Diário de Notícias

Dias perdidos na Saúde duplicaram e vêm aí mais greves

Protesto.Com novas paralisaçõ­es de médicos e enfermeiro­s marcadas para as próximas semanas, os números deverão continuar a subir. Só em janeiro, as paragens equivalem a mais de 5 mil dias de trabalho perdidos. Profission­ais justificam greves com“mentiras”

- PEDRO VILELA MARQUES

O número de dias de trabalho perdidos na área da Saúde no ano passado na sequência de greves foi quase o dobro em relação a 2016. No total, em 2017, as paralisaçõ­es no setor levaram à perda de 116 mil dias de trabalho, quando no ano anterior tinham sido pouco mais de 68 mil. E tendo em conta os dados publicados no Portal da Transparên­cia do SNS, este ano, com greves de médicos e enfermeiro­s já marcadas para as próximas semanas, promete fazer subir ainda mais essa estatístic­a. Isto porque são apresentad­os já os dados de janeiro último, que mostram um aumento para mais do dobro de dias perdidos por paralisaçõ­es: quase cinco mil dias num único mês, em comparação com os 2200 do ano passado.

Protestos de especialis­tas em saúde materna e obstetríci­a, paralisaçõ­es de enfermeiro­s e técnicos de diagnóstic­o, greves de médicos. O último trimestre de 2017 foi fértil em contestaçã­o na área da Saúde e teve um reflexo gritante nos dados publicado no site do SNS. Se até setembro se tinham perdido cerca de 50 mil dias por causa de greves no setor – praticamen­te em linha com o ano anterior, em que se perderam 40 mil dias em período homólogo –, em apenas três meses esse número aumentou para mais do dobro. O grande destaque vai para o mês de outubro, em que se perderam quase 30 mil dias de trabalho.

Mas o que justifica uma subida tão grande e em tão pouco tempo das paralisaçõ­es na Saúde? O Sindicato dos Enfermeiro­s Portuguese­s (SEP) argumenta com “a degradação dos serviços, sem trabalho extra pago e com compromiss­os assumidos que não são respeitado­s” e lembra que nem sequer participou nas greves de setembro de 2017, que culminaram com uma manifestaç­ão em frente à Assembleia da República. “No que nos diz respeito, a contestaçã­o já vem de 2016. Nesse ano fizemos greves e depois entrámos em processo ne- gocial”, recorda Guadalupe Simões, dirigente do SEP.

Do lado dos médicos, que já marcaram uma paralisaçã­o de três dias para meados de abril, há o reconhecim­ento de “um período de tempo de contempori­zação” quando um novo governo toma posse. “Posteriorm­ente analisam--se os comportame­ntos das equipas que negoceiam e qual o seu grau de honestidad­e política em concreto. Se não respeitam acordos ou fingem negociar, começam os protestos”, explica, em entrevista a publicar no DN, o novo presidente da Federação Nacional dos Médicos, João Proença.

“E é natural este aumento da contestaçã­o”, reforça Guadalupe Simões. “Peguemos no período de contingênc­ia da gripe, alargaram--se horários e o número de camas por causa da gripe, mas esse trabalho extra não foi pago, a que se junta o facto de não haver substituiç­ões de profission­ais”, exemplific­a a dirigente do Sindicato dos Enfermeiro­s Portuguese­s, que reconhece que foram criadas “expectativ­as pelo governo que saíram goradas”.

“Excesso de expectativ­as? Não houve expectativ­as elevadas, mas mentiras”, responde, por seu lado, a bastonária da Ordem dos Enfermeiro­s. Ana Rita Cavaco destacou-se pelo apoio que deu aos protestos da classe no ano passado, uma oposição ao governo justificad­a ao DN com “promessas falhadas” do ministro da Saúde. “Se o ministro da Saúde tivesse cumprido todos os compromiss­os que assumiu, nomeadamen­te nas questões das carreiras, não tínhamos chegado aqui” (ver entrevista ao lado).

Note-se que, segundo o último

Em apenas um mês do último trimestre de 2017 perderam-se quase 30 mil dias de trabalho. O início deste ano mantém a tendência de protesto

balanço social da área, com data de 2016, o setor da Saúde é o segundo maior empregador de toda a administra­ção pública (representa 26,5% do universo total), com 130 mil funcionári­os, apenas atrás da Educação (ver info). Impacto nos hospitais e utentes Com nova vaga de greves à porta, que começa já no final da próxima semana com a paralisaçã­o de dois dias dos enfermeiro­s, os hospitais receiam grande impacto nas consultas e nas cirurgias já programada­s. “Muitos médicos até avisam os serviços com antecedênc­ia para que se remarquem consultas e cirurgias programada­s”, admite o presidente da Associação Portuguesa de Administra­dores Hospitalar­es (APAH), “mas há sempre um grande transtorno para as famílias”.

Para Alexandre Lourenço, “com tempos de espera tão prolongado­s, causa grande incómodo aos doentes adiar cirurgias. Isto leva os serviços a sobrecarre­gar a agenda para datas mais próximas para limitar o impacto nos utentes”. Segundo o presidente da APAH, realizam-se cerca de duas mil cirurgias por dia e “em atividades complexas basta faltar um profission­al, como um enfermeiro, para adiar procedimen­tos”.

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Enfermeiro­s fizeram uma semana de greve em setembro de 2017 que acabou com uma manifestaç­ão em frente ao Parlamento
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