parlamentar, fundamental para o combate político, nos vários debates que vão sendo mantidos. Por isso tenho dificuldade em perceber o que se passou. Devemos assumir que há um presidente eleito, agora é trabalhar.”
Já André Neves sublinha a importância de internamente “as pessoas terem a capacidade de pôr de lado o mal-estar e os interesses pequeninos e pessoais, para dar lugar ao interesse coletivo do partido e do país”. É por isso que vê “com muito maus olhos aquilo que os deputados fizeram. Isso vem confirmar aquilo que é o caminho de descrédito que por vezes a política toma. E a culpa é dos deputados. Que não sabem incorporar o que é a vontade popular. Foi feio o que aconteceu. Um grupo parlamentar deve estar em consonância com o partido”, conclui.
Também José Miguel Ferreira lamenta que “nem todos tenham percebido o importante sinal dado no congresso por Rui Rio e Santana Lopes de que na divergência é possível haver convergências”. “Grande parte do grupo parlamentar do PSD não deu o mesmo sinal, o que é lamentável”, enfatiza o líder da distrital de Coimbra, que já foi vereador e é atualmente líder da bancada laranja na Assembleia Municipal de Miranda do Corvo. Acredita que com isto o PSD prejudica-se, Rui Rio nem tanto. Sabendo que Negrão fora apoiante de Santana, e mesmo assim indicando-o para líder da bancada, “isto reforça a ideia de que ele tem uma capacidade reformista tão grande que até internamente o faz”. Sofia Matos salienta a importância de “deixar de haver apoiantes para haver um só partido” que se abra à sociedade civil. “Agora é preciso pensar no futuro, perceber que o país está diferente e que precisamos de ir buscar o eleitorado que perdemos.”
“A partir do momento em que há um candidato, o nosso objetivo é salvaguardar a integridade do grupo parlamentar” MARGARIDA BALSEIRO LOPES “Isso vem confirmar aquilo que é o caminho de descrédito que por vezes a política toma. E a culpa é dos deputados”
ANDRÉ NEVES